O Oscar, a mais tradicional e popular premiação do mundo do cinema, atravessa uma importante renovação nos últimos anos. Diante da mobilização gerada por movimentos como o “Oscars so white” (“Oscar super branco”) e o “Me too” (“Eu também”, sobre assédio sexual), a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas (AMPAS), responsável por conferir a honraria, vem adotando nos últimos anos medidas para se tornar mais democrática e inclusiva. Na esteira de mudanças promovidas pela instituição, a categoria de “Melhor Filme Estrangeiro” teve seu nome alterado para “Melhor Filme Internacional”.
De acordo com o site da Academia, os dirigentes do comitê responsável por selecionar os indicados ao prêmio afirmaram que o termo “estrangeiro” estava ultrapassado dentro da comunidade cinematográfica mundial. Mas o que isso quer dizer realmente? Seria o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro um prêmio verdadeiramente democrático e abrangente? O que é necessário para conquistar o prêmio? Tal estatueta faz justiça às cinematografias internacionais?
A “ameaça inglesa”
Ao final dos anos 1940, a presença de produções estrangeiras nas listas de indicações ao Oscar alarmava a imprensa estadunidense. Jornalistas influentes no meio artístico se perguntavam o porquê de a Academia, sediada nos Estados Unidos, conferir tanta relevância às produções estrangeiras. O debate logo ganhou maior repercussão, chegando a círculos de empresários e políticos que investiam no setor. Curiosamente, a maior preocupação não recaía sobre obras faladas em outros idiomas, mas sobre um país de língua inglesa visto como concorrente direto pela hegemonia na indústria cinematográfica hollywoodiana: o Reino Unido.
Os britânicos estiveram presentes no Oscar desde as primeiras cerimônias. Nos anos 1930, atores daquele país conseguiram várias indicações ao prêmio por trabalhos em produções hollywoodianas. Foi o caso de Charles Laughton, Elizabeth Bergner, George Arliss, Leslie Howard e Merle Oberon. O suposto favorecimento dos “estrangeiros” pela Academia levou o ator Paul Muni a declarar, com notável exagero, que “estadunidenses não gostam de atores estadunidenses” – uma declaração bastante curiosa, levando-se em consideração que Muni nascera no Império Austro-Húngaro.
A concorrência britânica espalhou-se para outras categorias nos anos seguintes. Na cerimônia de 1946, a predominância de produções britânicas causou alarde na imprensa. Os filmes “Henrique V” (Henry V, 1944), “Desencanto” (Brief encounter, 1945) e “O sétimo véu” (The seventh veil, 1945), sucessos de público e crítica nos Estados Unidos, somaram oito indicações e uma vitória – Melhor Roteiro Original para a última produção. Tamanho sucesso levou a revista Variety, especializada em cinema, a escrever, em letras garrafais: “A GRANDE AMEAÇA AO OSCAR PELOS BRITÂNICOS”.
Alarmados, os jornalistas hollywoodianos apontaram Laurence Olivier como o nome a ser temido. Conhecido do público estadunidense como o protagonista de filmes de sucesso como “Rebeca – A mulher inesquecível” (Rebecca, 1940), Olivier foi a força motriz na adaptação de “Henrique V”, uma das grandes peças teatrais de William Shakespeare, para os cinemas. Embora o filme não tenha vencido em nenhuma das quatro categorias as quais foi indicado, Olivier recebeu um Oscar honorário por seus trabalhos como produtor, diretor, roteirista e intérprete do personagem-título.
Três anos mais tarde, Olivier voltou a causar furor em Hollywood com a adaptação daquele que é considerado o maior trabalho de Shakespeare: “Hamlet” (1948). Novamente, ele cumulou as funções desempenhadas em “Henrique V” e reuniu boa parte da equipe que participara do primeiro filme. Decidido a conquistar o Oscar, Olivier trabalhou em um roteiro que pudesse atrair os espectadores estadunidenses e investiu em uma pesada campanha de divulgação. Curiosamente, segundo explicam os pesquisadores Mason Wiley e Damien Bona, o distribuidor hollywoodiano não se engajou na corrida pelo Oscar, pois considerava o filme demasiado trágico e sombrio para o gosto da Academia.
Contrariando as perspectivas, “Hamlet” se tornou um sucesso e recebeu sete indicações ao Oscar, incluindo Melhor Filme, Melhor Diretor e Melhor Ator – todas para Olivier. No mesmo ano, outra produção britânica despontou entre os concorrentes ao prêmio principal e outras quatro categorias: tratava-se de “Os sapatinhos vermelhos” (The red shoes, 1948), filme sobre uma jovem bailarina dividida entre o amor e o sucesso profissional.
A cerimônia de 1949 sagrou “Hamlet” o grande vencedor da noite. O filme recebeu quatro estatuetas, incluindo Melhor Filme e Melhor Ator, desbancando o favorito “O tesouro de Sierra Madre” (The treasure of Sierra Madre, 1948). “Os sapatinhos vermelhos” também venceu em duas das categorias que disputava. Na manhã seguinte, parte da imprensa destilou comentários que iam de pouco lisonjeiros a abertamente xenofóbicos contra ambas as produções.
Apesar da comoção inicial, a polêmica perdeu forças nos anos seguintes, de modo que filmes britânicos passaram a competir de igual para igual com produções hollywoodianas. Tais obras deixaram de ser consideradas “estrangeiras”, valendo-se não apenas do fato de compartilharem o idioma do público estadunidense, mas também devido a proximidades históricas e culturais entre ambos os países. Todavia, títulos provenientes de outros países acabaram sendo restritos a uma categoria criada exclusivamente para os “forasteiros”.
Um reconhecimento tardio
Duas décadas se passaram entre a primeira cerimônia do Oscar até a criação de uma categoria especial para filmes que não tinham o inglês como idioma padrão. Nesse período, apenas seis produções “estrangeiras” receberam indicações ao prêmio, sendo que apenas duas conquistaram a estatueta[1].
O número reduzido causa estranhamento quando levamos em consideração que, ao início do século XX, países como França, Alemanha, Itália, Suécia, União Soviética e Japão apresentavam indústrias nacionais bem estruturadas, além de movimentos artísticos e intelectuais que pensavam as potencialidades do cinema. O que explicaria a ausência das obras desses (e de outros) países entre os indicados ao prêmio?
Na primeira metade do século XX, os grandes estúdios hollywoodianos adotaram medidas protecionistas para preservar o mercado consumidor estadunidense. Entre tais medidas, estavam taxas de importação e limites à exibição de títulos “estrangeiros”. Assim, até o início dos anos 1950, as “produções estrangeiras” tinham uma penetração reduzida nos Estados Unidos, muitas vezes, se restringindo a círculos da crítica especializada ou espaços de exibição independentes. A única nação livre de tais restrições era o Reino Unido, cuja indústria mantinha fortes relações com Hollywood e pleiteara, com sucesso, a isenção de tais medidas.
Foi apenas na vigésima cerimônia do Oscar, em 1948, que a Academia estabeleceu a categoria de Melhor Filme Estrangeiro. Inicialmente, se tratava de um prêmio honorário – isso é, não-competitivo – escolhido arbitrariamente por um grupo de membros da instituição. O primeiro vencedor foi “Vítimas da tormenta” (Sciuscià, 1946), importante título do Neorrealismo Italiano. Em vez de a estatueta trazer o nome do produtor, como é hábito nos vencedores da categoria de “Melhor Filme”, ela foi conferida ao diretor, como forma de simbolizar uma vitória de todo o país de origem da obra. Trata-se ainda de uma categoria estabelecida tardiamente se considerarmos que associações de críticos de cinema, como a National Board of Review e o New York Film Critics Circle, concediam prêmios a “filmes estrangeiros” desde os anos 1930.
A bibliografia consultada oferece poucas informações sobre a criação do Oscar de Melhor Filme Estrangeiro. Wiley e Bona acreditam que a iniciativa pode ter sido motivada pelo fato de “Vítimas da tormenta” – sucesso de crítica e vencedor de prêmios dentro e fora dos Estados Unidos – ter recebido uma única indicação na cerimônia de 1948, por Melhor Roteiro Original. De acordo com os autores, estudiosos e profissionais do mundo do cinema questionavam como produções hollywoodianas de menor qualidade haviam angariado múltiplas indicações, enquanto a obra de Vittorio de Sica concorria em uma única categoria.
Ao ser questionado sobre as omissões, o diretor da cerimônia Delmer Daves levantou dois pontos cruciais para entendermos a posição que a categoria de Melhor Filme Estrangeiro ocupou no Oscar por um longo período: 1) a maioria dos votantes provavelmente não havia assistido a “Vítimas da tormenta” (ou a qualquer filme que não fosse falado em inglês); e 2) o ramo dos roteiristas vinha se organizando para garantir um maior reconhecimento das produções internacionais. Diante da pressão externa, “Vítimas da Tormenta” recebeu um prêmio especial na noite do Oscar. Assim, a criação da categoria parece ter ocorrido muito mais por questionamentos externos do que, propriamente, pelo interesse da Academia em reconhecer os méritos de produções de outros países.
O crítico de cinema Michael S. Barrett destaca que a Academia preservou o caráter honorário do Oscar de Melhor Filme Estrangeiro até o ano de 1955. Por se tratar de uma categoria não-competitiva, cabia a um grupo restrito da Academia selecionar o vencedor, sem que houvesse uma lista de indicados. Nesse período, um grupo pequeno de países, composto por Itália, Japão e França, dominou a premiação. Embora os votantes tenham reconhecido títulos importantes como Ladrões de bicicleta (Ladri di biciclette, 1948), Rashomon (Idem, 1950) e Jogos Proibidos (Jeux interdits, 1952), a categoria carecia de constância ou regras claras. O cenário mudaria apenas com a instituição do prêmio como categoria competitiva.
Entre méritos e polêmicas
O sociólogo Emanuel Levy destaca que foi o crescimento das indústrias cinematográficas fora dos Estados Unidos que motivou o estabelecimento de uma categoria competitiva para Melhor Filme Estrangeiro. A esse fator, podemos somar a decadência das estratégias protecionistas utilizadas pelos grandes estúdios hollywoodianos, o que favoreceu a entrada de produções de outras partes do globo no país. Diante da variedade de títulos que chegavam aos cinemas, tornou-se candente encontrar um espaço para os “forasteiros” no Oscar.
A nova categoria tinha regras próprias, conforme menciona Barrett. Todos os países do globo, com a exceção dos Estados Unidos, poderiam apresentar candidatos ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro, desde que o processo adotasse as seguintes regras: 1) cada nação poderia indicar uma única obra por ano; 2) os diálogos deveriam ser majoritariamente falados em um idioma que não o inglês; 3) o país responsável pela indicação deveria deter o maior controle sobre o processo de produção do filme; 4) havia uma data limite para que os títulos escolhidos fossem apresentados à Academia, com legendas em inglês.
Caso os indicados atendessem a todos os critérios, estariam aptos a participar de uma nova seleção conduzida pela Academia. Essa segunda fase ficava a cargo da Board of Governors – formada pelos diretores da instituição e representantes dos ramos de profissionais que compõem a organização – ou de um Comitê para Filmes em Língua Estrangeira. Cabia a esses grupos decidir os cinco finalistas ao prêmio e, posteriormente, eleger o vencedor por meio do voto secreto.
Embora a instituição do Oscar de Melhor Filme Estrangeiro possa ser considerada um avanço, a criação da categoria também foi marcada por polêmicas. A restrição à escolha de um único representante por país gerou descontentamento, especialmente entre as nações que contavam com indústrias cinematográficas mais bem estruturadas. Para muitos profissionais, tal medida acabava por restringir a participação estrangeira na cerimônia e estimulava uma grande competição nos países “estrangeiros”.
O poder econômico das indústrias cinematográficas europeias, soviética (e posteriormente, russa) e japonesa também garantiu a predominância desses países na premiação. Tais países encontravam mais facilidade em exportar suas produções, garantindo prêmios no cenário internacional, os quais serviam para alavancar as chances de indicação ao Oscar. Até os dias atuais, a Itália conquistou o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro catorze vezes, sendo seguida pela França, com doze vitórias. Empatados em terceiro lugar, surgem Japão e Espanha, com quatro prêmios cada.
Tais números indicam que os membros da Academia concentraram seu interesse em cinematografias tradicionais, enquanto filmes provenientes da América Latina, África e Ásia permaneceram à margem da premiação. Em alguns casos, nem mesmo a produtividade serviu para conquistar um maior espaço no Oscar. Tomemos como exemplo a Índia – o país apresenta uma das mais profícuas indústrias cinematográficas do mundo, porém, concorreu à estatueta em apenas três ocasiões, sem jamais ter vencido. Ao longo de mais de sete décadas do prêmio de Melhor Filme Estrangeiro, apenas oito nações de fora do eixo Europa-Japão-Rússia receberam a estatueta: Argentina (duas vezes), Irã (idem), África do Sul, Argélia, Canadá, Chile, Costa do Marfim e Taiwan. Há, portanto, muitas ausências.
Cada país apresenta um modelo próprio para definir seus candidatos ao prêmio. No Brasil, por exemplo, a atribuição cabe atualmente a um comitê especial formado pela Academia Brasileira de Cinema. Os processos nacionais de seleção, porém, são permeados por críticas sobre supostos favorecimentos e apadrinhamentos. Um dos casos mais emblemáticos foi o do épico japonês “Ran” (1985), dirigido por Akira Kurosawa. O filme não foi selecionado como representante do Japão na categoria. Contudo, quando as indicações da cerimônia de 1986 foram anunciadas, “Ran” surgiu como finalista em outras quatro categorias e acabou por vencer o prêmio de Melhor Figurino para Emi Wada.
Outro ponto de grande polêmica na categoria é o chamado controle sobre a produção. Historicamente, é comum que filmes patrocinados por produtores de diferentes países sejam indicados ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro, contudo, ele deve figurar como representante de uma única nação. Isso já gerou situações anômalas, incluindo com o Brasil. Em 1959, o filme “Orfeu Negro”, foto principal deste artigo, venceu o prêmio. Trata-se da adaptação de uma peça teatral de Vinicius de Moraes, falada em português, filmada no Rio de Janeiro, com um elenco majoritariamente formado por jovens atores afro-brasileiros. No Oscar, porém, o filme apareceu como representante da França, principal patrocinadora do projeto e país de origem do diretor Marcel Camus.
O mesmo ponto também já gerou desclassificações. Em 1992, o Uruguai conquistou sua primeira indicação na categoria pelo filme “Um lugar no mundo” (Un lugar en el mundo, 1992). A mesma obra, contudo, havia figurado em outros prêmios internacionais como representante da Argentina, o que levou a Academia a conduzir uma investigação. Por fim, a AMPAS invalidou a candidatura e retirou o título da corrida pelo prêmio, após constatar que o Uruguai não tinha “controle suficiente” sobre a produção. O diretor Adolfo Aristarain recorreu na justiça contra a decisão, argumentando se tratar de uma coprodução entre os dois países e destacou ter buscado apoio uruguaio após o comitê argentino ter selecionado outro candidato à vaga. Um tribunal da Califórnia constatou que, embora houvesse brechas nas regras da categoria, a Academia havia seguido seus estatutos. No ano seguinte, a instituição publicou um novo estatuto a fim de tornar o processo mais claro.
Outro fator que demonstra a singularidade da categoria de Melhor Filme Estrangeiro é que, por décadas, o processo de seleção elencado por Barrett valia exclusivamente para esse prêmio. Por outro lado, uma produção estrangeira só estava apta a concorrer nas demais categorias após ser oficialmente lançada na cidade de Los Angeles, conforme estipulavam as regras da Academia. Isso acabou por gerar uma situação inusitada que se repetiu em diversas cerimônias: era possível que uma obra concorresse ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro em um ano e, anos mais tarde, fosse indicada a outras estatuetas.
Foi o caso de “A pequena loja na rua principal” (Obchod na Korze, 1965), que venceu o prêmio de Melhor Filme Estrangeiro para a Checoslováquia na cerimônia de 1966 e obteve uma indicação ao Oscar de Melhor Atriz em 1967, para Ida Kaminska. O clássico italiano “Amarcord” (1973), de Federico Fellini, também passou pela mesma situação, conquistando a estatueta de Melhor Filme Estrangeiro em 1974 e recebendo indicações a Melhor Diretor e Melhor Roteiro Original no ano seguinte. Atualmente, as regras da Academia impedem que casos assim voltem a ocorrer. A atuação do Comitê da AMPAS responsável por determinar os cinco finalistas é outro ponto polêmico na história do prêmio. Esse grupo acabou consolidando certas predileções, o que levou algumas organizações a se perguntarem se haveria uma “fórmula” para ganhar o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro. Tomemos como exemplo a questão da Segunda Guerra Mundial: das 73 produções premiadas até hoje, dez são ambientadas durante o conflito, enquanto cinco abordam a escalada de tensões que levou ao embate, e outras três tratam – de forma direta ou indireta – os efeitos do conflito na Europa pós-1945.
Nos anos 2000, as predileções do Comitê estiveram novamente sob ataque. Em 2003, a imprensa questionou como “Cidade de Deus” (2002), indicado em quatro categorias na cerimônia daquele ano, havia falhado em conseguir espaço na premiação de Melhor Filme Estrangeiro na cerimônia anterior. A fim de conferir maior transparência ao processo, a Academia passou a divulgar, a partir de 2006, uma lista prévia contendo os nove candidatos mais votados pelo Comitê, a partir da qual seriam definidos os finalistas.
A medida, contudo, desembocou em novas polêmicas: no ano seguinte, o francês “Persepolis” (2007) e o romeno “Quatro meses, três semanas e dois dias” (4 luni, 3 săptămâni și 2 zile, 2007), considerados favoritos ao Oscar, sequer entraram na lista. Diante dos questionamentos, um novo processo foi estabelecido em 2007. A Academia preservou a lista prévia com nove nomes, porém, modificou os procedimentos de seleção. O Comitê foi dividido em duas partes: um comitê de caráter geral, com a atribuição de assistir a todos os filmes e indicar seis obras; e um comitê executivo, com o papel de verificar possíveis omissões e determinar outros três candidatos. Ainda assim, um grupo restrito continuou a definir os finalistas e vencedores do prêmio.
Enfim, a festa internacional do cinema?
O nome Melhor Filme Internacional não foi a única mudança promovida na categoria nos últimos anos. A Academia também vem ampliando o número de votantes nos processos de seleção, a fim de diminuir as polêmicas e tornar o conjunto de finalistas mais diversos. A lista prévia também aumentou de tamanho, passando para dez filmes em 2019 e quinze em 2020. Isso permitiu que indústrias cinematográficas de fora do eixo Europa-Japão-Rússia ganhassem mais notoriedade ao conseguir suas primeiras indicações e estatuetas.
Tornar a lista de indicados mais diversa é um verdadeiro desafio, levando-se em consideração que apenas cinco filmes estarão na disputa final e que as indústrias cinematográficas tradicionais continuam lançando títulos de inegável qualidade. Nesse cenário, alguns países têm compreendido melhor a importância da ampla divulgação de suas produções, bem como do engajamento nas tradicionais campanhas que antecedem a premiação.
Foi esse contexto de maior reconhecimento dos trabalhos estrangeiros por parte da Academia, somado a uma maior mobilização de governos, estúdios e empresários de outros países na corrida do Oscar que possibilitou um feito sem precedentes na cerimônia de 2020. Naquele ano, “Parasita” (Gisaengchung, 2019) se tornou não apenas a primeira produção sul-coreana a ser indicada e vencer o prêmio de Melhor Filme Estrangeiro, como a primeira obra estrangeira a conquistar a estatueta de Melhor Filme. Trata-se de um acontecimento louvável e que demonstra o interesse da Academia em se aproximar das cinematografias de outros países. Aparentemente, após quase cem anos de história, o Oscar parece pronto para fazer justiça à alcunha de “festa mundial do cinema”.
Notas
[1] Foram indicados, na seguinte ordem: os franceses “A nós a liberdade” (A nous, la liberté, 1931); em Melhor Direção de Arte, “A grande ilusão” (La grande illusion, 1937), como Melhor Filme; e “Filhos do Paraíso” (Les enfants du paradis, 1945), como Melhor Roteiro Original; e o italiano “Roma, cidade aberta” (Roma cittá aperta, 1945), como Melhor Roteiro Adaptado. Venceram o Oscar: o soviético “Moscow strikes back” (Razgrom Nemetskikh Voysk Pod Moskvoy, 1942), na categoria Melhor Documentário e o suíço “Marie-Louise” (Idem, 1944), na categoria Melhor Roteiro Original.
Referências
ACADEMY announces rules for 92nd Oscars. Disponível em: https://www.oscars.org/news/academy-announces-rules-92nd-oscars. Acesso em: 01/03/2022.
BARRETT, Michael S. Foreign language films and the Oscar: the nominees and winners,
1948–2017. Jefferson: McFarland & Company, Inc., 2018.
BORDWELL, David; STAIGER, Janet; THOMPSON, Kristin. The classical Hollywood cinema: Film style & mode of production to 1960. Londres: Routledge, 1988.
LEVY, Emanuel. And the winner is: Os bastidores do Oscar. São Paulo: Trajetória Editorial, 1990.
PRINCE, Stephen. The warrior camera: the cinema of Akira Kurosawa. Princeton: Princeton University Press, 1991.
STAM, Robert. Multiculturalismo tropical: Uma história comparativa da raça na cultura e no cinema brasileiros. São Paulo: Edusp, 2008.
Vilaprinyó, Francesc. La dictadura militar argentina y el cine de Adolfo Aristarain. Barcelona: Publicacions i Edions de la Universitat de Barcelona, 2013.
WILEY, Mason; BONA, Damien. Inside Oscar: the unnoficial history of the Academy Awards. Nova York: Ballantine Books, 1996.
Como citar este artigo
CLARO, Celso Fernando. Um prêmio para os “forasteiros”: uma breve história do Oscar de Melhor Filme Estrangeiro (Artigo). In: Café História. Disponível em: https://www.cafehistoria.com.br/breve-historia-do-oscar-de-melhor-filme-estrangeiro. ISSN: 2674-5917. Publicado em: 15 Mar. 2022.
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