Yorgos Lanthimos é um dos novos queridinhos entre os diretores do cinema em língua inglesa. Seu sucesso como criador, diretor e roteirista foi laureado com os quatro Oscars que Pobres Criaturas (2023) arrematou na última cerimônia da premiação. E assim, como muitos outros diretores, ele também parecer ter uma musa. Yorgos é um fã do estilo de atuação de Emma Stone.
Quatro atores principais se revezam em diversos papéis nas três histórias esquisitas e macabras dessa “dramédia”, e a escolha do cast não poderia ser mais especial. Além de Stone, o elenco conta com o talentosíssimo Jesse Plemons, o sempre presente Willem Dafoe e a lindíssima filha da atriz Andie MacDowell, Margaret Qualley. Margaret já estreou nas telas arrebatando o público com a série Maid (2021) da plataforma Netflix. Plemons, o marido da Kirsten Dunst, também saiu há muito tempo da sombra da fama da esposa e se solidificou como um dos mais versáteis e competentes artistas atuais. Dafoe está praticamente acima de qualquer crítica, é um dos melhores atores de sua geração, principalmente quando suas interpretações potentes de vilões e seres bizarros ganham o palco.
Com um orçamento avantajado e uma equipe de primeira, Yorgos pôde dar total vazão aos seus devaneios surrealistas e aterrorizantes. A primeira das três partes do filme conta a história de Robert Fletcher (Plemons) que tem uma relação de codependência extrema com seu chefe Raymond (Dafoe). Tudo que Raymond manda, Robert faz. Tudo mesmo. Inclusive arriscar a própria vida e a de outros ao seu redor. Na segunda parte conhecemos Daniel (Plemons), um policial que vai quase à loucura quando a esposa Liz (Stone) desaparece em uma pesquisa de campo. Quando Liz reaparece, Daniel passa a acreditar em se tratar de outra pessoa. A terceira, e última, parte fala de uma seita que busca a ressurreição. Os membros Emily (Stone) e Andrew (Plemons) são enviados em busca da tal pessoa capaz de reanimar corpos mortos. Em suas buscas eles topam com Anna (Hunter Schafer) e depois com as gêmeas Rebecca e Ruth (Qualley), o resultado acaba não sendo o esperado.
Yorgos passeia por muitos estilos e estéticas, vemos um pouco de Lars Von Trier, Cronenberg e Wes Anderson em sua linguagem cinematográfica. O problema é encontrar a medida certa entre o overplaying, o exagero e o necessário para passar a mensagem. Supostamente os três episódios são sobre controle e submissão, isso fica bastante claro, mas vai além e acaba se tornando, em alguns momentos, um overkill (literalmente) de brutalidades bizarras e desconcertantes. Dos três, o primeiro episódio é o que me parece servir melhor ao seu propósito, quando cria quase uma distopia de uma realidade onde ambição, insegurança e capitalismo se unem de uma forma perigosa e doentia. Plemons está sensacional no papel de Fletcher, aliás, suas atuações e as de Dafoe são as mais consistentes e convincentes e carregam praticamente o filme. Por fim, deixo uma pergunta no ar: agora tudo precisa terminar em dança? Ou seria esse artifício uma fuga de um final mais elaborado?
Apesar das críticas não muito favoráveis – principalmente quando comparadas às de outras obras de Lanthimos – Tipos De Gentileza merece ser assistido, cumpre bem a função de chocar, entreter e provocar reflexões.
O filme está disponível na plataforma de streaming Disney Plus.