Michael J. Fox nasceu inquieto. Ficar parado – em inglês “still” – não fazia parte de sua natureza. Relatos de amigos e familiares nos contam sobre um menino serelepe, extremamente ativo e ágil, que gostava de esportes, brincadeiras e teatro. Michael compensava sua estatura- o ator tem apenas 1,63 m de altura – com um humor e carisma que o tornavam um gigante diante dos desafios que apareciam em seu caminho, tais como a rejeição, o bullying, a falta de oportunidades como ator ou o pouco sucesso entre as meninas de sua idade. Com 16 anos, Michael interpretada em uma série de TV canadense chamada “Leo And Me” (1978-1981) um menino de 12 anos. E assumir papéis de personagens mais jovens do que sua real idade acabou sendo uma constante no início de sua carreira.
Nesse novo documentário feito para o canal de streaming Apple TV+, o Diretor Davis Guggenheim (He Named Me Malala / 2015) permite a Michael mostrar todos os seus lados – o palhaço, o pai de família, o ator consagrado e, também, a pessoa que sofre há décadas de uma doença degenerativa e sem cura.
Michael acertou na “loteria do azar”. Com apenas 29 anos, ele foi diagnosticado com Parkinson em 1991, o que lhe parecia um completo absurdo, dado que a grande maioria das pessoas com a doença possuem idade avançada. Michael estava no auge do seu sucesso, estava feliz e tinha acabado de ter um filho com sua esposa Tracy Pollan, quem ele conheceu durante sua época interpretando Alex Keaton, o jovem conservador com pais Hippies da festejada série “Caras e Caretas” (Family Ties/1983-1989).
Davis Guggenheim monta o documentário com ampla narração de Michael e faz uma montagem interessante de cenas de todos os filmes do ator como artifício de dramatização da história de ascensão e queda, não rara, na vida de um ator. O diferencial aqui é a presença da honestidade e da abertura que Fox tem ao abordar a doença, seus medos, suas limitações e sua forma de encarar as dificuldades enquanto elas parecem formar montanhas intransponíveis em seu caminho. “Still” é inspirador e, ao mesmo tempo sincero. Não vemos aqui uma maquiagem da realidade, mas também não vemos o exagero patético ao qual muitos documentários de celebridades nos guiam em sua exacerbada dramatização.
“Still: A Michael J. Fox Movie”, por um lado, é feito para seus fãs, dados os recortes dos inúmeros sucessos cinematográficos do ator a nos embalar em lembranças. Fox é uma figura que sempre será lembrada na história do cinema norte-americano e um dos grandes expoentes da Hollywood dos anos 80. Porém, o ser humano Michael apela a todos nós, um público bem mais amplo, que, de uma forma ou de outra, e com certeza, nos deparamos (ou depararemos) com grandes desafios pessoais, quer seja conosco ou com familiares e pessoas amadas, em algum momento de nossas vidas.