“Sing Sing”: a força terapêutica do teatro

Colman Domingo protagoniza um poderoso drama sobre o programa de artes para detentos (RTA) da prisão Sing Sing.
4 de fevereiro de 2025
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O ator Colman Domingo, de casaco roxo. Ele é protagonista em Sing Sing.
"Colman Domingo (Rustin/2023) é um excelente ator e nos oferece, mais uma vez, uma atuação marcante como o personagem Divine G". Foto: reprodução.

“Sing Sing” é um drama prisional norte-americano do final de 2023, dirigido por Greg Kwedar diretor de “Transpecos” (2016), mas que na última década vinha atuado mais como produtor (Jockey/2021), e nos apresenta uma performance impressionante de Colman Domingo como o detento John “Divine G” Whitfield.

De uma forma bastante resumida, podemos dizer que a obra explora o poder transformador da arte feita por e para (ex)detentos dentro da prisão Sing Sing, a famosa instituição localizada no estado de Nova York. Com destaque para o programa existente chamado “Rehabilitation Through the Arts” (RTA) que traduzido significa Reabilitação Através da Arte.

O roteiro de Clint Bentley (Jockey/2021), adaptado de uma reportagem de 2005 do jornalista John H. Richardson para a revista “Esquire” e do livro “Performing New Lives: Prison Theatre” (2010) que conta com a coautoria do roteirista, diretor e produtor Brent Buell, acompanha Divine G, um detento profundamente envolvido no programa RTA, que orienta novos participantes na criação e apresentação de produções teatrais originais.

Através dos ensaios da peça intitulada “Breakin’ the Mummy’s Code”, criada pelos próprios detentos, o filme explora temas recorrentes em situações de encarceramento, como redenção, crescimento pessoal e o impacto significativo da expressão criativa na vida dos detentos.

A narrativa não falha em enfatizar situações de camaradagem entre os presos e o potencial de cura autoconhecimento proporcionado por um projeto artístico dentro do sistema prisional.

Sing Sing: muitas qualidades

A direção de Greg Kwedar em “Sing Sing”é afiada e mistura um drama roteirizado com elementos de estilo documental, oferecendo um olhar íntimo sobre a vida dos indivíduos encarcerados que participam do programa.

A abordagem de Kwedar ao escolher o elenco foi enfatizar a autenticidade, e por isso o diretor optou por escalar também indivíduos anteriormente encarcerados ao lado de atores profissionais para contar uma história que nos envolve com seu realismo e profundidade emocional. Isso se confirmou como uma das decisões mais certeiras do diretor e que impactou diretamente o resultado tão crível e prosaico (de forma extremamente positiva) da obra.

Colman Domingo (Rustin/2023) é um excelente ator e nos oferece, mais uma vez, uma atuação marcante como o personagem Divine G, capturando de uma forma única e intensa a profundidade e a resiliência de um homem que acaba sendo roubado de toda sua esperança em obter a liberdade.

O filme incorpora, de maneira única, ex-participantes reais do programa RTA, incluindo Clarence “Divine Eye” Maclin, que interpreta uma versão ficcional de si. Essa escolha acrescenta autenticidade à representação da vida na prisão e ao impacto transformador do teatro e da atuação. O elenco também inclui Sean San José como Mike Mike e Paul Raci como o próprio Brent Buell, o diretor voluntário do programa.

“Sing Sing” é uma obra primorosa, com diálogos emocionantes e atuações impressionantes.  A atuação de Colman Domingo é o ponto alto da trama. Sua entrega aos sentimentos conflitantes e aos medos de um detento nos atinge de forma certeira e nos leva a refletir sobre as possibilidades de uma reabilitação para pessoas encarceradas.

Escapando do Oscar de 2024 o filme, com atraso, recebeu as indicações de melhor ator para Domingo e melhor roteiro adaptado para a premiação de 2025. E ele, Domingo, é, sem sombra de dúvida, um dos grandes merecedores do boneco dourado e o meu favorito pessoal para o prêmio, o qual, na minha humilde opinião, o ator já deveria ter recebido pelo excelente “Rustin” em 2024.

Não tocará a todos

“Sing Sing” não é um filme que tocará a todos. Ele fala para os que acreditam no poder redentor da arte e para os que se entregam a uma exploração tocante da resiliência do espírito humano. É uma obra com performances autênticas e uma direção perspicaz ao lançar luz sobre as narrativas frequentemente negligenciadas de indivíduos encarcerados que buscam transformação e esperança por meio da expressão criativa.

Apresentado inicialmente no Festival de Sundance e no Festival Internacional de Cinema de Toronto de 2023, “Sing Sing” foi adquirido pela festejada produtora A24 em 2024, e tem, finalmente, estreia prevista nos cinemas brasileiros em 13 de fevereiro.

Tais Zago

Tem 46 anos. É gaúcha que morou quase a metade da vida na Alemanha mas retornou a Porto Alegre. Se formou em Design e fez metade do curso de Artes Plásticas na UFRGS, trabalha com TI mas é apaixonada por cinema.

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