Série no YouTube conta a História da Índia

Série de 14 aulas apresentada pelo historiador brasileiro Emiliano Unzer, professor da Universidade Federal do Espírito Santo, tem linguagem acessível e didática.
27 de março de 2021
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A História da Índia que conhecemos é envolta em mistérios e estereótipos. Aprendemos com novelas, romances e programas de televisão que a Índia é rural, que os indianos não comem carne, que as mulheres não têm liberdade e que não há democracia no país. Com o intuito de derrubar esses mitos e atender à uma demanda pública cada vez maior sobre o país asiático, o historiador Emiliano Unzer, professor do Departamento de História da Universidade Federal do Espírito Santo, organizou uma série de 14 aulas sobre a História da Índia, disponibilizada gratuitamente em seu canal no YouTube

As aulas estão organizadas por períodos históricos, abrangendo povos, culturas e governos que vivem na região, desde a antiguidade até os desdobramentos da Constituição indiana, de 1950. Os vídeos utilizam muitas imagens e possuem uma linguagem acessível e didática, o que contribui para que pessoas não familiarizadas com a história do país possam acompanhar as aulas sem dificuldades.

Ao Café História, o historiador disse que a história indiana é muito fascinante. “A história da Índia assombra e fascina pela riqueza caleidoscópica. De acordo com o professor Vinay Lal, da Universidade da Califórnia, Los Angeles, a Índia foi uma região de múltiplas convivências das diferenças e marcada pelo cosmopolitismo.”

Unzer também destacou a grandiosidade do pensamento dos povos que ocuparam a região: “Acredito que as ruínas de Harappa e Mohenjo-Daro, do terceiro e segundo milênio antes de nossa era, no Vale do Indo, são espetaculares, por apresentarem uma sofisticada noção de organização urbana, sanitária e dos seus impressionantes registros visuais e de escrita – que permanece até os dias atuais indecifráveis. Há indícios de um próspero comércio com regiões mais ao oeste na Mesopotâmia e eventuais contatos com regiões chinesas do vale do Sichuan.”

Povos como protagonistas

Na série, Unzer descreve os diversos povos que formaram a Índia como protagonistas da sua própria história. “As batalhas desses povos foram depois reunidas e compiladas num dos maiores épicos da literatura indiana e mundial: “Maabárata”. Nesse contexto, aparecem sinais da vida sedentária, da agricultura, e de novas divindades e filosofias. Os antigos deuses dos arianos, que eram meio nômades, do sol, fogo, deixam de ser tão cultuados para dar lugar a outras divindades hoje proeminentes no universo indiano […]. Em um dos reinos no norte indiano, perto de Lumbini, nascerá um príncipe, Sidarta Gautama, que depois irá propor uma nova crença e sistema, o budismo, junto com um de seus contemporâneos, Mahavira, no jainismo. Os últimos séculos antes de nossa era foi um período fértil e conturbado.”

Já no que diz respeito à contemporaneidade, Emiliano contribui para a quebra de estereótipos sobre a rigidez e a opressão apontadas à sociedade indiana: “Acredito que a democracia indiana se manteve desde sua independência em 1948. A constituição em vigor desde 1950 é um monumento à diversidade e inclusão das diferenças indianas. A Carta deles reconhece mais de 20 línguas oficiais, centenas de outras línguas e dialetos, afirma um Estado laico e secular, protege minorias (como os dalits, brilhante obra de Ambedkar) e proíbe discriminações com base étnica e de castas. Acredito que isso seja motivo para celebração de toda a comunidade internacional, um país com mais de um bilhão e 300 milhões de pessoas, dezenas de línguas e escritas com séculos de tradição […]. Uma democracia com mais de 900 milhões de votantes de acordo com as últimas eleições de 2019.”

Última aula ainda vai ao ar

Em suas vídeo aulas sobre a Índia, Unzer alia a beleza de contar boas histórias às reflexões próprias do conhecimento e do fazer histórico. O professor destaca rupturas e continuidades, contradições, bem como dúvidas e questionamentos que permanecem vivos. A última aula da série ainda vai ao ar. Mas pode ser que venha mais conteúdo sobre o gigante asiático no futuro, a depender da demanda do próprio público.

Unzer pesquisa a história do continente asiático há sete anos. Seu livro intitulado “História da Ásia” reúne os estudos desenvolvidos ao longo desse período, na íntegra. É possível adquiri-lo na Amazon, de forma digital e impressa. Seu projeto de divulgação científica abrange não apenas o canal no YouTube, mas também o perfil de Instagram “História da Ásia”.

Thaís Pio Marques

Faz parte da equipe do Café História, onde realiza estágio voluntário. Graduada em História pela Universidade Federal Fluminense (UFF). Durante a graduação fez parte do Grupo PET Conexões de Saberes – Licenciaturas, voltado para a elaboração e desenvolvimento de Projetos pedagógicos interdisciplinares. Atualmente, organiza o perfil de Instagram “Poesia e oralidade”, onde compartilha textos breves sobre competições de poesia (slams) e seus participantes. O trabalho na rede social é
articulado aos estudos sobre História Oral e História Pública.

35 Comments Deixe um comentário

  1. Show…também me encanta o comércio milenar entre Europa Ásia e África, tão pouco discutido…e a Índia tem papel preponderante nessa tríade.

    • Obrigada pela contribuição, Angel! A História dessas relações, e da Índia, são mesmo vastas e vale a pena serem exploradas.

  2. Muito interessante, adoro História e, em geral, conhecemos pouco sobre dos países dessa parte do mundo A Índia é um universo riquíssimo, saber mais a respeito só acrescenta conhecimento e informações sobre essa cultura tão peculiar

    • Esse trabalho do Emiliano Unzer é uma bela contribuição para ampliarmos nossos conhecimentos sobre História Asiática. Valeu, Maria das Graças!

  3. Índia, China, Japão e outras culturas orientais são sempre de fundamental importância para mim mesma e, penso, para todos que buscam um pouco mais de conhecimento sobre a história da Humanidade e nossa própria história.
    Gratidão!

  4. Acabei de terminar minha licenciatura em história, e tudo que está ligado a conhecimentos me interessa, vou assistir todos os vídeos. Parabéns pela iniciativa!

  5. Que máximo!!! Estive na Índia e amei até o leite com pimenta…rs. Muito procurei, e procuro, matérias a respeito de sua tão rica e interessante história. Parabéns, professor, por seu interesse.

  6. PAÍS interessante, é sua história é facinante também, abriga a primeira religião da humanidade e as ruínas da primeira civilização chamada de Harappa onde dizem ser antecessora a civilizacao dos sumérios.

  7. Infelizmente, quanto à contemporariedade, o que ele diz, está somente no papel. Morei na Índia por 6 anos e a discriminação por castas ainda existe e é forte pois é amparada pela religião Hindu. O governo tem tentado ajudar os jovens de castas baixas a estudar, até ir pras universidades, mas depois muitas moças ainda são obrigadas a casar por casamentos arranjados pelos pais e, muitas se tornam escravas das sogras. Se alguém muda de religião, por exemplo, dependendo do Estado, a perseguição é grande. Muitos jovens são colocados pra fora de casa, quando não há violência física. Ainda existe a casta dos intocáveis. Se você perguntar ninguém confirma mas agem com essas pessoas de uma forma muito discriminatória. O único serviço deles é o mais baixo, como limpar fezes e das casas dos ricos, e tudo de mão limpa. As pessoas não podem chegar nem no quintal deles pois acredita-se que se tormarão impuros. A casta dos intocáveis é considerada impura. As pessoas de castas mais baixas trabalham de 2af a 2af. Os lixeiros pegam os lixos sem luvas e empurram um carrinho de mão pra pegar o lixo. Pelo menos em Calcutá é assim. Dr. Ambedkar era um dalit e lutou contra o sistema de castas. Ele se converteu ao budismo quando percebeu que era a própria religião Hindu que alimentava esse sistema, e que jamais seria mudado. As pessoas que nascem nas castas baixas sabem que nunca poderão mudar para outra casta, morrerão cumprindo os deveres imputados à aquela casta. Muito triste.

    • Oi, Lilian! Essas contradições entre a Constituição de 1950 e a prática cotidiana que reverbera tantos preconceitos me faz estabelecer pontes possíveis com o racismo à brasileira. Um país marcado pelo racismo onde há enorme dificuldade em se assumir atitudes/práticas racistas. Diria que a garantia da igualdade registrada na Contituição Indiana de 1950 é um avanço considerável, mas as continuidades/ranços marcados pela discriminação não foram superados apenas na esfera das leis. Muito obrigada pela sua contribuição!

  8. Sempre tive curiosidade de saber sobre um pouco da índia porque a Índia é um país mistérios gostei quero saber muito mais amo descobrir mistérios do mundo é quero também conhecer um dia este país cheio de mistérios

  9. A grande nação ou Mahabharata é possuidora de uma Cultura rica e milenar. Possui algumas contradições como qualquer grande país, mesmo os de primeiro mundo. A Cultura Védica é insuperável. Temos muito a aprender com os épicos Mahabharata e Ramayana. As Upanishads são insuperáveis e muitos grandes Filósofos ocidentais beberam nessas fontes. Muito obrigado Mãe Índia!!!

  10. Obrigada por compartilha! A Índia é um país fascinante e cheio de riqueza. Um dia irei realizar meu sonho…. conhecer! Abs . Namaste

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