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Renascimento italiano: o que foi, o que não foi e o que ler para saber mais

O Nascimento de Vênus de Botticelli, ícone do Renacimento Italiano.

O Nascimento de Vênus de Botticelli.

O Renascimento Italiano (um dentre vários outros) foi um movimento de renovação cultural nas letras, nas artes e nas ciências que teve lugar na Itália, a partir dos séculos XIV-XV, e na Europa, a partir dos séculos XV-XVI. Ele se caracterizou por um renovado interesse pela cultura clássica greco-romana, pela valorização do humanismo e pela ênfase na razão, na ciência e no potencial humano.

Artistas como Leonardo da Vinci, Michelangelo e Rafael, além de escritores como Maquiavel e Petrarca, exemplificam esse período extremamente criativo, que também trouxe inovações na arte, arquitetura e filosofia, influenciando profundamente o desenvolvimento cultural e intelectual da Europa.

Para saber mais sobre o tema, preparei uma bibliografia comentada com várias perspectivas e fotos, que vai te ajudar a ganhar mais profundidade neste estudo. Separei as sugestões em bloco a fim de facilitar a leitura de cada tipologia.

BYINGTON, Elisa. O projeto do renascimento. São Paulo: Companhia das Letras, 2009.

Para quem conhece pouco ou até mesmo nada sobre o tema, recomendo esse livrinho de bolso, de Elise Byngton. Ele tem apenas 81 páginas, mas faz um ótimo resumo sobre o tema. É um dos livros de que mais gosto, escrito por autora brasileira. Ele pode ser encontrado, hoje, em sebos, ou no site da editora, sob demanda.

BROTTON, Jerry. O Bazar do Renascimento: da Rota da Seda a Michelangelo. São Paulo: Grua, 2009.

GOODY, Jack. Renascimentos um ou muitos? São Paulo: Editora da UNESP, 2011

Para quem procura por novidades, esses dois livros são importantes, porque trouxeram para o público brasileiro as perspectivas historiográficas mais recentes da historiografia anglo-americana sobre o Renascimento. Em ambos, o Renascimento é entendido como o momento inicial da Época Moderna, e ambos buscam entender também esse período da história em perspectiva global.

Tanto Brotton quanto Goody são muito críticos ao eurocentrismo de obras de autores como Jules Michelet (1748-1874) e Jacob Burckhardt (1818-1897) (A cultura do Renascimento na Itália: um ensaio. São Paulo: Cia das Letras, 2009), que na segunda metade do século XIX, propuseram as primeiras interpretações para o Renascimento.  

Rosso Fiorentino: Pietà, 1537-1540. Louvre.

Assim, os autores reiteram a relação entre Renascimento e modernidade, na contramão de historiografia produzida no resto do continente europeu, onde, na reflexão historiográfica desde meados do século XX, o nexo entre Renascimento e mundo moderno paulatinamente se enfraquece e o baricentro construtivo de modernidade se desloca para o século XVIII e a chamada “Revolução Científica”.

Kristeller, Paul Oskar. Tradição Clássica e Pensamento no Renascimento Italiano. Lisboa: Edições 70, 1995.

Garin, Eugênio. Ciência e vida civil no Renascimento italiano. São Paulo: Editora da UNESP, 1994.

Bignotto, Newton. Origens do republicanismo moderno. Rio de Janeiro: EDUFF, 2021.

Pocock, John G. A. O momento maquiaveliano: o pensamento político florentino e a tradição republicana atlântica. Niterói: Eduff, 2021.

Falar de Renascimento não é falar apenas de Renascimento. É falar também de muitos outros fenômenos históricos e movimentos de ideias. O Renascimento Italiano tem, nos últimos 50 anos, voltado o eixo da reflexão historiográfica para o estudo dos mais variados aspectos do renascimento literário-filosófico, que, desde o século XIX passou a ser identificado pelo termo “Humanismo”.

Infelizmente, poucos desses estudos foram traduzidos para a língua portuguesa. Grosso modo, praticamente tudo do pouco que foi traduzido para o português sobre esse movimento diz respeito a escritos originalmente produzidos antes da década de 1980 e, sobretudo, dedicados àquilo que a historiografia do século XX denominou por “Humanismo Cívico”, concepção forjada por Hans Baron (1900-1988) (curiosamente nunca traduzido para o português) e Eugênio Garin (1909-2004), que se tornou o centro do debate no campo da história das ideias nas décadas centrais do século passado. Apesar das lacunas, as quatro obras listadas acima são boas.

O livro de Paul Oskar Kristeller foi originalmente publicado em língua inglesa, em 1955. Kristeller é um nome incontornável nos estudos sobre o Humanismo, sobretudo por assinalar com maestria tanto as rupturas introduzidas quanto as importantes continuidades em relação a tradição retórica medieval.

Mais detalhes
Parmigianino: Madonna com o Menino e santos, c. 1530. Uffizi

Já o livro de Eugênio Garin foi publicado originalmente em italiano, em 1965. É uma coletânea que reúne textos derivados das conferências proferidas por Eugênio Garin em torno de temas ligados aos ideais ético-políticos que se difundiram nas cidades italianas durante o século XV.

A obra de Pocock, originalmente publicada, em língua inglesa, em 1975, oferece uma análise penetrante do pensamento político cultivado em Florença a partir da segunda metade do século XIV e dos seus desdobramentos na Inglaterra de meados do século XVII e na América do Norte setecentista.

Bignotto, Newton. Origens do republicanismo moderno. Rio de Janeiro: EDUFF, 2021.

Ainda falando de humanismo e de suas conexões com o Renascimento, indico também o livro de um brasileiro, Newton Bignotto. Publicado pela primeira vez pela editora da UFMG, em 2001, este livro foi determinante para a recepção do debate acerca do Humanismo cívico no Brasil. Analisa, sob o prisma da filosofia política, escritos produzidos por humanistas italianos, ao longo dos séculos XIV e XV.

GOMBRICH, Ernst. Por uma história cultura. São Paulo: Martins Fontes, 1994.

Falar de Renascimento também falar de História Cultural, que é um movimento historiográfico muito famoso nos estudos históricos. A História Cultural estuda as manifestações culturais e suas relações com o mundo das ideias e das práticas sociais.

Foi com base no pressuposto de que a arte e a ciência, enquanto manifestações culturais, relacionavam-se diretamente com o espírito de sua época (Zeitgeist), que toda a História Cultural (Kulturgeschichte) e parte significativa da História da Ciência, do século XX, se erigiram. Nesse sentido, talvez a leitura mais importante sobre a história da história do Renascimento seja esse pequeno livro de Ernst H. Gombrich.

Yates, Frances A. Giordano Bruno e a tradição hermética. São Paulo: Cultrix, 1995.

Garin, Eugenio. O Zodiaco da Vida: a polémica sobre a astrologia do século XIV ao século XVI. Lisboa: Estampa. 1988.

Entretanto, a busca por uma unidade orgânica na cultura do Renascimento acabou, na verdade, por expor os limites sociais, intelectuais e geográficos da renovação proposta pelos humanistas. Nasce assim uma linhagem de estudos que tratam a arte e a ciência do Renascimento Italiano como um problema em si, separado do problema da modernidade.

A reflexão sobre a ciência humanista, por exemplo, passa a levar em consideração também saberes que hoje estão bem distantes daquilo que se admite como “científico”, como a astrologia, a alquimia, a cabala, a magia e as artes adivinhatórias. Saberes antes desprezados por uma historiografia que interpretava a modernidade como um processo de progressiva racionalização do mundo e deixava de lado conhecimentos e práticas que lhe pareciam inconciliáveis com a sua visão da “ciência moderna”. Nessa linha, destaco o trabalho seminal da Frances Yates (1899-1981) e os últimos trabalhos de Eugenio Garin.

Apesar de algumas fraquezas metodológicas, a obra de Francis Yates, publicada pela primeira vez em 1984, é de uma importância ímpar por assinalar uma vertente pouco considerada no ambiente cultural humanista: a tradição mágico-hermética, que desempenhou papel de relevo nos modos de investigação do mundo natural entre os séculos XV e XVII. Enquanto isso, Garin discute o lugar da astrologia no início da época Moderna. Duas obras que valem muito a leitura, por saírem do lugar-comum.

Um bônus: o Renascimento na História da Arte

No campo da História da Arte do Renascimento Italiano, as traduções nunca cessaram de acontecer. A renovação artística que teve lugar na Itália continua gerando boas publicações no Brasil, algumas colocando em diálogo Humanismo e Renascimento artístico. Abaixo, indico os títulos que considero mais interessantes: 

Baxandall, Michael. Giotto e os oradores. As observações sobre pintura e a descoberta da composição pictórica (1350-1450). São Paulo: Edusp, 2018.

Castelnuovo, Enrico. Retrato e sociedade na Arte Italiana: ensaios de história social da arte. São Paulo: Companhia das Letras, 2006.

Chastel, André. Arte e Humanismo em Florença na época de Lourenço o Magnífico: estudos sobre o Renascimento e o Humanismo. São Paulo: Cosac Naify, 2012.

Ginzburg, Carlo. Indagações sobre Piero. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1989.

Gombrich, Ernst H. Norma e Forma: estudos sobre a arte da Renascença. São Paulo: Martins Fontes: 1990.

Panosfsky, Erwin. Estudos de Iconologia: temas humanísticos na arte do renascimento. Lisboa: Editorial Estampa, 1986.

Warburg, Aby. A renovação da Antiguidade pagã: contribuições científico-culturais para a história do Renascimento europeu. Rio de Janeiro: Contraponto, 2013.

Como citar esta bibliografia comentada

MACHEL, Marília de Azambuja Ribeiro. Renascimento italiano: dos livros básicos aos mais sofisticados (Bibliografia Comentada). In: Café História. Disponível em: https://www.cafehistoria.com.br/renascimento-italiano-bibliografia. Publicado em: 24 fev. 2025. ISSN: 2674-5917.

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