Estudante de História da UnB utiliza refotografia para relembrar as invasões que universidade sofreu na ditadura

24 de setembro de 2018
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Exposição fotográfica foi destaque em Semana de História e poderá ser conferida em vários espaços da Universidade de Brasília.

Por Bruno Leal | Agência Café História

Mais de duzentas pessoas participaram nos dias 18, 19 e 20 de setembro da 1ª Semana Nacional de História da UnB e do VIII Encontro Regional da ANPUH/DF, realizados conjuntamente no Campus Darcy Ribeiro da Universidade de Brasília (UnB). Um dos destaques do evento foi a exposição “Conexões 1968-2018”, produzida por Gabriela Zchrotke e apoiada pelo Departamento de História da UnB. A exposição reuniu fotos das invasões militares da UnB em 1968 e 1977, durante a Ditadura Militar, além de imagens de assembleias e ocupações estudantis ocorridas nos anos 1980.

Zchrotke, que é aluna do curso de História da UnB, aplicou a técnica da refotografia em parte das fotos da exposição. Esta técnica consiste em fotografar um lugar do mesmo ângulo utilizado em uma fotografia antiga e sobrepor as duas imagens. Em “Conexões 1968-2018”, Zchrotke selecionou sete fotos que o fotógrafo Marcos Santilli (ex-aluno da UnB) fez da invasão militar de 1977, todas em preto e branco, e as remasterizou com fotos digitais e coloridas que elas mesma fez, nos dias atuais.

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Gabriela Zchrotke é aluna do curso de História da Universidade de Brasília (UnB)

Zchrotke contou ao Café História que a ideia surgiu quando ela participava de um projeto de iniciação científica (PIBIC) intitulado “Espaços de Memória na Ditadura Militar”, sob orientação da professora Adriana Setemy. A estudante também destacou o quanto o projeto mudou sua perspectiva sobre os espaços por onde transita na UnB:

“Olha, isso me tocou muito. Eu comecei a perceber que o lugar onde eu estudo tem uma história, coisas aconteceram aqui, coisas que as pessoas às vezes não sabem. Quando eu fazia as colagens eu fiquei sabendo da história de dois ex-alunos da UnB: um que levou um tirou na cabeça e outro que foi torturado. Foi quando eu percebi que estava mexendo com um assunto muito delicado. Então, eu tinha que ter uma mão muito precisa, sabe? Eu não queria fazer uma sátira da UnB. Como historiadora, eu penso que este é um novo modo de fazer História. Ao invés dessa exposição eu poderia ter feito um texto, um artigo gigante sobre as memórias da UnB. Mas a exposição sintetiza isso de um jeito bem mais simples e, ao mesmo tempo, mais complexo. Todo mundo chega ali e coloca suas próprias expectativas e visões nas fotos”.

A exposição “Conexões 1968-2018” foi exibida no Auditório Pompeu de Sousa, da Faculdade de Comunicação da UnB (FAC/UnB), onde ocorreram as conferências 1ª Semana Nacional de História da UnB e do VIII Encontro Regional da ANPUH/DF Em breve, a exposição deve percorrer outros espaços da universidade.

As invasões militares da UnB

Em 1968, alunos da UnB realizaram um protesto contra a morte do estudante secundarista Edson Luís de Lima Souto, assassinado por policiais militares no Rio de Janeiro. Agentes das polícias Militar, Civil, Política (DOPS) e do Exército invadiram a universidade e detiveram mais de 500 pessoas na quadra de basquete. Ao todo, 60 foram presas e algumas foram torturadas dentro da própria universidade. Um estudante, Waldemar Alves, foi baleado na cabeça, passando meses em estado grave no hospital. Em 1977, a UnB sofreu uma nova invasão por tropas militares, desta vez prendendo não só alunos, como também professores e funcionários. A ação foi uma resposta a greve que estudantes e professores declararam para um fim às agressões.

Bruno Leal

Fundador e editor do Café História. É professor adjunto de História Contemporânea do Departamento de História da Universidade de Brasília (UnB). Doutor em História Social. Tem pós-doutorado em História Social pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Pesquisa História Pública, História Digital e Divulgação Científica. Também desenvolve pesquisas sobre crimes nazistas e justiça no pós-guerra.

4 Comments Leave a Reply

  1. Realmente é formidável poder enxergar o contraste entre o passado e o presente por meio das fotografias. É a história sendo forjada na memória de quem conseguiu apreciar esse trabalho cuidadoso e interessante da Gabriela Zchrotke. Parabéns pela iniciativa…trata-se realmente de uma “conexão”…

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