Dados sobre o ProfHistória foram apresentados em mesa realizada nesta terça, no XXIX Simpósio Nacional de História.
Por Bruno Leal | Agência Café História
Na manhã desta terça-feira, o Anfiteatro 12 da Universidade de Brasília (UnB) ficou completamente lotado para acompanhar a mesa “Mestrados profissionalizantes em História: formação de professores”. A mesa, que é parte da seção “Diálogos Contemporâneas”, do XXIX Simpósio Nacional de História, foi coordenada por Mateus Torres (UnB) e composta por Marieta de Moraes Ferreira (UFRJ) e Ana Maria Monteiro (UFRJ), respectivamente, coordenadora e docente do ProfHistória, como é chamado o maior mestrado profissional em Ensino de História do Brasil, e por Flávia Caimi (UPF), que estudou dissertações de alunos do programa. O ProfHistória foi criado em 2012 e formou em 2016 a sua primeira turma, o que inspirou a montagem desta mesa.
Maria Silva Duarte Hadler, pesquisadora do Centro de Memória da Unicamp, era uma das muitas pessoas presentes no evento e explicou o seu interesse nas palestras:
– Eu fui professora de História e Sociologia durante muitos anos em uma escola particular em Campinas, onde também fui coordenadora das áreas de História, Sociologia e Filosofia. Eu estou aqui para ver como estão sendo colocadas as questões relacionadas a formação dos professores, como são as experiência desses mestrados profissionais, enfim, estou aqui para me inteirar sobre o que está acontecendo recentemente
Sandra Regina Mendes, professora de estágio supervisionado na Universidade do Estado da Bahia (UNEB), também estava ali por motivos parecidos:
– Nós temos muitas demandas e estamos vivendo muitas mudanças atualmente, principalmente com a aplicação da Base Curricular Comum (BNCC) e com a publicação da nova lei do Ensino Médio. O mestrado profissional tem o objetivo de capacitar esses professores para atuarem na Educação Básica. Então, eu estou aqui, digamos, para me atualizar, para descobrir melhor o que está acontecendo nessa área.
Resultados e perspectivas
Maria, Sandra e o público geral ali presente não saíram frustrados. Todas as palestrantes realizaram um debate bastante aprofundado sobre as experiências registradas nos quatro anos do ProfHistória. Ana Maria Monteiro, da Faculdade de Educação da UFRJ, começou com um debate teórico sobre a formação de professores, sobretudo para descontruir preconceitos ainda existentes na área acadêmica. “Existe uma cisão muito forte entre mestrado acadêmico e profissional que é constituída dentro de uma cultura que valoriza mais a pesquisa”. Citando o pesquisador português Antonio Nova, Monteiro destacou alguns elementos que o professor precisaria levar em conta em sua prática docente nos tempos atuais: o conhecimento, a cultura profissional, o tato pedagógico, o trabalho em equipe e o compromisso social.
A pesquisadora ressaltou também que o principal foco do ProfHistória é promover o entendimento do Ensino de História com a construção do conhecimento escolar. Os professores, conforme destacou, mobilizam vários saberes e, desta forma, precisam compreender com a maior clareza as possíveis questões que conectam os campos do Ensino de História e Teoria da História. “Não dá pra pensar o ensino escola de história hoje sem pensar no fluxo das pesquisas historiográficas”.
Já Flávia Eloisa Caimi, da Universidade de Passo Fundo (UPF), pesquisou 47 dissertações produzidas por alunos do ProfHistória com a expectativa de identificar e compreender o que aparece nesses trabalhos. A partir da leitura dos resumos e de parte das dissertações, Caimi descobriu que a maior parte dos orientados do ProfHistória são mulheres, enquanto que a maior parte dos orientadores são homens. Além disso, 20 estudos (maioria) não se debruçaram sobre um nível ou modalidade de escolarização em especial; 11 trabalhos focaram no Ensino Médio, 7 nos anos finais do Ensino Fundamental, 3 nos anos iniciais do Ensino Fundamental, 3 em Educação de Jovens e Alunos (EJA), 1 em Ensino Fundamental e Médio, 1 em Cursos Técnicos e 1 sem Anos Iniciais e Finais do Ensino Fundamental. Quanto ao recorte temporal, 44 estudos estiveram voltados para contextos atuais, práticas e situações do presente; 2 estudos trabalharam com as primeiras décadas do XX e 1 estudo explorou a dimensão diacrônica – ao longo do século XX até o início do século XXI.
“Ensino de História é uma área de fronteira”
Concordando com Ana Maria Monteiro, Marieta de Moraes Ferreira, coordenadora nacional do ProfHistória, ressaltou as dificuldades que o projeto enfrentou no início:
– No início, houve muitas críticas. Muita gente disse que nós estávamos nos vendendo ao neoliberalismo. Foi muito desafiador para nós, então, definir o que seria esse projeto. Isto é, como seria feito o equacionamento dessa relação entre teoria e prática? Nossa maior preocupação no ProfHistória sempre foi possibilitar que o conhecimento historiográfico produzido na universidade pudesse ser aplicado em sala de aula.
Ferreira apresentou um painel bastante completo dos principais resultados alcançados até agora pelos ProfHistória. A historiadora sublinhou, por exemplo, que o projeto passou de 12 núcleos credenciados em 2012 para os atuais 27. Atualmente, o ProfHistória possui 425 alunos matriculados e 324 professores, que fazem parte de três linhas de pesquisa: “Saberes históricos no espaço escolar”, “Sabes Históricos em diferentes Espaços de Memória”, “Linguagens Narrativas Históricas: Produção e Difusão”. Do total de 132 alunos concluintes, 109 já possuem seus trabalhos disponibilizados online. A Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) foi a universidade com o maior número de alunos concluintes: 18. E “História e Cultura Africana e Afro-brasileira” foi o tema mais presente na 109 dissertações analisadas: 22 no total.
Ferreira, que deixa a coordenação do ProfHistória no final de 2017, terminou sua comunicação explicando a importância do projeto para o campo do Ensino de História:
– Há alguns anos, isso seria impensável. Muitos Institutos e Departamentos de História viam o Ensino de Historia como algo menor. Essa temática era muito mais comum nos cursos de Educação. Hoje, isso mudou. Mas eu espero que os meus colegas da educação vejam isso como uma coisa boa e não como uma invasão. Eu acho um absurdo que as graduações de Historia, que formam professores de História, virem as costas para esse tipo de atividade, achando que vamos formar os alunos apenas para mestrados e doutorados. Essa aliança da didática de historia com prática de ensino é muito importante. A despeito das possíveis diferenças que possam existir, tenho visto uma troca salutar para ambos os lados. O Ensino de História é uma área de fronteira, como já disse professora Ana Maria Monteiro. Eu partilho muito dessa ideia.
Saiba como citar essa notícia:
CARVALHO, Bruno Leal Pastor de. Historiadoras divulgam resultados de mestrado profissional em Ensino de História. (Notícia). In: Café História – história feita com cliques. Disponível em: https://www.cafehistoria.com.br/profhistoria-na-anpuh. Publicado em: 25 Jul. 2017. Acesso: [informar data].