“Pinguim”: série sobre o vilão do Batman não nos deixou com saudades do homem morcego

Primeira temporada de Pinguim, a nova série do canal de streaming Max mergulha fundo nas contradições de um personagem perverso.
10 de dezembro de 2024
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"Pinguim": série sobre o vilão do Batman não nos deixou com saudades do homem morcego 1
“The Penguin“ em Collin Farrell como intérprete do personagem protagonista. Foto: divulgação.

Após os eventos do filme Batman (2022) que traz Robert Pattinson como Bruce Wayne e Colin Farrell no papel de Oswald “Oz” Cobblepot – mais conhecido como o vilão Pinguim- estreou em 24 de setembro o primeiro episódio da série homônima do personagem tragicômico da DC Comics. Datado dos quadrinhos dos anos 40, Oz é um moleque que cresceu nas ruas das periferias de Gotham City e se tornou um capo de mafiosos. Sua aparência e andar – resultado de um problema em uma das pernas – lhe trouxeram o apelido cruel de Pinguim, que acabou virando sua pecha. Mas nessa primeira temporada ainda estamos com Oz, como mais um no amplo exército dos mafiosos da família Falcone. Os Falcone detêm o tráfico de drogas em boa parte de Gotham e Oz quer para si um pedaço desse bolo. Porém, ele não é o único de olho no poder dos Falcone – fora outras famílias como os Maroni, ainda temos Sofia (Cristin Milioti) – filha da mais nova do chefão e irmã de Alberto Falcone (Michael Zegen). Com a morte do pai e do irmão, Sofia clama para si o poder sobre os negócios da família. Mas Sofia não é uma vilã comum, ela acabara de ser solta do Asilo Arkham, onde tinha sido internada justamente por seu pai. Sofia quer poder, mas principalmente, quer vingança. Em uma fuga de cena de crime, Oz acaba cruzando caminhos com Victor (Rhenzy Feliz), um rapaz órfão que ganha a vida nas ruas arrombando carros e cometendo pequenos delitos. Aos poucos, Victor se torna um dos protegidos de Oz e acaba como aliado principal em seus planos mirabolantes. Para Oswald poucas coisas na vida têm verdadeiro valor, fora dinheiro e poder, seu único interesse é a saúde mental de sua mãe, Francis (Deirdre O’Connell).

A criadora da série, Lauren LeFranc (Marvel’s Agents of S.H.I.E.L.D./2013), deu a Farrell total liberdade artística na criação do personagem e suas nuances, e, como acabamos percebendo ao passar dos episódios, foi uma das decisões mais sábias da produção. Colin está extraordinário e irreconhecível no papel, não somente devido à elaborada maquiagem, mas também pela sua atuação completamente desconectada de qualquer papel antes interpretado por ele, inclusive no premiado filme The Banshees of Inisherin (2022). No geral, as atuações estão impecáveis, Milioti como Sofia está maravilhosa, ela incorporou perfeitamente uma mulher que oscila muito entre a loucura e a genialidade, a fragilidade e um sadismo narcisista. Feliz é adorável como Victor, um retrato de fidelidade e de lealdade ao mestre.

Visualmente, Pinguim tem a estética padrão de séries sobre super-heróis e seus respectivos universos. Gotham City é uma mistura de luxo e caos, de destruição e de ostentação. Mas a criatividade do roteiro escrito para o time afiado e a edição primorosa nos prendem na tela com quase nada visto antes esse ano. O arremate desse pacote de presente é dado pela qualidade da trilha sonora, que nos faz ficar assistindo a todos os créditos finais pelo extremo bom gosto da curadoria musical, que posteriormente também nos deixa viciados na lista de reprodução oficial da série no Spotify.

A pegada genial de Pinguim é o jogo que faz com nossos sentimentos em relação ao protagonista. Sentimos raiva e pena de Oz ao mesmo tempo. Ficamos enternecidos com a empatia que ele parece sentir por outras pessoas com deficiência ou com a mãe e, ao mesmo tempo, ficamos enojados com a facilidade com que ele apela para a violência extrema sem nenhuma pontinha de remorso. Oz não é o vilão classudo que se dá bem. Ele se enxerga como uma espécie de líder do proletariado, como chefe do sindicato dos soldados maltratados por seus chefões. Ele justifica sua raiva com a luta de classes, mas nós sempre temos a sensação de que algo muito mais perverso está sendo encoberto. Assim como Sofia, Oz tem a sua Vendetta pessoal a ser realizada. E Sofia sente esse tipo de proximidade com Oz, que volta e meia atrai ou repulsa a presença do outro.

Há tempos não víamos uma série baseada em franquias de quadrinhos com um desenvolvimento tão interessantes, com plot twists realmente inesperados e com tanto peso dramático nas interpretações. Pinguim é altamente recomendável, e certamente uma agradável surpresa para aqueles que, como eu, já cansados das repetições e atuações medíocres, estavam desistindo completamente do gênero. Todos os 8 episódios da primeira temporada de Pinguim estão disponíveis para assinantes do canal de streaming Max. E acho que, provavelmente, uma segunda temporada já parece estar garantida.

Tais Zago

Tem 46 anos. É gaúcha que morou quase a metade da vida na Alemanha mas retornou a Porto Alegre. Se formou em Design e fez metade do curso de Artes Plásticas na UFRGS, trabalha com TI mas é apaixonada por cinema.

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