Pesquisadora desenvolve material didático antirracista e antissexista para Ensino Médio

Proposta didática é baseada nas obras de Maria Beatriz Nascimento e Lélia Gonzalez.
30 de julho de 2024
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A proposta consiste em um planejamento de sete aulas voltadas para a desconstrução do racismo e do sexismo na escola. Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil.

Para contribuir na luta contra o racismo e o sexismo no ambiente escolar, uma professora de História de Parnaíba (PI) desenvolveu uma sequência didática baseada nas obras das pesquisadoras e intelectuais negras Maria Beatriz Nascimento e Lélia Gonzalez. O projeto é o resultado da dissertação “Trajetórias ausentes: um estudo sobre intelectuais negras como ferramenta para um ensino decolonial, antirracista e antissexista”, defendida por Francidéia Gomes Sousa de Carvalho, em 2022, no Mestrado Profissional em Ensino de História da Universidade Estadual do Piauí (UESPI). O trabalho pode ser acessado aqui.

A proposta consiste em um planejamento de sete aulas voltadas para a desconstrução do racismo e do sexismo na escola. Para isso, Francidéia desenvolveu um material didático-pedagógico direcionado a professores do Ensino Médio abordando temáticas como o preconceito e discriminação racial, racismo, sexismo, epistemicídio e invisibilidade de intelectuais negras.

“Nesse trabalho, raça e gênero são duas categorias fundamentais para se entender as relações de poder na sociedade brasileira, a escola como parte dessa sociedade é atravessada por essas relações que se manifestam por meio do racismo e do sexismo. Os dois, conjuntamente, contribuem para que a mulher negra ocupe uma posição de maior vulnerabilidade social no Brasil”, justifica.

O trabalho está dividido em três partes. A primeira é dedicada a analisar as mudanças sociais e historiográficas ocorridas a partir dos anos de 1970, com a inserção de novos temas e sujeitos no campo da História, como populações negras, mulheres, indígenas, LGBTQIAPN+. Em seguida, a autora aborda a trajetória e a produção de mulheres negras intelectuais do Movimento Negro e Feminismo Negro, focando na atuação de Maria Beatriz do Nascimento e Lélia Gonzalez. Por fim, ela discorre sobre os conceitos de racismo, sexismo, feminismo e feminismo negro e apresenta a proposta de sequência didática que contempla essas temáticas.

Antissexismo e antirracismo nas escolas

A sequência didática foi elaborada para ser aplicada nas aulas de História do 3º ano do Ensino Médio e aborda as diferenças entre preconceito racial, discriminação racial e racismo, apresenta as definições de machismo e sexismo, explica o que é epistemicídio e examina as trajetórias e contribuições de Beatriz Nascimento e Lélia Gonzalez por uma sociedade mais justa e igualitária. Para isso, o material didático-pedagógico apresenta conceitos, propõe debates e sugere a exibição de vídeos e a realização de estudos de casos de racismo no ambiente escolar noticiados pela imprensa.

De acordo Francidéia, é comum as pessoas confundirem uma sequência didática com um plano de aula. Contudo, ela aponta que as duas proposições têm naturezas distintas. Enquanto o plano de aula envolve apenas uma aula, na sequência didática ocorre o desenvolvimento de uma unidade temática por completo. Além disso, uma sequência didática é formada por dois produtos: um direcionado ao uso docente e à gestão escolar (plano de aula) e outro a ser utilizado pelos discentes (material de apoio), produzido a partir do plano de aula.

“Os dois modelos organizam o trabalho pedagógico, mas apresentam diferenças quanto à escala de abordagem das atividades. O plano de aula enfoca nos objetivos, atividades e avaliação. A sequência didática enfoca mais minuciosamente na descrição das atividades e tarefas”, explica.

A pesquisadora também ressalta que a iniciativa busca elevar da autoestima dos estudantes afrodescendentes, que não se veem representados nas temáticas abordadas em sala de aula. “O Brasil é um dos países que mais mata mulheres no mundo, e grande parte desses feminicídios envolve mulheres negras, é urgente, portanto, que discussões dessa natureza sejam realizadas a fim de contribuir para a transformação dessa realidade” defende.

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Bruno Lima

Graduado em Jornalismo e História. Meste em História pelo Programa de Pós-graduação em História Social na Universidade de Brasília (UnB). Dedica-se a estudos de História do Brasil República, com ênfase na Era Vargas, direitos trabalhistas, História Social do Trabalho, Justiça do Trabalho, comunismo e anticomunismo e PCB nos anos 1930. Escreve regularmente sobre mestrado profissional em História (ProfHistoria) para o Café História.

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