Um dos principais destinos turísticos do mundo, o Rio de Janeiro também é uma importante cidade quando o assunto é História. Tendo sido capital do Brasil por 197 anos, entre 1763 e 1960, o Rio de Janeiro foi cenário de diversos acontecimentos importantes para o país no período colonial, imperial e republicano.
Apesar de abrigar museus e monumentos conhecidos do grande público, a cidade oferece muitos outros lugares que podem gerar reflexões sobre o país e nossa sociedade. Foi pensando nisso que o pesquisador Montgomery Oswaldo Miranda criou um roteiro cultural no Centro Histórico da cidade.
“Eu tinha em mente, contudo, a ideia de que minha proposta de roteiro cultural não deveria dialogar necessariamente com os lugares de memória já consagrados no Centro Histórico, como, por exemplo, o Cais do Valongo. Eu queria estudar o que não se vê. Minha pretensão era descortinar aquilo que os estudantes ainda não conhecem”, explica Miranda.
O itinerário é resultado da dissertação “A educação não formal e os roteiros culturais no centro histórico do Rio de Janeiro: os lugares de amnésia”, defendida por Miranda, em 2022, no Mestrado Profissional em Ensino de História da Universidade do Estado do Rio de Janeiro. O trabalho pode ser acessado aqui.
A pesquisa está dividida em três partes. O primeiro capítulo trata das atividades pedagógicas não formais, suas práticas e a utilização de roteiros culturais nas aulas de História. O segundo capítulo aborda dois projetos que requalificaram o Centro Histórico do Rio de Janeiro durante o processo de redemocratização dos anos de 1980: a criação do Corredor Cultural e a restauração do Paço Imperial. Segundo o autor, as duas iniciativas transformaram a região em um laboratório para atividades pedagógicas não formais. O capítulo final é voltado ao estudo sobre a ocupação da cidade e o Centro Histórico do Rio de Janeiro e à apresentação do roteiro cultural.
Lugares de amnésia
O itinerário foi criado a partir do conceito de “lugares de amnésia”, do antropólogo francês Joël Candau. “A ironia desta proposta de roteiro cultural reside no fato de que os lugares de amnésia quando descortinados se convertem em lugares de memória”, provoca Miranda.
A duração estimada pelo pesquisador para completar todo o circuito é de seis horas e passa por 10 pontos. Entre os locais contemplados estão o Largo de Santa Rita, o Morro da Conceição, a Igreja de N. Sra. da Candelária e a Praça Tiradentes. “Quando, nos roteiros culturais, comunico aos alunos que o Centro Histórico já abrigou pelo menos seis cemitérios coloniais, diversos pelourinhos e a forca, que perambulou de sítio em sítio, as reações são geralmente de incredulidade”, revela Miranda.
Miranda explica que o roteiro pode ser adaptado, incluindo ou substituindo determinados locais, a depender do objetivo da atividade e dos interesses dos estudantes e professores. Contudo, aponta que o propósito da iniciativa é estimular a reflexão dos estudantes sobre os lugares visitados. “O roteiro de campo não pode ser uma exposição de informações factuais e enciclopédicas, como, por exemplo, datas fundadoras ou lideranças históricas, mas um exercício de problematização que instigue nos estudantes um desejo de questionar. Daí a relevância em utilizar analogias de episódios ou tragédias atuais. A História, afinal, não é constituída apenas por eventos de um passado longínquo”, adverte.