Jornal criado no século XIX alimentou o apetite dos britânicos por crimes e pelo sensacionalismo. Acervo encontra-se disponível para consulta pública e gratuita no British Newspaper Archive.
Por British Newspaper Archive
Tradução: Bruno Leal e Ana Paula Tavares
O British Newspaper Archive (Arquivo Britânico de Jornais) é recheado com as mais belas e estranhas histórias que você pode imaginar. No entanto, de todos os títulos históricos que fazem parte deste arquivo da Biblioteca Nacional Britânica, nenhum outro registrou o bizarro e o chocante da mesma maneira que o The Illustrated Police News.
O The Illustrated Police News foi um dos primeiros tabloides da Grã-Bretanha e um dos primeiros jornais a explorar o mórbido apetite do público britânico por crimes e pelo sensacionalismo. Fundado em 1843, o jornal foi parcialmente inspirado no sucesso de um título contemporâneo a ele, o The Illustrated London News, lançado um ano antes e que acabou por revelar o desejo dos leitores por notícias ilustradas.
As primeiras edições do The Illustrated Police News consistiam em uma página ilustrada e outras três páginas de texto. Originalmente, o jornal custava um centavo de libra e fez um sucesso significativo, alcançando uma circulação semanal de aproximadamente 175 mil cópias, grande parte vendida em Manchester, Liverpool e Birmingham.
Notícias terríveis e macabras do Reino Unido
Os repórteres The Illustrated Police News eram capazes de escaramuçar vastas quantidades de papel impresso de todo o Império Britânico, da Europa e dos Estados Unidos a fim de trazer aos seus leitores as notícias das mais recentes agressões, atrocidades, tragédias e assassinatos. Todas eram descritas em detalhes sórdidos e acompanhadas por ilustrações vívidas que buscavam capturar a essência da história reportada.
Considerado um jornal lido por trabalhadores, o The Illustrated Police News era frequentemente criticado por seu apelo ao que se considerava de mau gosto, embora tal crítica tivesse menos a ver com as histórias que eram noticiadas e mais com as suas ilustrações obscenas e de feridas jorrando sangue, de rostos de mulheres contorcidos pelo terror ao serem atacadas por maridos crueis ou de mulheres sonâmbulas em perigo – sempre representadas por jovens atraentes e com poucas roupas.
De fato, um artigo de 1886 encontrado na coleção do British Newspaper Archive revela que o jornal Pall Mall Gazette organizou uma votação pública que escolheu o The Illustrated Police News como “o pior jornal da Inglaterra”. Um dos repórteres do Pall Mall Gazette fez uma visita ao escritório do proprietário do IPN, o Sr. George Purkiss, localizado no “coração” da Strand Street, em Londres. O repórter descreveu Purkiss como um “homem robusto, de aparência razoável, de meia-idade, de altura média e de tez escura”.
Na ocasião, Purkiss afirmou ter meia dúzia de artistas bem-sucedidos em sua equipe permanente em Londres e algo em torno entre 70 e 100 artistas free-lancer espalhados por todo o país que lhe forneceram “os melhores retratos publicados por qualquer revista, não excluindo The Illustrated London News e The Graphic“. A precisão era de extrema importância e Purkiss descrevia como os artistas enviados para a cena do “terrível assassinato ou do incidente extraordinário” assim que a notícia chegasse ao escritório.
Purkiss pareceu indiferente quanto ao fato do periódico ter sido votado como o pior jornal da Inglaterra e “recebeu o veredicto do júri com muito bom humor, para não dizer complacência”, além de responder às queixas feitas contra ele. Entre as críticas estava a de que o The Illustrated Police News era um “jornal ruim, que incentivava a prática de crimes, e que tendia em geral à desmoralização das pessoas em cujas mãos ele estivesse.”
“Reconheço que é um jornal sensacionalista”, disse Purkiss, mas insistiu que, “excetuando as ilustrações sensacionalistas, não há nada em seus artigos que justificassem quaisquer objeções sérias quanto a ele”. O dono do jornal argumentou ainda que em vez de glorificar o crime, o jornal preveniu-o alertando de seus horrores e terríveis consequências. Purkiss chegou a argumentar que seus artigos poderiam atuar “como um estímulo para uma boa vida” e explicou que criminosos faziam grandes esforços para evitar que suas imagens aparecessem em suas páginas.
“Eu sei o que as pessoas dizem”, concluiu Purkiss, “mas como eu respondi a um amigo que me perguntou porque eu não produzi algum outro jornal que não o Police News, ‘Nem todos podemos ter os Timeses ou os Telegraphs que queremos, e se nós não podemos ter o Telegraph ou o Times, nós temos que suportar o Police News”.
Purkiss morreu de Tuberculose em 1892, mas o IPN continuou relatando o estranho e grotesco até 1938.
O original deste texto, publicado no blog do British Newspaper Archive, pode ser conferido clicando aqui. A tradução deste artigo foi autorizada ao Café História.