Desde o anúncio das indicações ao Oscar 2024, no dia 23 de janeiro, uma polêmica tomou conta das redes sociais: teria a Academia de Artes e Ciências Cinematográfica propositalmente esnobado a atriz Margot Robbie e a diretora Greta Gerwig por seus trabalhos no filme “Barbie” (Idem, 2023)? Uma enxurrada de postagens acusou o Oscar de machismo, alegando que a obra seria demasiado progressista para os gostos da Academia. Figuras públicas se envolveram no debate, manifestando seu descontentamento, como os atores Ryan Gosling e America Ferrera, indicados pelo mesmo filme nas categorias de atuação coadjuvantes. Até mesmo a ex-Secretária de Estado dos Estados Unidos Hillary Clinton se solidarizou com Robbie e Gerwig.
A polêmica, contudo, ofuscou o brilho de outras duas indicações recebidas pelas mesmas profissionais. Robbie está concorrendo como produtora na categoria de Melhor Filme, enquanto Gerwig disputa o prêmio de Melhor Roteiro Adaptado, em parceria com o marido Noah Baumbach. Por outro lado, abriu-se o precedente para uma importante reflexão sobre o passado do Oscar: como a Academia tratou, ao longo de sua história, o trabalho de profissionais mulheres atrás das câmeras?
Neste artigo, vou explorar esse tema, destacando uma série de lentas mudanças que levaram a Academia a demonstrar maior reconhecimento pelo trabalho de diretoras, roteiristas, editoras e tantas outras profissionais que contribuíram para a indústria do cinema – consciente de que, apesar do progresso, a academia ainda tem muitas barreiras a quebrar.
As pioneiras: categorias de roteiro, edição e canção original
A Academia de Artes e Ciências Cinematográficas foi fundada em 1927 por 36 profissionais da indústria hollywoodiana. Entre os membros fundadores, destacam-se apenas três mulheres: as atrizes Mary Pickford (Vencedora do Oscar de Melhor Atriz dois anos mais tarde pelo filme “Coquete”, de 1929) e Jeanie Macpherson, e a roteirista Bess Meredyth. A disparidade entre homens e mulheres nesse quadro reflete desigualdades marcantes na própria indústria cinematográfica da época, onde as mulheres tinham pouca voz e poucas oportunidades de trabalho atrás das câmeras.
Quando da criação do Oscar, também em 1927, apenas duas categorias apresentavam distinções de gênero – Melhor Ator e Melhor Atriz. Nas demais, homens e mulheres competiriam pelos mesmos prêmios. Na prática, as indicações ao Oscar ressaltavam o pouco espaço que as mulheres encontravam em Hollywood. No primeiro ano da premiação, por exemplo, nenhuma mulher recebeu qualquer indicação além das três profissionais que concorriam à estatueta de Melhor Atriz.
A Academia deu um pequeno passo na segunda edição do Oscar, quando Bess Meredyth e Josephine Lovett foram indicadas na categoria de Melhor Roteiro (naquele houve, houve uma única categoria dedicada aos roteiros). Nenhuma delas foi contemplada com a estatueta, porém, seu pioneirismo merece destaque. Meredyth tornou-se a primeira mulher a receber duas indicações em um mesmo ano, pelos roteiros de “Mulher de Brio” (A Woman of Affairs, 1928) e “O Prodígio das Mulheres” (Wonder of Women, 1929). Já Lovett obteve reconhecimento por “Garotas Modernas” (Our Dancing Daughters, 1928), escrito diretamente para o cinema em uma época em que os estúdios priorizavam adaptações de obras literárias. É importante destacar que os três filmes apresentavam mulheres em papéis de protagonismo ou, ao menos, de relevância para o desenvolvimento da trama.
Na terceira cerimônia do Oscar, realizada em abril de 1930, Frances Marion se tornou a primeira mulher a receber uma estatueta por seu papel atrás das câmeras: ela foi premiada pelo roteiro do filme “O Presídio” (The Big House, 1930). Diferentemente das obras de Meredyth e Lovett, a trama escrita por Marion era protagonizada por personagens masculinos, em um espaço marcado pela violência – a prisão que dá nome ao filme. Dois anos mais tarde, Marion venceu seu segundo Oscar, na categoria de Melhor Argumento (Best Story), por uma produção marcada pelos mesmos elementos. Trata-se de “O Campeão” (The Champ, 1931), sobre um boxeador decadente que luta contra o alcoolismo enquanto tenta criar seu filho.
Entre os prêmios originais do Oscar, as categorias de escrita foram as mais abertas a reconhecer o trabalho feminino. Até 1939, outros nove trabalhos assinados por mulheres foram indicados ao prêmio de Melhor Roteiro Adaptado, com uma vitória – Sarah Y. Mason, por “As Quatro Irmãs” (Little Women, 1934). No mesmo período, sete profissionais concorreram ao Oscar de Melhor Argumento, incluindo a própria Marion, com sua terceira indicação. A única vencedora foi Eleanore Griffin, por “Cidade dos Meninos” (Boys Town, 1938). A tendência se manteve com a criação do Oscar de Melhor Roteiro Original, em 1940. Naquele ano, Joan Harrison se tornou a primeira pessoa a ser indicada aos prêmios de Roteiro Original e Adaptado, respectivamente por seus trabalhos em “Correspondente Estrangeiro” (Foreign Correspondent, 1940) e “Rebecca – A Mulher Inesquecível” (Rebecca, 1940), ambos dirigidos por Alfred Hitchcock.
Outra categoria que também se mostrou propensa a reconhecer o trabalho de mulheres desde os anos iniciais foi Melhor Edição. Embora, atualmente, a montagem seja considerada um dos mais importantes aspectos técnicos de um filme, o prêmio de Melhor Edição foi estabelecido apenas em 1934. Os dez primeiros anos do prêmio marcaram a consolidação de um grupo restrito de pioneiras da área, formado por Anne Bauchens, Barbara McLean, Margaret Booth e Dorothy Spencer. Juntas, elas receberam dez indicações, com uma vitória para Bauchens – “Legião de Heróis” (North West Mounted Police, 1940) – e outra para McLean – “Wilson” (Idem, 1944).
Ainda nos anos 1930, a categoria de Melhor Canção Original reconheceu o trabalho da letrista Dorothy Fields, que recebeu duas indicações por “Roberta” (Idem, 1935) e “Ritmo Louco” (Swing Time, 1936), ambos musicais estrelados por Ginger Rogers e Fred Astaire. Pelo último, Fields venceu o prêmio pela canção “The Way You Look Tonight”, que se tornou um clássico estadunidense, passando por inúmeras regravações de sucesso. Entretanto, foram necessários quase dez anos até que uma mulher voltasse a ser indicada nesta mesma categoria, o que demonstra a disparidade de gênero no âmbito do prêmio.
Até os dias atuais, os prêmios de Edição, Roteiro Adaptado e Roteiro Original estão entre os que mais reconhecem e premiam mulheres. Entre as vencedoras da primeira categoria, destacam-se nomes como Adrienne Fazan, Anne V. Coates, Verna Fields, Marcia Lucas e Thelma Schoonmaker, que é uma das recordistas de vitórias na categoria e concorre, este ano de 2024, à sua nona estatueta, com o filme “Assassinos da Lua das Flores” (Killers of the Flower Moon, 2023). Já nos prêmios de roteiro, destacam-se Claudine West, Sonya Levien e a recordista em vitórias Ruth Prawer Jhabvala, premiada por “Uma Janela para o Amor” (A Room with a View, 1985) e “Retorno a Howards End” (Howards End, 1992), além de atrizes e diretoras como Emma Thompson e Sarah Polley.
Por sua vez, a categoria de Melhor Canção Original se tornou mais receptiva às mulheres a partir dos anos 1970, quando se iniciou a tendência de concessão de indicações e prêmios a cantoras populares. De acordo com Emanuel Levy, um dos principais estudiosos do Oscar, trata-se de um indicativo da forte interligação entre as diferentes formas de mídia artística. Entre as vencedoras, podemos listar Barbra Streisand, Carly Simon, Annie Lennox, Adele e Lady Gaga. Também pode ser mencionada a letrista Marylin Bergman, vencedora de três Oscars em categorias musicais: por “Crown, o Magnífico” (The Thomas Crown Affair, 1968) e “Nosso Amor de Ontem” (The Way We Were, 1973); e uma vez na categoria de Melhor Trilha Sonora Adaptada por “Yentl” (Idem, 1983).
Mulheres no comando: direção e produção
O Oscar foi bem menos receptivo no que diz respeito às categorias associadas a posições de comando no processo de produção de um filme, tradicionalmente dominadas pelos homens. Foi apenas na década de 1970 que ocorreram as primeiras indicações para mulheres nas categorias de Melhor Filme e Melhor Direção. Essa demora, em grande medida, reflete a marginalização sofrida por essas profissionais desde os primórdios da indústria cinematográfica. Levy assinala que o reconhecimento das mulheres em posições de comando acompanhou as mudanças sociais da época, como as reflexões proporcionadas pelo movimento feminista e o surgimento de uma nova geração de artistas que propunha rever o modelo clássico hollywoodiano.
Muitos são os nomes invisibilizados ao longo da História. Lois Weber, pioneira do cinema silencioso, não conseguiu efetivar uma transição para o cinema falado, embora sua carreira tenha sido redescoberta nos últimos anos. Dorothy Arzner, que dirigiu sucessos de público nos anos 1930 e 1940, alavancando a carreira de atrizes como Katharine Hepburn, afastou-se de Hollywood devido aos limites que o machismo e a homofobia impunham ao seu trabalho. Mais conhecida como atriz, Ida Lupino também foi diretora, porém seus filmes só foram valorizados após sua morte.
A primeira mulher a ser indicada e vencer o Oscar de Melhor Filme foi Julia Phillips, por “Golpe de Mestre” (The Sting, 1973). Ela produziu outros dois títulos influentes daquele período – “Taxi Driver” (Idem, 1976), que lhe valeu uma segunda indicação, e o sucesso de bilheteria “Contatos Imediatos de Terceiro Grau” (Close Encounters of the Third Kind, 1977) – entretanto, sua carreira estagnou devido a uma série de problemas pessoais. Posteriormente, ela publicou um livro de memórias abordando temas como machismo, assédio e uso de drogas em Hollywood.
A presença de mulheres na categoria de Melhor Filme se tornou mais recorrente a partir da década de 1980, ganhando forças desde então. Este ano, por exemplo, há oito profissionais concorrendo ao prêmio. Apesar disso, o número de vencedoras ainda é reduzido: trata-se de um grupo de 14 mulheres, sendo Dede Gardner a única a receber a honraria por duas vezes, por “Doze Anos de Escravidão” (12 Years a Slave, 2013) e “Moonlight – À Luz do Luar” (Moonlight, 2016).
Os números são ainda menos expressivos no que diz respeito a Melhor Direção. Em 1976, a italiana Lina Wertmuller tornou-se a primeira mulher indicada ao prêmio por “Pasqualino Sete Belezas” (Pasqualino Settebellezze, 1975). É um feito notável, não somente pelo ineditismo, mas pelo fato de uma produção italiana ter conquistado o apoio de uma Academia que priorizava filmes falados em inglês. O pioneirismo de Wertmuller, todavia, não favoreceu novas indicações: por quase vinte anos, ela foi a única indicada na categoria.
A falta de reconhecimento desembocou em uma das maiores polêmicas midiáticas sobre machismo no Oscar. Em 1983, muito antes do caso “Barbie”, Barbra Streisand venceu o Globo de Ouro de Melhor Direção por Yentl (Idem, 1983), levando parte da imprensa a afirmar que ela repetiria o feito no Oscar. Quando o anúncio das indicações ao prêmio revelou que apenas homens competiam naquela categoria, organizações feministas saíram em defesa de Streisand. Na noite da premiação, manifestantes levaram cartazes denunciando a falta de inclusão de mulheres na categoria.
O burburinho surtiu pouco efeito. Nos dez anos seguintes, três produções dirigidas por mulheres concorreram ao prêmio de Melhor Filme, porém, não receberam indicações a Melhor Direção – “Filhos do Silêncio” (Children of a Lesser God, 1986) de Randa Haines, “Tempo de Despertar” (Awakenings, 1990) de Peny Marshall, e “O Príncipe das Marés” (The Prince of Tides, 1991), também dirigido por Streisand. Em uma entrevista concedida durante o Festival de Cinema de Tribeca de 2017, Streisand criticou o conservadorismo de membros mais antigos da Academia e declarou: “o machismo me custou múltiplas indicações ao Oscar”.
Foi apenas em 1993 que Jane Campion tornou-se a segunda mulher indicada na categoria por “O Piano” (The Piano, 1993). Desde então, o feito se repetiu outras sete vezes, com três vitórias: Kathryn Bigelow por “Guerra ao Terror” (The Hurt Locker, 2008), Chloe Zhao por “Nomadland” (Idem, 2020) e a própria Campion por “Ataque dos Cães” (The Power of the Dog, 2021).
Se o Oscar relutou em reconhecer diretoras e produtoras de longas-metragens de ficção, os prêmios dedicados a documentários, curtas-metragens e filmes de animação foram muito mais receptivos. A presença feminina nestas categorias se fortaleceu a partir dos anos 1960, com destaque para as documentaristas Barbara Kopple e Sharmeen Obaid-Chinoy e a animadora Faith Hubley.
Apesar do retrospecto pouco positivo, ao que indicam as recentes mudanças na composição da Academia, a presença de mulheres nestas categorias será constante nos próximos anos. Nesse sentido, convém ainda lembrar que, apesar das polêmicas em torno de “Barbie”, a francesa Justine Triet concorre ao prêmio de Melhor Direção este ano por “Anatomia de uma Queda” (Anatomie d’une Chute, 2023).
O desequilíbrio nos prêmios técnicos
Os chamados prêmios técnicos do Oscar são marcados por uma dicotomia: enquanto alguns são bastante receptivos aos trabalhos de mulheres, outros apresentam reconhecimento nulo. Essa disparidade é resultado das limitações impostas às mulheres que buscavam trabalho atrás das câmeras citadas anteriormente. No primeiro grupo encaixam-se, além da já mencionada categoria de Melhor Edição, os prêmios de Melhor Direção de Arte, Melhor Figurino e Melhor Maquiagem. Trata-se de honrarias para reconhecer trabalhos de forte impacto visual, o que indica a divisão sexual dentro do mercado de trabalho cinematográfico.
Concedida desde a primeira cerimônia, a categoria de Melhor Direção de Arte reconheceu as contribuições de uma mulher pela primeira vez somente no ano de 1941, quando Julia Heron foi indicada por “Lady Hamilton – A Divina Dama” (That Hamilton Woman, 1940). Até os anos 1960, Heron foi o nome de destaque no grupo restrito de profissionais indicadas ao prêmio, tendo recebido cinco indicações e uma vitória, por “Spartacus” (Idem, 1960), ao lado da britânica Carmen Dillon, com duas indicações e um prêmio por “Hamlet” (Idem, 1948).
Desde então, o número de indicadas cresceu, abarcando também profissionais que obtinham reconhecimento por seus trabalhos em produções em outros idiomas, como Anna Asp, por “Fanny e Alexander” (Fanny och Alexander, 1982). Em sua maioria, as mulheres são indicadas por cenários nos chamados “filmes de época”, embora também tenham recebido a distinção por trabalhos em filmes contemporâneos, de fantasia ou ficção científica. A maior vencedora é Francesca Lo Schiavo, com três prêmios, todos eles compartilhados com o marido Dante Ferretini – “O Aviador” (The Aviator, 2004), “Sweeney Todd: O Barbeiro Demoníaco da Rua Fleet” (Sweeney Todd: The Demon Barber of Fleet Street, 2007) e “A Invenção de Hugo Cabret” (Hugo, 2011).
O Oscar de Melhor Figurino foi criado em 1948, em meio aos debates sobre como o cinema poderia ser empregado para alavancar a indústria da moda e vice-versa. À época, estilistas renomados prestavam serviços aos estúdios hollywoodianos, de modo que a nova honraria visava valorizar tais contribuições. O primeiro ano da categoria, dividida em Melhor Figurino em Cores e Melhor Figurino em Preto-e-Branco, contou com apenas dois concorrentes em cada disputa, sendo que as mulheres dominaram a última: Dorothy Jeakins e Barbara Karinska desbancaram a veterana e favorita Edith Head pelo épico “Joana D’Arc” (Joan of Arc, 1948). Head reagiu mal à derrota. Em seu livro de memórias, ela escreveu estar certa do prêmio, tanto pelos longos anos de contribuição à indústria cinematográfica, quanto considerar o figurino premiado inferior em termos de qualidade.
Apesar do descontentamento inicial, Head recebeu 35 indicações ao Oscar de Melhor Figurino, tendo vencido o prêmio por oito vezes, tornando-se a recordista isolada da categoria e uma das pessoas mais vitoriosas da história do Oscar. Ela também foi a primeira pessoa a vencer em ambas as modalidades em um mesmo ano. Sua influência na indústria cinematográfica foi tamanha que, em sua homenagem, a Pixar criou a personagem Edna Moda, em “Os Incríveis” (The Incredibles, 2004).
É interessante observar que a categoria de Melhor Figurino é a única que teve mulheres indicadas em todos os anos desde sua criação, sendo que, em treze ocasiões, todos os filmes em competição tinham ao menos uma figurinista entre os profissionais reconhecidos. Além de Head e Jeakins, outros nomes importantes são Irene Sharaff (5 vitórias), Colleen Atwood e Milena Canonero (ambas com 4 Oscars).
A categoria de Melhor Maquiagem é marcada por uma notável presença feminina desde seus primeiros anos. Criada em 1981, têm como principais vencedoras Ve Neill (3 Oscars), Michèle Burke e Yolanda Toussieng (2 prêmios cada). Em nove cerimônias, todos os filmes indicados contaram com ao menos uma maquiadora. Os trabalhos reconhecidos costumam abordar o envelhecimento de personagens ao longo da trama, monstros e criaturas fantásticas ou maquiagens que transformam completamente a aparência física dos atores em cena. Aqui, assim como em Melhor Figurino, há um reflexo da divisão dos papais de gênero existente na sociedade: áreas que são marcadamente femininas.
Em contraponto, o segundo grupo das categorias técnicas é marcado por sérias restrições no que diz respeito ao reconhecimento de mulheres. O pior retrospecto recai sobre o Oscar de Melhor Fotografia: concedido desde 1927, contemplou apenas três profissionais com indicações até o momento, sendo que nenhuma foi vencedora! A questão é ainda mais impactante quando consideramos que a primeira nomeação ocorreu somente em 2017. Foram indicadas Rachel Morrison por “Mudbound – Lágrimas sobre o Mississippi” (Mudbound, 2016), Ari Wegner por “Ataque dos Cães” e Mandy Walker por “Elvis” (Idem, 2022).
Outra categoria tradicional que se encaixa nesse quadro é Melhor Trilha Sonora. Desde a instituição do prêmio em 1935 e suas eventuais transformações ao longo dos anos, compositoras foram indicadas somente em 14 ocasiões, sendo que quatro emergiram como vencedoras – além da já mencionada Marylin Bergman, Rachel Portman e Anne Dudley venceram o prêmio de Melhor Trilha Sonora para Comédia, respectivamente, por “Emma” (Idem, 1996) e “Ou Tudo ou Nada” (The Full Monty, 1997), enquanto Hildur Guðnadóttir venceu o Oscar de Melhor Trilha Sonora Original por “Coringa” (Joker, 2019).
Na categoria de Melhores Efeitos Visuais, entregue desde 1939, a presença feminina é ainda menor: até 2024, apenas cinco mulheres haviam sido indicadas ao prêmio, com vencedoras em duas ocasiões – Suzanne M. Benson por “Aliens” (Idem, 1986) e Sara Bennett por “Ex Machina” (Idem, 2015). A única categoria que apresentou mudanças significativas foi a de Melhor Som, de modo que é difícil encaixá-la em um dos grupos descritos anteriormente. Criada em 1929, ela foi dominada por homens até a década de 1980. A partir de então, as mulheres passaram a receber maior reconhecimento, com indicações e vitórias. As pioneiras foram Kay Rose, Cecelia Hall e Gloria Borders.
Apagamento, mas avanços significativos
A história do Oscar é marcada por um apagamento das profissionais que atuaram tanto na frente quanto por atrás das câmeras na indústria cinematográfica. Por outro lado, as mudanças recentes adotadas pela Academia têm contribuído para ampliar a diversidade dos indicados e vencedores, estabelecendo novas tendências que devem se consolidar nos próximos anos. E, apesar da polêmica em torno de “Barbie”, os Óscares em homenagem aos melhores filmes de 2023 contam com uma significativa participação feminina em diversas categorias, incluindo algumas favoritas para a vitória. Ao total, elas representam 48 indicações em todas as categorias, exceto Melhor Filme Internacional, Melhor Fotografia e Melhor Som.
Referências
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WILEY, Mason; BONA, Damien. Inside Oscar: the unnoficial history of the Academy Awards. Nova Iorque: Ballantine Books, 1996.
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Com citar este artigo
CLARO, Celso Fernando. O Oscar e as mulheres atrás das câmeras (Artigo). In: Café História. Disponível em: https://www.cafehistoria.com.br/o-oscar-e-as-mulheres-atrás-das-cameras/. ISSN: 2674-5917. Publicado em: 26 Fev. 2024.