Durante a Primeira Guerra Mundial, o jovem francês Gabriel (Nino Rocher) se torna voluntário da infantaria de seu país. Sua história é contada por meio de cartas que ele envia do front para Marguerite (Aniouta Maïdel), sua amada. À medida que as cartas de Gabriel são lidas, acompanhamos A sua jornada através do otimismo e indo em direção à desilusão.
“O Medo” é uma produção francesa de 2015. É dirigida por Damien Odoul e tem muitos méritos técnicos. O figurino é ótimo e a atuação de Nino Rocher na pele do soldado Gabriel é convincente. A ambientação das trincheiras é muito boa, sobretudo as noturnas. A sensação em algumas cenas é de total imersão, graças a um ótimo trabalho de edição e som.
O filme deixa a desejar na narração. A história é quase toda conduzida pela narração das cartas em off que Gabriel escreve para a noiva. Por isso, o conteúdo dessa narrativa acaba sendo muito superficial. O tom intimista não é alcançado nunca e chega a ser cafona em vários momentos, por mais que tenhamos que considerar o contexto e o perfil de relação de gênero do período. Porém, um acerto do filme dentro do quesito narrativa são as cenas de delírio do personagem, algo que poderia ter sido ainda mais bem explorado pelo roteiro e direção.
Uma coisa pode incomodar historiadores, particularmente aqueles que conhecem um pouco mais a História da Primeira Guerra Mundial. O filme sugere alguns mitos sobre a Grande Guerra. Um deles é a ideia de que a população francesa, em geral, recebeu com grande júbilo a notícia da guerra. Isso fica expresso já na primeira cena do filme, quando várias pessoas dançam, cantam e bebem, eufóricas pelo anúncio do conflito, enquanto um solitário Jean Jaurès é espancado (Jaurés apunha-se a guerra e seria assassinado logo depois por um nacionalista pró-guerra). Outro mito diz respeito a duração da guerra. Em certa cena, os soldados repetem o mantra de “antes do Natal estarão em casa”, algo que, de fato, foi repetido por muitos soldados, mas que não era o entendimento consensual. Também vale a pena destacar a questão dos perfis dos soldados retratados no filme. O filme tem personagens muito arquétipos: o louco, o insensível, o poeta, o louco etc. Isso diminui a complexidade das tropas.
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Essas imperfeições de caráter histórico, porém, acaba sendo amenizado com as belas paisagens do filme, com cenas que parecem extraídas de telas de pintores como Otto Dix, Paul Nash e John Singer Sargent. Também são amenizadas com outros bons acertos, como a presença constante nas cenas de batalha e retaguarda de soldados negros, oriundos das colônias francesas – algo constantemente esquecido por grandes produções cinematográficas.
No fim das contas, “O Medo” é um filme que vale a pena ser visto. Representa a Primeira Guerra de forma digna e relativamente correta. Seu grande mérito é mostrar o impacto duradouro do conflito na psiquê daqueles que lutaram. Mais do que ex-combatentes, eles acabaram se descobrindo vítimas da guerra. O filme tem cerca de uma hora e meia e está disponível na plataforma de streaming Reserva Imovision.