Mesmo depois da Guerra Civil dos Estados Unidos (1861-1865) [1], milhares de afro-americanos foram enforcados, queimados e mortos a tiros, espancados e torturados por turbas brancas que celebravam esse tipo de atrocidade e que raramente eram responsabilizadas pela Justiça por seus crimes.
Em 1918, o deputado Leonidas Dyer, do Missouri, apresentou um projeto de lei (HT13) que visava tornar o linchamento um crime federal. Na época, Dyer disse que o linchamento – e a recusa das autoridades locais e dos estados em processar os perpetradores desses crimes – violava os direitos das vítimas, conforme previsto na 14ª emenda da Constituição Norte-Americana.
Após uma conhecida ação do Congresso norte-americano que visava regulamentar o trabalho de menores de idade, Dyer apelou para seus colegas, questionando-os quanto às suas prioridades no parlamento:
“Se o Congresso sentiu que era seu dever fazer isso, por que não deveria também assumir jurisdição e promulgar leis para proteger as vidas dos cidadãos dos Estados Unidos contra linchamentos e outras formas de violência de turbas sociais? Os direitos de propriedade, ou o que um cidadão deve beber, ou as idades e condições em que as crianças devem trabalhar, são mais importantes para a nação do que a própria vida?” (Registro do Congresso, Câmara, 65º Congresso, 2ª sessão, 7/5/1918, páginas 6177-6178. )
Enquanto seu projeto de lei vacilava, a violência racial se intensificou e aumentou. Militares negros que lutaram por seu país na Primeira Guerra Mundial voltaram para casa depois de um surto de violência racial conhecido como “Verão Vermelho”, devido à quantidade de sangue derramado.
O Massacre de Tulsa
O “Massacre de Tulsa” em 1921 foi um dos piores exemplos de violência racial em massa na história americana. A violência se concentrou no Greenwood District de Tulsa (também conhecido como “Black Wall Street”), uma área comercial com muitos negócios de propriedade de negros bem-sucedidos. Em 24 horas, centenas de cidadãos negros norte-americanos foram mortos, milhares desabrigados e 35 quarteirões da cidade viraram ruínas.
O “Capítulo de Tulsa”, texto que compôs parte de um relatório da Cruz Vermelha dos Estados Unidos, ajudou muitas vítimas ao compilar informações com fotos de cenas de motins, áreas devastadas, tropas da Guarda Nacional, casas destruídas, vítimas mortas e sobreviventes do massacre em alojamentos temporários.
Com o apoio da NAACP, sigla em inglês para “Associação Nacional para o Progresso de Pessoas de Cor”, Dyer intensificou seus esforços. Em 1922, depois que o chamado “Projeto de Lei Anti-Linchamento de Dyer” foi aprovado pela Câmara e entrou em fila de votação no Senado, o deputado apresentou o chamado “Mapa de Registro Vermelho de Linchamento” aos seus colegas no Congresso. O documento mostrava os linchamentos divididos por estado da federação e nomeava os congressistas que se opunham ao projeto.
“Os direitos de propriedade, ou o que um cidadão deve beber, ou as idades e condições em que as crianças devem trabalhar, são mais importantes para a nação do que a própria vida?”
— Leonidas Dyer
O mapa foi criado por uma líder da cruzada anti-linchamento, Ida B. Wells-Barnett, editora do Memphis Free Speech and Headlight e autora de dois textos anti-linchamento, intitulados Southern Horrors e The Red Record.
Dyer levaria o assunto diversas vezes para a tribuna do Congresso ao longo da década de 1920, mas sempre sem sucesso. Quase 200 projetos de lei anti-linchamento foram apresentados ao Congresso apenas durante a primeira metade do século XX, e esses esforços continuam até hoje.
Para saber mais
- “Redescobrindo a história negra”
- Registros de distúrbios civis e o “Verão Vermelho”
- Legislação Anti-Lynching renovada
- Relato de uma testemunha ocular do “Massacre de Tulsa”
Notas
[1] Nota do tradutor: também conhecida como “Guerra de Secessão”, este conflito civil nos Estados Unidos colocou Norte contra o Sul. A guerra culminou com o fim da escravidão no país.
Como citar este artigo
KLEIMAN, Miriam. O Massacre de Tulsa. In: Café História. Disponível em: https://www.cafehistoria.com.br/o-massacre-de-tulsa/. Publicado em: 16 ago. 2020. ISSN: 2674-5917.Texto publicado originalmente em inglês no blog Piecies of History, do National Archives, com o título “The Tulsa Massacre”. Tradução: Bruno Leal.
Muito interessante e atual o artigo, no momento em que o movimento “Vidas Negras Importam” (“Black Lives Matter”) ganha novo impulso, nos EUA e em várias partes do Mundo. Uma pequena advertência ao tradutor: Guerra de Secessão, e não Sucessão. Sorry…
Atual mesmo, Oscar. Uma história longa e que infelizmente possui muitas pontas afiadas. Obrigado pelo toque. Já corrigimos o erro de digitação!
Gostei bastante do artigo. Vocês foram excelentes!
Valeu!