Por mais estranho que possa parecer, a visita a cemitérios está no roteiro de muitos turistas. Atraídos pela curiosidade e admiração, há quem se interesse em conhecer túmulos de pessoas famosas ou históricas, como Marilyn Monroe, que está enterrada no Westwood Village Memorial Park & Mortuary, em Los Angeles (EUA), ou Karl Marx, sepultado no cemitério de Highgate, em Londres (ENG).
Mais do que uma foto para guardar de recordação ou postar nas redes sociais, uma visita ao cemitério também pode render reflexões sobre as pessoas que foram enterradas naquele local ou sobre a sociedade em que elas viveram. Essa é a proposta da dissertação “Aqui vive a memória: educação patrimonial a partir de um roteiro virtual pelo Cemitério Santa Izabel no distrito de Icoaraci (Belém/PA)”, defendida pelo pesquisador Marco Antônio Coelho Soares, em 2021, no Mestrado Profissional em Ensino de História da Universidade Federal do Pará (UFPA). O trabalho pode ser acessado aqui.
A pesquisa está dividida em três partes. Os dois primeiros capítulos são dedicados a questões mais teóricas e discutem o cemitério enquanto um espaço de representação social da memória e de construção do conhecimento histórico. Também são abordados os conceitos de patrimônio, educação patrimonial, memória e identidade e a história de Icoaraci e do Cemitério Santa Izabel. O último capítulo apresenta um roteiro virtual pelo cemitério de Santa Izabel como proposta de intervenção pedagógica a partir da educação patrimonial no ensino de História para as turmas do ensino fundamental.
“Podemos definir o cemitério, em um primeiro momento, como o destino dos mortos, a última morada de todos nós. Contudo, é também um lugar com amplas possibilidades para ser mais do que isso”, defende Soares.
O cemitério como fonte histórica
Localizado a 20 quilômetros de Belém, Pará, Icoaraci é um dos oito distritos administrativos que compõem a capital paraense. Também conhecida como Vila Sorriso, a fundação de Icoaraci está relacionada ao processo de conquista e ocupação portuguesa da região amazônica no século XVII. Somente em 1889 a administração municipal de Belém fundou o Cemitério Santa Izabel, destinado a receber os mortos do distrito.
Para Soares, o estudo do cemitério como um espaço produtor de memória da cidade ajuda a compreender a formação da identidade local. “A localização das sepulturas demonstra uma estratificação social, evidenciando a posição do morto. Os túmulos mais bem localizados, em melhor estado de conservação e de mais fácil acesso estão situados de frente para a alameda principal, perto da capela ou próximos à entrada principal do cemitério”, explica.
Essas questões foram levadas para a sala de aula e debatidas com estudantes do 8º e 9º ano da Escola Estadual Professora Yolanda Leduc Peralta, situada no bairro da Campina, no distrito de Icoaraci. “Um dos objetivos iniciais deste trabalho era perceber o modo como os nossos alunos compreendem o patrimônio, que concepções de patrimônio possuem e em que medida o referido cemitério é visto como um espaço de memória por eles, além de observar qual a relação entre o patrimônio e aquilo que é fúnebre, que memórias esses alunos têm com relação ao feriado de finados e ao cemitério de Santa Izabel”, detalha Soares.
O roteiro virtual pelo Cemitério Santa Izabel destaca pontos como a arquitetura dos portões e de lápides, a análise de epitáfios, os azulejos portugueses que revestem alguns dos túmulos e jazigos de pessoas notáveis da cidade. “A partir do trabalho de análise do cemitério enquanto fonte histórica, procuramos também realizar uma leitura diferente da concepção que se tem sobre o passado e sua relação com o presente, não como dois momentos distintos, mas sempre em um diálogo constante e necessário para interpretar os fatos históricos, enfatizando especialmente como os alunos compreendem essa relação”, conclui.
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