O cão mais velho da América revela novos dados da chegada do homem ao continente

Uma equipe de cientistas, liderada pela Universidade de Buffalo, nos Estados Unidos, encontrou os restos mais antigos de um cão doméstico descoberto na América. Os fragmentos ósseos sustentam a teoria de que esses animais podem ter migrado com os humanos ao longo da costa do Pacífico.
18 de março de 2021
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Fragmento de osso que pertence a um cão que viveu há cerca de 10.150 anos. / Douglas Levere / Universidade de Buffalo.

A história dos cães se confunde, desde os tempos antigos, com a dos humanos que os domesticaram. A recente descoberta no Alasca dos mais antigos vestígios conhecidos de um cão doméstico na América agora nos permite rastrear até onde sua história remonta à América e que rota os cães usaram para entrar no continente.

A Universidade de Buffalo, nos Estados Unidos, conduz o estudo que analisa esse fragmento ósseo – um pedaço de fêmur – encontrado no sudeste do Alasca e que pertence a um cão que viveu na região há cerca de 10.150 anos.

“Por se tratar de um fragmento ósseo tão pequeno, a princípio só sabíamos que era de um mamífero e suspeitávamos que pudesse ser de um urso, pois muitos ossos desse animal haviam sido encontrados nesta caverna. No entanto, ao analisar seu DNA, descobrimos que era um parente próximo de cães americanos pré-europeus ”, disse Charlotte Lindqvist, da universidade americana e principal autora do estudo, ao portal espanhol SINC .

Os pesquisadores analisaram o genoma mitocondrial do canino e concluíram que o animal pertencia a uma linhagem de cães cuja história evolutiva divergia da dos siberianos há 16.700 anos. O momento dessa separação coincide com um período em que os humanos podem ter migrado para a América do Norte por uma rota costeira, que incluía o sudeste do Alasca.

“Se pudermos chegar ao genoma nuclear desse cão antigo, poderemos procurar certas características genéticas de cães modernos que conhecemos. Por exemplo, poderíamos procurar variantes genéticas conhecidas em cães de trenó e que se acredita estarem relacionadas à adaptação dietética e fisiológica à vida em ambientes árticos ”, diz o especialista.

Uma descoberta casual

A pesquisa, publicada na revista Proceedings of the Royal Society B, surgiu do sequenciamento de parte do DNA de uma coleção de centenas de ossos escavados anos antes no sudeste do Alasca. Timothy Heaton, professor de Ciências da Terra da Universidade de Dakota do Sul, participou desse trabalho de campo. “Meu colega e coautor do estudo, Professor Heaton, enviou o osso para um laboratório na Universidade do Arizona e lá o dataram por radiocarbono em 2004”, explica Lindqvist.

Uma vez que os cães são um indicador da ocupação humana, os resultados do estudo ajudam a estabelecer não apenas o momento, mas também o local da entrada de cães e pessoas na América. “Nosso estudo apóia a teoria de que essa migração ocorreu exatamente quando as geleiras costeiras recuaram durante a última Idade do Gelo “, diz Lindqvist.

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Flavio Augusto da Silva Coelho, estudante de doutorado em ciências biológicas na Universidade de Buffalo, segura o antigo fragmento de osso de cachorro encontrado no sudeste do Alasca. / Douglas Levere / Universidade de Buffalo.

Para Flavio Augusto da Silva Coelho, da Universidade de Buffalo e coautor do artigo, “nosso cão primitivo do sudeste do Alasca sustenta a hipótese de que a primeira migração canina e humana ocorreu pela rota costeira do noroeste do Pacífico ao invés vez do corredor continental central, que, conforme se acredita, só foi viável cerca de 13.000 anos atrás ”.

Os primeiros ossos de cães americanos antigos dos quais o DNA foi sequenciado pertenciam a uma região do meio-oeste dos Estados Unidos. Após essa nova descoberta, os cientistas compararam o genoma mitocondrial do osso com o de outros cães antigos e modernos. Esta análise mostrou que o cão do sudeste do Alasca compartilhou um ancestral comum, cerca de 16.000 anos atrás, com cães americanos que viveram antes da chegada dos colonizadores europeus.

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Mapa da área de estudo. / Bob Wilder / University at Buffalo.

Em relação à dieta alimentar, a análise dos isótopos de carbono do fragmento ósseo indica que provavelmente ele possuía uma dieta marinha, que poderia ser composta por alimentos como peixes e restos de focas e baleias.

“É provável que os cães fossem usados ​​para transporte – como cães de trenó, como são usados ​​hoje nas regiões árticas – para caça e como gusrdiães para alertar e proteger contra animais selvagens e outros perigos, e talvez até mesmo como fontes de pelos e comida ”, conclui Lindqvist.

Referência

Charlotte Lindqvist et al. “Um dos primeiros cães do sudeste do Alasca oferece suporte a uma rota costeira para a primeira migração de cães para as Américas.” Anais da Royal Society B.

Fonte: SINC / Tradução: Bruno Leal

Eva-Rodríguez-Nieto

Jornalista e redatora do SINC, portal espanhol especializado em informação em ciências naturais e sociais.

4 Comments Deixe um comentário

  1. A descoberta me parece comprovar a hipótese de uma primeira migração humana, acompanhada de cães, a cerca de 16 mil anos atrás, pela via litorânea do Alasca, mas não significando, necessariamente, a comprovação de ter sido essa primeira rota migratória para à América. Essa é uma questão complexa, e ainda não resolvida, pois existem datações mais antigas obtidas em outras regiões do continente americano.

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