De acordo com artigo escrito por Bruce Macfarlane, professor da Universidade de Southampton, e por Damon Burg, pesquisador da Escola de Educação Southampton, as mulheres docentes na Grã-Bretanha ganham menos, em média, do que a sua contraparte masculina. O motivo: elas se dedicam mais a atividades ligadas àquilo que chamamos de cidadania acadêmica, que são pouco valorizadas e não levam a promoções ou melhores salários. Os homens, por sua vez, dedicam menos tempo a tarefas como orientação, comitês universitários e outras atividades de cidadania acadêmica; eles se concentram mais em suas próprias pesquisas – uma atividade mais propensa a reconhecimento externo e aumentos salariais.
Baseados em entrevistas realizadas com 25 professoras e cinco professores de nove universidades do Reino Unido, os dois pesquisadores descobriram que as professoras tendiam a falar sobre demandas mais amplas de suas cadeiras departamentais, enquanto que os professores focavam muito mais em suas necessidades de ganhar bolsas de pesquisa.
“As professoras eram muito mais propensas a identificar a cidadania acadêmica como uma parte fundamental do que entendiam ser docente“, explicou Macfarlane, que apresentou seus resultados na conferência anual da Society for Research into Higher Education (Centro de Pesquisas em Educação Superior), realizada Newport, em Wales, de 9 a 11 de dezembro de 2016.
Orientar estudantes de doutorado e novatos, além de atuar em comitês e assumir compromissos fora da universidade também foram mencionados como tarefas docentes.
“Isso significa que elas estavam fazendo coisas que não resultariam em uma publicação ou que não as levariam a ganhar uma bolsa de pesquisa”, acrescentou.
Embora pesquisas anteriores tenham demonstrado que mulheres acadêmicas no início e no meio da carreira assumem papéis mais administrativos e de acompanhamento, apoio e colegiado do que os homens, o que age como um freio às suas oportunidades de promoção, as últimas entrevistas mostram que essa tendência continua quando as mulheres atingem posições sêniores, sublinhou Macfarlane.
“Em qualquer momento da carreira, mulheres acadêmicas tendem a fazer uma quantidade desproporcional de serviço que não vai levar à promoção”, afirmou o pesquisador. “Mesmo no nível de professorado, [elas] tendem a assumir mais destes papéis de serviço”, acrescentou. Isso pode explicar em parte porque as mulheres ganham menos do que os homens no meio acadêmico, acrescentou Macfarlane.
De acordo com a pesquisa Times Higher Education Research Pay, de 2016, o pagamento de professoras universitárias do Reino Unido em 2014-15 foi em média de menos £ 4.570 (5,7 %) do que as £ 79.252 que ganharam os professores.
“Uma vez que a recompensa é baseada em publicações e concessões de bolsas, isso pode ter algum impacto nos níveis de remuneração docente”, disse Macfarlane.
“Um(a) professor(a) pode começar recebendo £ 60.000 por ano, mas poderá obter até £ 120.000 na minha universidade, por exemplo; por isso precisamos encontrar maneiras de promover a ascensão das mulheres nas escalas de remuneração docente”, acrescentou.
Segundo Macfarlane, promoções e planos de remuneração devem ter uma visão mais holística da contribuição dos professores, em vez de simplesmente olhar para a quantidade de financiamento de pesquisa que ganharam.
“Talvez as mulheres estejam sendo penalizadas porque têm uma visão mais ampla do que significa ser professor. As universidades não devem apenas reconhecer a importância da cidadania acadêmica, mas levá-las em conta em suas estruturas de recompensas e reconhecimento”, acrescentou o pesquisador.
Fonte: The Higher Educaction
1. Tradução de Bruno Leal e Ana Paula Tavares. Tradução autorizada.