De acordo com o vice-presidente da República, golpe foi dado para “enfrentar a desordem, subversão e corrupção que abalavam as instituições e assustavam a população”.
Bruno Leal | Agência Café História
O vice-presidente Hamilton Mourão, general da reserva do Exército Brasileiro, utilizou a sua conta pessoal no Twitter nesta terça-feira, 31 de março, para enaltecer o golpe militar de 1964, que completa hoje 56 anos.
“Há 56 anos, as FA intervieram na política nacional para enfrentar a desordem, subversão e corrupção que abalavam as instituições e assustavam a população. Com a eleição do General Castello Branco, iniciaram-se as reformas que desenvolveram o Brasil”, escreveu o vice-presidente, que adicionou ao texto a hashtag “#31deMarçopertenceàHistória”.
A comemoração do golpe civil-militar não é uma novidade no Brasil. O evento começou a ser comemorado pela própria ditadura militar, que usava a data para fazer propaganda política do regime. Com a redemocratização do país, este tipo de celebração se tornou limitada a pequenos círculos militares. No governo Fernando Henrique Cardoso (1994-2002), a comemoração se tornou mais frequente, sobretudo no âmbito do Clube Militar, no Rio de Janeiro. No governo Jair Bolsonaro, o golpe tem sido comemorado abertamente por diversos setores do governo, a começar pelos presidente e vice-presidente da República, o que tem provocado inúmeros protestos de pesquisadores, autoridades públicas e entidades como a OAB.
Em 2019, o deputado federal Túlio Gadêlha (PDT-PE) coordenou os debates em torno do Projeto de Lei 980/15, que propõe a criminalização da comemoração do golpe de 1964 e prevê diversas ações com o objetivo criar uma cultura de valorização da Democracia e dos Direitos Humanos. O projeto segue em discussão na Câmara dos Deputados (veja aqui um debate na Comissão de Cultura e leia aqui um artigo do Café História).
Historiador comenta
Ao Café História, o historiador Paulo César Gomes, editor do portal História da Ditadura e autor dos livros “Liberdade vigiada: As relações entre a ditadura militar brasileira e o governo francês: Do golpe à anistia” e “Os bispos católicos e a ditadura militar brasileira: A visão da espionagem”, comentou as palavras do vice-presidente da República:
“Em seu lento e inacabado processo de transição para a democracia, o Brasil optou por uma política de conciliação com as autoridades do regime militar. Junta-se a isso uma longa tradição política autoritária, a ausência de punição aos agentes do Estado que cometeram crimes – protegidos pela lei de Anistia – e a inexistência de uma política oficial de memória comprometida com os direitos humanos. Temos a receita ideal para que discursos negacionistas tenham ganhado força ao longo dos últimos anos. Incialmente emitidos de modo marginal, com a eleição de Bolsonaro, tais discursos tornaram-se política oficial de Estado. A fala do vice-presidente demonstra que a percepção falseada sobre o golpe de 1964 e a ditadura ganha aparência de verdade ao ser divulgada pela segunda autoridade máxima do país. Ignora-se anos de produção historiográfica séria e eticamente comprometida. Produzida não apenas por grandes especialistas brasileiros, mas também estrangeiros. Os danos causados pela difusão de uma perspetiva falsa sobre o passado ditatorial brasileiro são enormes. E não sejamos ingênuos: certamente há a intenção de justificar a implementação de políticas autoritárias no presente”.
Assassinatos, desaparecimentos e corrupção
Em dois anos e sete meses de trabalho, a Comissão Nacional da Verdade (CNV) confirmou, em seu relatório final, 434 mortes e desaparecimentos de vítimas da ditadura militar no país. Entre essas pessoas, 210 são desaparecidas.
O regime também foi altamente corrupto. O tema tem sido objeto de recentes pesquisas historiográficas, condestabres para os livros “Estranhas Catedrais”, do historiador Pedro Campos, e “Ditadura e Corrupção”, do também historiador Diego Knack.
Como citar esta notícia
CARVALHO, Bruno Leal Pastor de. Mourão comemora golpe civil-militar de 1964 no Twitter (notícia). In: Café História – História feita com cliques. Disponível em: https://www.cafehistoria.com.br/mourao-comemora-golpe-civil-militar-de-1964-no-twitter Publicado em: 31 mar. 2020.
Há alguns historiadores que sustentavam em seus trabalhos o “silêncio” ou a”aparente falta de memória” da sociedade brasileira acerca do regime civil-militar brasileiro. Foram produções historiograficas da década de 1990. Nesse novo século, as intensões de setores da socieade brasileira é de avivamento escancarado e de restauração desse regime antidemocrático.
Há mortos por enterrar, vítimas, feridos, doentes, enfermos por cuidar, estragos por consertar desta insanidade autoritária, truculenta prepotente, covarde
Infelizmente ainda há muitos que desejam a volta da Ditadura Militar. Parece que se esqueceram ou não se inteiraram dos horrores provocados por ela.
Eu vivi esse momento, não conheci alguém que tenha tido problemas, o povo não se envolveu foi uma luta de terrorista e anarquistas contra o exercito. Os mortos e desaparecidos eram combatentes ou não souberam explicar o próprio envolvimento.
Obrigado pelo comentário, Antônio. A historiografia, contudo, diz o contrário. Recentemente, por exemplo, publicamos um artigo aqui mesmo no Café História, sobre a repressão que cientistas da Fiocruz sofreram por parte do regime. Também são conhecidos episódios de forte repressão contra indígenas e até mesmo de bailes nas periferias cariocas. Músicos foram censurados, lideranças sindicais e estudantis foram perseguidas e exiladas. Partidos políticos foram proibidos. Havia informantes nas universidade, nas fábricas e até mesmo nas igrejas. Todas essas pessoas faziam parte do “povo”, não? O que os historiadores mostram é que não passam de centenas o número de pessoas que se envolveram com a luta armada, ou seja, a minoria da minoria. Abraço!
Mourao, pega o seu comparsa e caminhem de volta para o inferno, de onde vcs NUNCA deveriam ter saido. Democracia sempre! #cassacaodachapabolsonaroemourao
Querido Antonio ,não irei me alongar,se possivel de uma lida nos relatorios
das comissões estaduais da verdade (CEV).
Um forte abraço.