Morreu neste domingo, aos 92 anos, o historiador e africanista Alberto da Costa e Silva. Autor de obras fundamentais sobre a história e a cultura da África, especialmente do Brasil e de Portugal, ele foi um dos maiores especialistas no tema, reconhecido internacionalmente por sua erudição e talento como escritor. Ele era membro da Academia Brasileira de Letras e atual orador do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro. Foi distinguido com o Prêmio Camões de 2014.
Alberto da Costa e Silva nasceu em São Paulo, em 12 de maio de 1931, filho do poeta Antônio Francisco da Costa e Silva e de Creusa Fontenelle de Vasconcellos da Costa e Silva. Mudou-se ainda criança para Fortaleza, onde fez o curso primário, e depois para o Rio de Janeiro, onde concluiu o secundário. Formou-se em diplomacia pelo Instituto Rio Branco em 1957 e serviu em diversas embaixadas, como Lisboa, Caracas, Washington, Madri, Roma, Lagos, Cotonu, Bogotá e Assunção. Foi também chefe do Departamento Cultural e subsecretário-geral de Administração do Ministério das Relações Exteriores.
Paralelamente à carreira diplomática, desenvolveu uma vasta obra literária, que abrange poesia, ensaio, memória e história. Como historiador, escreveu livros como “Um rio chamado Atlântico: A África no Brasil e o Brasil na África”, “A enxada e a lança: A África antes dos portugueses “, “A África Explicado aos Meus Filhos”, dentre tanto outros que o tornaram referência no meio do africanismo.
Em sue perfil no Instagram, a historiadora e antropóloga Lilia Moritz Schwarcz escreveu:
“Alberto da Costa e Silva era uma pessoa à frente de seu tempo. Poeta, pesquisador, acadêmico embaixador ele adotou o continente africano e seus povos como tema de paixão e de investigação, escrevendo livros fundamentais como “Um Rio chamado Atlântico”, A” enxada e a lanç”, “A Manilha e o Libambo” e tantos outros, incontornáveis. Virou nosso maior africanista num tempo que esse era um continente abandonado pelo Ocidente — tanto na imaginação como na realidade. Adepto de uma política de ações afirmativas e de cotas, desde sempre, Alberto tinha na igualdade e na equidade a sua missão de vida. Quem entrasse na casa de Alberto ganharia um ticket da África no Brasil — com suas estatuetas, objetos e uma biblioteca de vida toda. Mas ele não era apenas uma pessoa muito erudita. Era uma imensa pessoa em tempo integral. Tive a sorte de ser adotada como sua filha postiça e o tive mesmo como um pai por escolha e seleção. Ele foi meu segundo pai; uma sorte na vida, para quem foi privada da paternidade natural tão cedo, quando tinha recém feito 18 anos. Dono de frases incríveis, ele costumava me dizer para “cuidar bem das minhas neuroses, e de “não querer ter razão”. Esse e outros conselhos, fundamentais, nesses tempos de guerra e ódio. Mas ele teve a morte dos justos. Não sofreu. Elza, Toninho, Pedro, e família, muita força. Alberto deixa a melhor das memórias. Aquela que nunca se vai. Vocês tiveram o melhor exemplo desse mundo na forma de pai, avô, bisavô, tio; um ancestral no sentido pleno”.
As causas da morte não foram divulgadas.