Universidades de todo o país começaram a publicar seus editais de mestrado acadêmico em História e em pouco tempo milhares de candidatos estarão participando de uma acirrada seleção. Pensando nisso, o Café História pública a partir de hoje uma série de matérias que visa dar dicas valiosas para cada uma das três principais etapas presentes em praticamente todo processo seletivo da área: o projeto de pesquisa, a prova escrita e a entrevista.
As dicas são dadas pelos maiores especialistas no assunto: professores e professoras universitárias que participam frequentemente das bancas de seleção. Conversamos com profissionais de diferentes estados e atuam em universidades públicas e privadas.
A série do Café História possui três partes. Começamos pela prova escrita – que diz respeito aos conteúdos de História, embora alguns professores também mencionem, em suas dicas, a prova de língua estrangeira, que também é escrita. As dicas para o projeto de pesquisa e para a entrevista serão publicadas nos dias 22 e 29 de setembro, respectivamente. Aproveite!
Renata Vereza (UFF) – Referências bibliográficas organizadas
Acho muito importante que o candidato tenha organizado quais são as referências bibliográficas que ele gostaria de usar para cada ponto, fazendo, assim, uma lista da bibliografia. Com isso, ele não se perde na hora da consulta, procurando e pensando em quais obras vai usar.
Meize Lucena Lucas (UFC) – Dialogar com os autores
A leitura de textos selecionados para provas de seleção de mestrado deve ser feita a partir de alguns elementos. Primeiro, devemos situar o autor no debate historiográfico de sua época e buscar identificar quais foram as questões relevantes naquele momento. Importante, igualmente, conseguir relacionar o texto (ou os textos) em questão com os problemas considerados centrais na área, bem como com o tratamento de fontes, narrativa, tempo, gêneros textuais, diversidade de fontes. Por fim, entenda que ler um texto é saber se apropriar dele e ter capacidade para fazê-lo dialogar com autores e questões do campo do conhecimento humano.
Bernardo Buarque de Holanda (FGV-SP) – Agrupar a bibliografia
Mais do que fichar textos em separado – tarefa importante, evidentemente –, a prova escrita para o mestrado em História requer do candidato a capacidade de agrupar a bibliografia. Trata-se de identificar e propor relações que articulem autores em um debate intelectual mais amplo, de modo a reconhecer as linhas mestras de inserção das obras na historiografia. Dito de outra forma, aferir conteúdo não basta, é preciso estabelecer pontes entre os conceitos e as correntes teóricas em exame.
Fernando Nicolazzi (UFRGS) – Compreensão dos textos
Obviamente, não há fórmula pronta para ser aprovado em uma seleção de mestrado, mas creio que alguns “cuidados” mínimos podem ajudar. No caso da prova escrita, o primeiro cuidado é ler atentamente o edital para conhecer as regras do jogo e saber se há bibliografia mínima de referência ou não. Normalmente há, e este é um ponto importante: o que fazer com ela? De modo geral, a bibliografia pode indicar o perfil das linhas de pesquisa do programa ou apontar uma série de conhecimentos prévios necessários para o ingresso na pós-graduação. No primeiro caso, é fundamental conhecer bem o programa e os professores e professoras que fazem parte dele, procurando indicar, na prova, em que medida a pesquisa proposta se adéqua a tal perfil. No segundo, penso ser importante demonstrar a capacidade de compreensão dos textos e como eles podem ser utilizados no fazer historiográfico. Em ambos os casos, convém sempre estabelecer relações com o projeto de pesquisa, embora isso tenha que ser muito bem pensado, para não parecer algo meramente artificial e forçado, ou seja, tentar adaptar conceitos, perspectivas ou autores que não dialogam diretamente com o projeto, apenas para demonstrar que leu os textos: a seleção adequada da bibliografia a ser usada faz parte do ofício. Por fim, é imprescindível elaborar um texto bem estruturado, com clareza na construção do argumento principal: como o tempo de escrita é limitado, parágrafos não muito extensos ajudam a manter uma linha coerente de raciocínio. Por mais óbvio que pareça, o texto precisa ter começo, meio e fim, e esses três elementos devem dialogar entre si. Virtuoses ensaísticas podem ser deixadas para a escrita da dissertação, após ter ingressado no mestrado.
Flávio Edler Coelho (FIOCRUZ) – Proficiência na escrita
Uma dica relevante é realizar a leitura da literatura proposta pelo Programa de Pós-Graduação, imaginando questões que possam articulá-la. É preciso ainda demonstrar proficiência na escrita, revelando pontos de aproximação ou diferenças entre a abordagem de cada autor. Ao apresentar seu ponto de vista, fundamente-o em relação à literatura pertinente.
Gian Carlo (UFAL) – Uso da bibliografia e concisão
Toda seleção tem questões de provas baseadas na bibliografia que consta no edital. Quem for se submeter a uma prova de mestrado deve ter o conhecimento das leituras exigidas e conseguir articular, na sua resposta, os autores, mostrando suas contribuições ao questionamento proposto. Na hora da prova, nada depressa. Leia atentamente o que se quer, faça um roteiro com início, meio e fim. O candidato pode – e, se achar pertinente, deve – usar outros autores que conhece para complementar, contextualizar e enriquecer sua resposta. Evite encher páginas e páginas com elucubrações, você pode se perder. Melhor ser conciso e ter precisão no que vai falar. Uma dica final é: na introdução da sua questão, diga o que vai fazer e quais autores irá usar. Assim, o avaliador já terá um roteiro, e você também pode justificar o motivo de usar o autor X e não y, evitando questionamento na avaliação.
André Lemos Freixo (UFOP) – Leitura do Edital e argumentação
Bom, partindo da minha experiência, isto é, a partir do meu Programa de Pós-Graduação, as etapas com provas escritas são, em geral, duas: a etapa das perguntas referentes às linhas de pesquisa e às referências bibliográficas apresentadas no edital que rege o processo seletivo, e a prova de proficiência em língua estrangeira. Creio que qualquer processo de seleção ao nível de Pós-graduação essas duas etapas se fazem presentes. São momentos distintos e os pesos (para cômputo da média final do(a) candidato(a)) também variam de programa para programa. São momentos de grande nervosismo e muita ansiedade dos candidatos. Não gostaria de soar antiético, mas creio que as(os) candidatos(as) devem ter em mente que estas etapas (as escritas) avaliam, em parte, a qualidade de sua leitura, interpretação e redação. Avalia-se também suas competências para responder ao que foi perguntado, sua fluência e grau de aprofundamento nas referências indicadas, sua capacidade para argumentação, se trouxe ou não mais referências com as quais procura dialogar. Isso tudo em uma situação pouco confortável. Pode parecer óbvio, mas professores(as) sabem que isso é muito importante não apenas para o ingresso, mas igualmente para a banca ter uma ideia do desempenho do(a) candidato(a) caso seja aprovado e se matricule no Programa. É disso que se trata, ao final das contas. Avaliar as condições do(a) candidato(a) de ingressar em um Programa de Pós-Graduação.
Tenho cinco “dicas” gerais: 1) Leia o edital. Leia várias vezes o edital. Chegue no dia ao local de prova com o edital perfeitamente compreendido e siga-o religiosamente. Em caso de dúvida, pergunte ao fiscal ou aos membros da banca; 2) Responda ao que foi solicitado. Em geral, provas desta natureza consistem em duas perguntas, uma mais geral, sobre algum autor das referências presentes no edital, e outra sobre sua pesquisa, o projeto, ou sobre o como seu projeto pode figurar na linha selecionada; 3) Leia os textos da bibliografia da linha selecionada (caso se aplique). Fiche-os, resuma-os, pense com eles e a partir deles o seu projeto. Demonstre isso na prova escrita. É importante lembrar que estas referências não estão ali gratuitamente. São referências para um ou mais professores que orientam na linha de pesquisa selecionada – logo, interessam a você diretamente; 4) Faça uma pesquisa dos textos publicados pelos docentes da linha de pesquisa escolhida. Dialogue de modo apropriado com os mesmos na sua prova escrita. Se estes não figurarem nas referências disponíveis no edital, melhor ainda; 5) Para a prova de proficiência em língua estrangeira, não há muito o que dizer, pois varia muito de programa para programa o modo como os(as) candidatos(as) são avaliadas(os). Mas, caso o edital (que a esta altura você já leu e releu!) permita a consulta a dicionários de idiomas, tenha sempre em mente dicionários na mesma língua, nunca dicionários bilíngues. Por exemplo, se sua opção for para proficiência em língua inglesa, o dicionário que você deverá consultar deverá ser inglês/inglês, jamais inglês/português. Evite constrangimentos desnecessários. Nunca tente “passar a perna” na banca ou “dar uma de João-sem-braço”, como dizem por aí. No mais, creio que sigo o clichê: reserve o dia anterior à prova para relaxar, dar um passeio, ir ao cinema, à praia, ao parque, etc. Na hora da prova, em geral, de quatro horas, leve um pequeno lanche para comer quando sentir necessidade e uma garrafinha de água. Dizem que a sorte sempre sorri para os preparados, de modo que… preparem-se! E boa sorte!