Medusa Deluxe: um thriller cabeludo

O assassinato de um cabeleireiro em meio as preparações para um concurso de penteados acabam mostrando os conflitos, vaidades e ambições de uma comunidade peculiar.
27 de junho de 2023
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Medusa Deluxe: um thriller cabeludo 1
"Medusa Deluxe" é produção britânica, 2023. Foto: reprodução.

A proposta do filme promete muito – em um concurso britânico regional entre cabeleireiros não muito proeminentes, um dos competidores aparece morto e escalpelado. Essa sinopse nos faz pensar diretamente nos filmes camp de John Waters nos anos 80, uma mistura interessante de comédia, bizarrices e comportamentos humanos aquém das normas morais pré-estabelecidas. Mas o diretor estreante Thomas Hardiman, que também assina o roteiro, foi além ao decidir filmá-lo em um único shot contínuo. Malabarismos à parte, uma decisão bastante perigosa e vertiginosa.

A cena de abertura no camarim das cabeleireiras se resume a um grande desabafo, um rompante de ressentimento e raiva, vindo de uma das profissionais participantes chamada Cleve, interpretada brilhantemente por Clare Perkins. Cleve não aceita o fato de sua genialidade nunca ter sido reconhecida em prévios concursos, e acusa o organizador do evento, Rene (Darrell D’Silva) de receber propina para favorecer outras participantes. Em meio a essa discussão chega aos bastidores a notícia da descoberta do corpo de Mosca, um stylist talentoso, porém não muito popular entre seus pares, e com isso o cancelamento do concurso. Mosca perdeu sua linda e sedosa cabeleira, se encontra escalpelado. Um verdadeiro pesadelo para os adoradores de um escalpo oponente.

Imediatamente todos os presentes se reúnem, e começam a especular sobre quem teria sido o responsável pela sua morte e quais os motivos, enquanto aguardam as autoridades para registrar o ocorrido e definir a causa da morte. E aqui a dinâmica se torna cada vez mais frenética enquanto a câmera segue passo a passo cada um dos personagens que nos são apresentados. Acompanhamos seus deslocamentos, suas pausas, suas reações ao ocorrido, conhecemos um pouco de cada um e suas particularidades. Cleve expõe toda sua raiva, Rene vira uma pilha de nervos, Divine (Kayla Meikle) passa por um despertar religioso, Kendra (Harriet Webb) assume sua falta de escrúpulos ao lidar com as concorrentes, Angel (Luke Pasqualino) é obrigado a enfrentar a gravidade de suas decisões, enquanto o segurança Gac (Heider Ali) entra em uma espécie de surto psicótico. Cada personagem é seguido pela câmera no caminho que percorre, indo da absoluta perplexidade, quando confrontado com o crime, à especulação da autoria. E é aqui que Medusa Deluxe vira uma espécie de jogo de Detetive onde todos viram suspeitos.

 Thomas Hardiman não apressa a narrativa, sua câmera segue cada respiro dos atores, e isso, por vezes, se torna um pouco cansativo, principalmente na última metade da obra. Temos aqui também uma bizarra mistura de correria e pausas reflexivas com monólogos. O humor acido britânico marcado por autodepreciação e bizarrices comportamentais está fortemente presente, ao ponto de se tornar um desconforto. Porém, a cenografia, o figurino, os penteados excêntricos e as peculiaridades dessa obra camp fazem a ida ao cinema valer bastante a pena para quem gosta do estilo. Para os que não são fãs de Hairspray, bem como os desavisados que caem na sessão de paraquedas, pode ser uma experiência extenuante ao ponto de causar o abandono da sala de cinema, como aconteceu com um punhado de pessoas na que eu estava presente.

Medusa Deluxe é uma coprodução da plataforma MUBI e da O2, algumas cidades brasileiras como SP foram escolhidas para a pré-estreia pelo stream, e está em cartaz nos cinemas desde o dia 15 de junho.

Tais Zago

Tem 46 anos. É gaúcha que morou quase a metade da vida na Alemanha mas retornou a Porto Alegre. Se formou em Design e fez metade do curso de Artes Plásticas na UFRGS, trabalha com TI mas é apaixonada por cinema.

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