Mesmo 50 anos sem desfilar em tapetes vermelhos ou posar para fotógrafos, Marilyn Monroe continua viva no “imaginário popular”. É tema de filmes, ainda inspira artistas e é objeto de uma enorme exposição internacional em São Paulo.
Norma Jeane Mortensen, mais conhecida como Marilyn Monroe, foi um fenômeno em seu tempo. Em seus curtos 36 anos de vida, Marilyn protagonizou filmes clássicos como “Nunca Fui Santa” (1956), que lhe deu fama e reconhecimento, e “Os Desajustados” (1961), pelo qual ganhou menções elogiosas da crítica. Mas a atriz não se notabilizou apenas por seus trabalhos no cinema. Marilyn foi aos 27 anos a primeira capa da revista “Playboy”, em 1953. Encantou a imprensa, tornou-se ícone do público feminino e masculino e envolveu-se em romances polêmicos – como aquele com John Kennedy. Para consternação do mundo, foi encontrada morta em sua casa, em agosto de 1962, vítima de uma overdose de tranquilizantes. Sua memória, entretanto, nunca esmoreceu. Cinco décadas depois de sua morte, Marilyn continua presente em muitos lugares.
A atriz, por exemplo, é tema de uma megaexposição que acaba de chegar a São Paulo, a “Quero ser Marilyn Monroe!”, em cartaz na Cinemateca Brasileira até o próximo primeiro de abril de 2012. Gratuita, a exposição é a maior e a mais completa a retratar o brilho intenso que Marilyn teve e ainda tem entre artistas de grande calibre, como Andy Warhol, Peter Blake, Henri Cartier-Bresson, Cecil Beaton e Ernst Hass, entre outros. No total, “Quero ser Marilyn Monroe!”, traz 125 objetos de arte (incluindo filmes) de mais de 50 artistas que capturaram de forma diferenciada as várias facetas da atriz. A exposição está circulando pelo mundo há quase 10 anos. Estreou em 2003 no County Hall Gallery, de Londres, e desde então percorreu diversos países da Europa, os Estados Unidos e o Canadá, contabilizando, aproximadamente, dois milhões de visitantes.
O evento, no entanto, é apenas parte de um fenômeno de memória em torno da atriz que só vem crescendo nos últimos anos. Desde a sua morte, estima-se que tenham sido escritos mais de 300 livros sobre Marilyn, muito dos quais biografias. Entre as mais famosas estão “Legend: The Life and Death of Marilyn Monroe”, de Fred Lawrence, “Marilyn Monroe”, de Maurice Zolotow, ou ainda “Marilyn: A Biografia”, do jornalista vencedor do prêmio “Pulitzer”, Norman Mailler.
Além dos livros, a vida de Marilyn também foi passada a limpo no teatro, sobretudo com a peça “After the Fall”, de Arthur Miller, em 1964, e também no cinema, caso de “The Sex Symbol”, estrelado por Connie Stevens, em 1974, ou de “Marilyn: Untold Story”, com Catherine Hicks no papel da atriz, em 1980. Mas talvez nenhum filme tenha sido tão importante quanto o mais recente de todos: “My Week with Marilyn”, que conta a breve história amorosa da atriz com um cineasta 30 anos mais jovem. O filme rendeu uma indicação ao Oscar para a triz Michelle Williamns (a “Jen”, da antiga série de TV “Dawson’s Creek”) no papel principal, em 2012.
Para quem acha que é pouco, Marilyn é figura recorrentes em blogs, sites, capas de revistas, programas de televisão, estampa de roupas e outros itens da indústria cultural. Uma presença tão marcante que muitos devem estar se perguntando: por que Marilyn Monroe continua sendo um símbolo tão presente, mesmo cinco décadas após a sua fatídica morte?
Memória Social
Para entender melhor o “boom de memória” em torno de Marilyn Monroe, conversamos com Evelyn Orrico, professora do Programa de Pós-Graduação em Memória Social da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (PPGMS/UNIRIO). Para Orrico, a persistência da memória de Marilyn deve ser compreendida à luz da dura história da atriz norte-americana:
Admitindo a memória como uma construção discursiva, tenho pensado na relação entre o que se constrói – via discurso – e o que existe pré-construído no imaginário do grupo social ao qual o discurso se destina. O que quero dizer com isso, a partir do que venho estudando, é que o que vai permanecer como construto de memória, de alguma maneira, estabeleceu sinergia com o que já existia no imaginário. No caso da Marilyn é uma construção forte desde o início. Vejamos: a) ela é símbolo da loura fatal e nem loura ela era. Tornaram-na loura; b) ela tem uma história de superação: teve uma vida miserável (pai morreu, mãe louca ou vice-versa), pobre e se tornou uma vencedora, pelo menos viveu do seu próprio trabalho, era reconhecida e desejada por muitos; c) ainda por cima, teve uma história de amor com uma figura que também representava o ideal da família americana: nascido em família numerosa e vencedora, presidente do EUA, simpático, bonito, casado com uma mulher bonita, com dois filhinhos adoráveis e governando o país em um dos momentos de grande valorização da nação americana; d) para coroar essa história, apesar da vida supostamente glamorosa, ela era uma sofredora: não tinha seus amores correspondidos (olha o ideal romântico mais uma vez), o que acabou provocando a sua morte, seja por ingestão acidental de medicamentos, seja por uma ingesta intencional. Essa busca pela verdade move as massas, mas o que mais importa do ponto de vista romântico é que ela perdeu a vida porque sofria. De alguma maneira, a história – e características físicas e sentimentais – de Marilyn ainda repercutem na sociedade ocidental. Como pode alguém que representa tudo de “bom” (beleza, sucesso, sedução, dinheiro) não conseguir viver feliz “para todo o sempre”?
O Café História também perguntou a Orrico se o processo de construção de “Divas Pop” seria, em algum aspecto, diferente da construção da memória de outras figuras públicas. A pesquisadora respondeu:
Eu nunca refleti sobre a construção de memória de “divas pop”, mas é um tema interessantíssimo. Veja só: Marilyn foi estimular/consolar os soldados na Guerra da Coréia no auge de uma guerra “santa”: os EUA indo para o outro lado do mundo para ajudar a salvar o mundo da maldade comunista. Veja: isso era fortíssimo àquela altura. De algum modo os pops são identificados com os países de onde vêm. Eles são praticamente mais um símbolo pátrio, vide a nossa Carmen Miranda, por exemplo. Nesse sentido, em que eles se distanciariam – ou se aproximariam – de um Caxias, por exemplo? Acho que talvez as reflexões pudessem seguir esse caminho.
Ainda pensando Marilyn Monroe do ponto de vista da memória social, vale a pena mencionar os trabalhos do sociólogo Michael Pollak, especialmente o seu conceito de “personagem vivido por tabela”. Esses personagens, explica Pollak, seriam aquelas pessoas que conhecemos apenas indiretamente, muitas das quais, nós jamais compartilhamos o mesmo espaço-tempo. Ainda assim, essas pessoas “se transformaram quase que em conhecidas”. Pollak dá um exemplo Francês bastante representativo: “não é preciso ter vivido na época do General De Gaulle para senti-lo como um contemporâneo”.¹ Acontece algo muito semelhante no caso de Marilyn. Mesmo tendo falecido há 50 anos, a atriz continua presente no cotidiano e é essa presença que nos faz compartilhar de uma sensação de que ele nunca, no fundo, deixou de existir em nosso mundo. Quanto tempo esse “encanto” dura? Não se sabe. No caso de Marilyn, talvez, menos ainda. Apenas o que sabemos é que “ela” continua por aí.
Notas:
(1) POLLAK, Michael. Memória e identidade social. Estudos históricos, v. 5, n. 10, p. 200-212, 1992.
Bruno Leal Pastor de Carvalho – doutor em História Social pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). É professor do Instituto de História da Universidade Federal Fluminense. Pesquisa os seguintes temas: criminosos nazistas, mídias sociais e divulgação de história. É fundador e editor do Café História. Atualmente, é pós-doutorando em História Social pela UFRJ.
De como e porque Norma Jean foi transformada em Marilyn Monroe ? O que tem a ver com James Monroe e Doutrina Monroe ? Após morte de Carmen Miranda, que durante a 2ª Guerra foi a mais bem paga atriz do cinema americano, criaram a Monroe Marilyn. Mesma época em que os americanos começaram guerra no Vietnam.
E assim construíram o Star System Mass Media Corporation Banking Trust.
Entorpecimento.