No último sábado, 23 de novembro, durante uma cerimônia oficial em Estrasburgo, o presidente francês Emmanuel Macron anunciou a panthéonização de Marc Bloch, historiador e membro da resistência francesa, morto pelos nazistas durante a Segunda Guerra Mundial. A notícia repercutiu internacionalmente, especialmente devido a uma atitude: os familiares de Bloch comemoraram a decisão, mas fizeram uma exigência: que a extrema-direita não participasse de forma alguma da cerimônia de homenagem, ainda sem data para acontecer.
Na última segunda-feira, Patrick Boucheron deu uma entrevista de página inteira ao Libération, em Paris, onde expressou sua alegria com a decisão, destacando que a entrada de Bloch no Panteão era aguardada há muito tempo, mas sempre adiada. “Nunca é tarde para a história”, enfatizou o historiador francês, destacando a relevância social desse reconhecimento:
– A entrada no Panteão de um historiador como Marc Bloch fala de futuro. Esqueceremos rapidamente as condições políticas e as intenções presidenciais. Permanecerá o reconhecimento de uma obra, de uma memória e, acima de tudo, de um projeto de saber, que acredito ser capaz de unir o maior número possível de valores que espero compartilhar. Com ele, vamos lembrar, por muito tempo, que a tradição não existe para nos separar, mas para nos unir, e que a história tem um papel essencial na renovação de nosso contrato social, disse Boucheron
Ele destacou ainda o compromisso inabalável de Bloch com a verdade, evidenciado tanto em sua resistência heroica contra o nazismo quanto em sua produção intelectual. “Marc Bloch era um incansável trabalhador da verdade”, relembrou Boucheron, citando a frase que o próprio historiador pediu para ser gravada em sua lápide: Dilexit veritatem (“Amava a verdade”). Ele ressaltou a atualidade das obras de Bloch, como Reflexões de um historiador sobre as falsas notícias de guerra (1921), cujo tema sobre desinformação é mais relevante do que nunca em tempos de fake news.
Extrema-direita
Questionado sobre o pedido da família de Bloch para excluir a extrema-direita da cerimônia, Boucheron demonstrou total apoio à exigência, ressaltando que o patriotismo de Bloch não tem qualquer relação com o discurso nacionalista extremista, do qual ele foi vítima:
— Compreendo a exigência da família, apoio-a e defenderei, se necessário. O patriotismo de Marc Bloch está a mil léguas do nacionalismo agressivo que ele detestava, e do qual foi vítima. Há cerca de vinte anos, seus herdeiros têm lutado vigorosamente contra tentativas de instrumentalizar a memória de Marc Bloch para fins partidários. Mas sou otimista: o evento destacará a verdadeira obra de Marc Bloch. Basta ler algumas páginas para entender que ele foi um defensor de uma história comparada europeia, aberta a influências e marcada pela diversidade, um defensor de uma narrativa nacional que aspirava a fechar as feridas da sociedade francesa, ao invés de ser um contrassenso ou falsificação — uma bobagem, como ele dizia, com a dureza das trincheiras que ele tanto conhecia.
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