Donna Adrian Gaines, mais conhecida por nós como Donna Summer, nasceu em 1948 em Boston durante um dezembro gelado. Aos 8 anos subiu ao palco pela primeira vez na igreja que frequentava com a família e já naquele momento percebeu possuir um dom raro – sua voz. O gospel a encantou e ainda na adolescência mudou-se para Nova Iorque para tentar a sorte como cantora. Dali seguiu direto para a Alemanha, onde fez suas primeiras gravações, conheceu o primeiro marido – do qual adotou o sobrenome Summer – e teve a primeira filha, Mimi. Mas Donna não era feita para a vida doméstica de mãe e esposa, sua ambição e seu talento a levariam muito além. E seu sonho era conquistar o mundo.
Ainda na Europa conheceu os produtores musicais Giorgio Moroder e Pete Bellotte, precursores da disco music com quem gravou Love to Love you Baby e I Feel Love, as músicas que a catapultaram para a fama mundial nas pistas das discotecas. A volta de Donna para os EUA marcou o início de uma carreira bem-sucedida e repleta de hits que a colocaria no olimpo das figuras mais conhecidas da cena musical norte-americana, que traria fortuna, mimos, brilho e a adoração de uma imensa legião de fãs no final dos anos 1970 e durante os anos 1980 e 1990. Atire a primeira pedra quem nunca cantarolou pedaços de She Works Hard for the Money, de 1984, para a qual Donna fez um videoclipe que a colocou como a primeira artista afro-americana a rodar incessantemente nas telinhas de TV pela MTV norte-americana.
Um ícone homenageado e festejado ainda em vida, Donna colheu os louros, mas também as agruras de seu arrebatador sucesso – sofreu abusos sexuais, econômicos, revezes emocionais e afastamento da filha, assim como a sua proximidade à religião, em certo momento, a fez colher críticas por algumas de suas declarações homofóbicas durante os anos trágicos da epidemia mundial de AIDS. A artista conseguiu espantar, com poucas palavras, uma grande parte do seu público mais fiel, e nem mesmo repetidas retratações publicas conseguiram reativar essa relação.
Parte da personalidade peculiar de Donna incluía muitos segredos. Para alguns ela era apenas uma cantora de disco, mas seus talentos não se limitavam ao poder de sua voz. Donna era também musicista, compositora, atriz e pintora. Ela mesmo falava que sua persona do Palco era um personagem cuidadosamente construído e que nada tinha a ver com ela fora das luzes dos holofotes. E para nos mostrar os lados da artista, que morreu prematuramente de câncer no pulmão, sua filha, a atriz e diretora Brooklin Sudano, fruto do segundo e duradouro casamento com o parceiro compositor Bruce Sudano – que também atua na produção do documentário, cavou fundo em arquivos de fotos pessoais e vídeos em busca da verdadeira Donna.
O documentário tem um ritmo interessante, acompanha cronologicamente a ascensão da artista à fama por meio de flashbacks de alguns de seus momentos mais memoráveis no palco, mas também mostra o esgotamento de uma mulher sem tempo para aproveitar os frutos de seu árduo trabalho. Donna é uma esposa ausente e uma mãe exausta ao mesmo tempo que é a artista roda pelos palcos do mundo, morando em ônibus, aviões e hotéis. Mas ela mesmo assim nunca perdeu o amor e o carinho por e de sua família. Suas filhas Brooklin, Amanda e Mimi conseguem nos passar isso em imagem e som de uma forma terna, sem cair em um amargo tom de ajuste de contas ou cobranças. Mas como uma boa e bem-feita homenagem, é importante adentrarmos também um pouco o lado mais sombrio e abusivo da indústria fonográfica, principalmente em relação à artistas mulheres nas décadas passadas, onde um talento existia para ser drenado o máximo possível no mais curto espaço de tempo.
Love To Love You, Donna Summer é um belo presente, recheado de recortes de sessões de gravações e apresentações memoráveis de Donna. Um ear candy para qualquer admirador de sua música, e uma agradável surpresa até mesmo para quem desconhece parte de sua carreira.