Lee Harker (Maika Monroe) não é muito de conversa. A jovem agente do FBI mergulha de cabeça no trabalho e confia mais em suas intuições (sexto sentido?) do que nas palavras das pessoas que a rodeiam. Sua capacidade lógica e instinto são fora da curva, e é exatamente por essas habilidades que ela é chamada por seu supervisor, o agente Carter (Blair Underwood), para investigar intrigantes casos de pais que assassinam toda sua família em surtos aparentemente inexplicáveis de fúria. Conforme se aprofunda em suas investigações, Harker chega perto de uma figura enigmática que se autodenomina Longlegs (Nicolas Cage) e que deixa mensagens criptografadas nos locais de crime, dando a entender que, ao contrário do que se imaginava, os assassinatos têm um único responsável externo.
O diretor, ator e roteirista Osgood “Oz” Perkins (February -2017) dirige e assina o roteiro de Longlegs. A atmosfera é o tema central da obra – com uma cinematografia opressiva, filtros amarelados e trilha sonora perfeitamente sincronizada com o aumento contínuo da tensão (fora a presença constante da banda de glamrock T. Rex), acompanhamos o desenrolar da trama inquietos, porém sem grande euforia ou sustos. Já nas primeiras cenas, vemos o Longlegs de Cage na tela, cortado em meio ao seu riso macabro, com sua aparência que nos remete a um fã de Marc Bolan depois de um apocalipse nuclear. Longlegs gosta, especialmente, de abordar meninas.
A essa altura do campeonato já podemos identificar claramente quem são os ídolos de longa data de Oz Perkins – Stanley Kubrick e Tim Burton. Além do roteiro apresentar claras inspirações de Zodiac (2007) e The Silence Of The Lambs (1991), obras que, de certa forma, deixaram sua marca no gênero de thriller com seriais killers. A miscelânea estética de Perkins nos oferece um bom resultado, o filme sabe trabalhar seus silêncios, e aposta muito mais no terror psicológico do que em gore ou jump scares. Uma decisão bastante segundo a estética adotada por vários diretores de horror da atualidade. O medo existe e cresce nas pausas e na pontuação da lúgubre trilha sonora.
No quesito atuações, Monroe faz um bom trabalho. Ela nos passa intensidade e angústia em seus poucos diálogos. E em suas conversas com a mãe (Alicia Witt), uma fervorosa religiosa, podemos ver que sua criação foi, digamos, não muito convencional. O que parece justificar em parte a sua falta de traquejo social. Já a interpretação de Cage para Longlegs beira o caricatural e contrasta com a sobriedade dos outros personagens. Sua versão Marc Bolan do mundo bizarro mais nos remete a um Coringa em início de carreira (não o do Joaquim Phoenix) do que a um personagem original na lista dos creeps do terror.
Longlegs é um filme que, em seu balanço, acaba sendo mediano. A mistura de sobrenatural e natural, não ocorre de forma orgânica, e isso prejudica um pouco o resultado, além de tirar parte da tensão no terço final do filme. E essas características o colocam abaixo das expectativas de sua roupagem de “novo horror” com créditos, soundtrack e cenários vintage e uma boa recepção (antecipada) da crítica norte-americana.
Após passar pelos cinemas brasileiros em setembro, Longlegs está disponível para alugar nas plataformas de streaming Amazon Prime Video ou Apple Plus.