Na lista, há autores best-sellers, como o israelense Yuval Noah Harari, e também veteranos, como Martin Gilbert. Confira a lista.
Bruno Leal | Agência Café História
O que os brasileiros estão lendo durante a epidemia do novo coronavírus? Muita coisa diferente, mas principalmente História. De acordo com o site Publish News, especializado no mercado edital brasileiro, dos 20 livros de não-ficção mais vendidos no Brasil no mês de abril, quase a metade (8) são de história.
Há três boxes na lista. “A Segunda Guerra Mundial”, de Martin Gilbert, especialista em Holocausto e Segunda Guerra Mundial, ocupa a 6a posição; “O essencial da Segunda Guerra Mundial”, do brasileiro Dimas da Cruz Oliveira, aparece na 13a posição; e “O essencial da mitologia”, de Herma Wilson, está na 18o na lista.
Um autor se destaca: Yuval Noah Harari. O historiador israelense possui 4 títulos entre os mais vendidos da não-ficção: “Sapiens” (edição de bolso) está na 1a posição; “21 lições para o século 21”, na 3a posição; “Homo Deus”, na 12a posição; “Sapiens”, versão convencional, ocupa a 15a posição. Harari é um fenômeno mundial de vendas. Seus livros tinham muita procura antes da pandemia do novo coronavírus e continuam tendo durante a pandemia. “21 lições para o século 21” é um pouco difícil de ser classificado como livro de história, estando mais próximo de uma filosofia popular.
A grande surpresa da lista é o livro “As veias abertas da América Latina”, do jornalista uruguaio Eduardo Galeano. O livro é um clássico. Lançado pela primeira vez no início da década de 1970, ele sempre fez muito sucesso, mas há algum tempo não aparecia na lista dos mais vendidos. Com a repentina aparição, o livro se tornou um título de “cauda longa”. Na definição da Publish News, chama-se assim “livros que, em situações normais, não vendem o suficiente para ocupar postos na lista, mas que, com a queda nas vendas provocada pelo fechamento das lojas físicas, eles despontaram.”
Leandro Karnal
Na lista dos mais vendidos, há ainda o livro “O dilema do porco-espinho”, do historiador Leandro Karnal, ex-professor de historia da UNICAMP. O livro aparece na nona posição, mas não se trata exatamente de um livro de história, e sim de uma combinação de filosofia e autoajuda, como a sua descrição deixa entrever:
“Em ‘O dilema do porco-espinho’, Karnal viaja pela modernidade líquida e analisa a solidão no mundo virtual e o isolamento. Discute dos amigos imaginários criados pelas crianças aos pensamentos de alguns filósofos, como Aristóteles, que dizia que a solidão criava deuses e bestas.”
A ausência das mulheres
Na lista, não há mulheres escrevendo sobre história e nem historiadoras escrevendo sobre qualquer outro assunto, o que pode ser explicado, pelo menos em parte, pela baixa participação feminina no mercado editorial brasileira.
Em entrevista recente ao Tribuna de Minas, Letícia Zampiêr, estudante de psicologia da Universidade Federal de Juiz de Fora e youtuber, falou sobre o fenômeno:
“Nos resultados parciais, eles encontraram que, entre 1965 e 2014, mais de 70% dos livros publicados por grandes editoras foram escritos por homens, 90% por brancos e 50% por autores do eixo Rio de Janeiro/São Paulo. O estudo também aponta que 60% dos protagonistas das histórias são homens, sendo 80% brancos e 90% heterossexuais”.
Confira, na íntegra, a lista dos mais vendidos em não-ficção de abril:
Posição | Livro | Autor |
---|---|---|
1 | Sapiens ( edição de bolso) | Yuval Noah Harari |
2 | Box – O essencial da Psicologia | Carl Jung / Sigmund Freud |
3 | 21 lições para o século 21 | Yuval Noah Harari |
4 | Mindset | Carol Dweck |
5 | As veias abertas da América Latina | Eduardo Galeano |
6 | Box – A segunda guerra mundial | Martin Gilbert |
7 | A felicidade é inútil | Clovis de Barros Filho |
8 | Mulheres que correm com os lobos (capa dura) | Clarissa Pinkola Estes |
9 | O dilema do porco-espinho | Leandro Karnal |
10 | 9 meses com Maria | Luis Erlin |
11 | Os segredos da longevidade | Edmond Saab Jr. |
12 | Homo Deus | Yuval Noah Harari |
13 | Box – O essencial da 2ª guerra mundial | Dimas da Cruz Oliveira |
14 | Ideias para adiar o fim do mundo | Ailton Krenak |
15 | Sapiens | Yuval Noah Harari |
16 | Comunicação não-violenta | Marshall B. Rosenberg |
17 | Pequeno manual antirracista | Djamila Ribeiro |
18 | Box – O essencial da mitologia | Herma Wilson |
19 | Viver, a que se destina? | Mario Sergio Cortella / Leandro Karnal |
20 | Box – O essencial da política | Vários autores |
Como citar esta notícia
CARVALHO, Bruno Leal Pastor de. Livros de História então entre os mais vendidos durante o mês de abril no Brasil (Notícia). In: Café História – história feita com cliques. Disponível em: https://www.cafehistoria.com.br/livros-de-historia-entre-os-mais-vendidos/. Publicado em: 7 mai. 2020. ISSN: 2674-5917. Acesso: [informar a data].
E por que seria? Creio ser um bom sinal….
É uma boa pergunta. Talvez porque pautas históricas estejam na mídia, a começar pela pandemia, que evoca epidemias do passado.
uma grande noticia
Se não há mulheres na lista, o que seria então a 8ª posição?
Valeu pelo comentário Leandro. Nós falamos que não há mulheres historiadoras ou escrevendo sobre história. Abraço
Harari é daqueles fenômenos alicerçados no marketing.Li um de seus livros e me decepcionei,tem alguns erros históricos como de datas e um erro comum em alguns historiadores: afirmar que o milho era uma cultura no Egito Antigo,quando sabemos que ele só foi “descoberto” na América.São pequenas coisas que ferem a credibilidade,pois demonstra despreocupação com aquilo que escreve. Historiadores tem de ter cuidado e rever o que será impresso!
Acredito que o “Veias Abertas” seja um livro de “cauda longa”, mas acho que as vendas foram impulsionadas especialmente em abril, pq nesse mês em 2020 fizeram 5 anos da morte do Galeano