O livro “Em guarda contra o perigo vermelho – o anticomunismo no Brasil (1917-1964)”, do historiador Rodrigo Patto Sá Motta, acaba de ganhar uma nova edição. O livro foi lançado pela primeira vez em 2002 pela editora Perspectiva e logo se tornou uma referência para o estudo da história contemporânea do Brasil. A nova edição, que já está à venda, é da Editora da Universidade Federal Fluminense. Motta é professor titular do Departamento de História da Universidade Federal de Minas Gerais.
“Uma satisfação ter o trabalho reeditado, em especial porque ajuda a entender o nosso quadro político recente. Aliás, e infelizmente, creio que a atual onda anticomunista/antipetista mostra o acerto da hipótese central do livro (que o fenômeno havia se tornado tradição arraigada no Brasil). A nova edição traz um posfácio em que analiso a atual onda antiesquerdista, que oxalá não termine em regime autoritário duradouro, como das outras vezes”, comentou o autor em uma postagem em sua conta no Facebook.
O livro
A pesquisa examina os valores, crenças, medos e ações de grupos brasileiros que ao longo do século XX lutaram contra o “perigo vermelho”, contribui para a compreensão do impacto dos movimentos de direita no Brasil, que, com o uso de linguagem anticomunista para justificar os golpes autoritários de 1937 e 1964, inauguraram as mais marcantes e duradouras ditaduras brasileiras.
No livro, o autor destrincha os movimentos políticos, os líderes e as organizações que se juntaram para combater o comunismo, bem como as ideias e imagens utilizadas para divulgar seus argumentos, inclusive aquelas inspiradas em fontes internacionais. A retórica política do “perigo vermelho”, como era encarado o comunismo no Brasil, serviu de justificativa para os golpes autoritários de 1937 e de 1964.
A hipótese central de Motta é que tais representações se enraizaram na sociedade brasileira a partir dos anos 1930, graças a entidades estatais e privadas empenhadas em construir e a disseminar imagens aterrorizadoras sobre o perigo vermelho. Tais esforços das lideranças direitistas propiciaram a constituição de arraigado imaginário anticomunista, disponível para ser mobilizado em momentos críticos e campanhas de deslegitimação das esquerdas. Para isso, a Motta pesquisou registros policiais, arquivos de líderes políticos, jornais da grande imprensa, periódicos de grupos militantes, livros e brochuras produzidos por ativistas, monumentos, caricaturas e fotografias.
Clique aqui e confira a entrevista que fizemos com o autor em 2017. E se você se interessa pelo tema do anticomunismo, não deixar de ler o nosso artigo “A ameaça vermelha: medo e paranoia anticomunista”, do historiador Daniel Trevisan.