Kaká Werá: o autor que colocou a história indígena no topo dos mais vendidos

Com “A Terra dos Mil Povos”, Kaká Werá destacou a riqueza cultural indígena e conquistou leitores em todo o país.
19 de janeiro de 2025
Kaká Werá, autor de "A Terra dos mi povos" parece em primeiro plano preto e branco, ao fundo a floresta amazônica vista de cima.
Kaká Werá, autor de "A Terra dos mi povos" parece em primeiro plano preto e branco, ao fundo a floresta amazônica vista de cima.

Quem visitar a categoria “Estudos de Povos Indígenas”, na Amazon Brasil, vai encontrar “A Terra dos Mil Povos: História Indígena do Brasil Contada por um Índio”, de Kaká Werá, ocupando, absoluto, a primeira posição dos mais vendidos, com mais de 600 avaliações positivas E isso se repete em várias outras plataformas virtuais de venda de livros. Desde que a obra foi lançada, em 1998, Kaká Werá se tornou um dos mais importantes e lidos escritores indígenas do Brasil, ao lado de nomes como Ailton Krenak.

“A Terra dos Mil Povos” acumula prêmios e reconhecimentos. O livro foi considerado um dos mais importantes livros para compreender o Brasil pela Folha de S.Paulo e a Universidade de Coimbra, de Portugal. É leitura obrigatória da Universidade Federal do Rio Grande do Sul e, em 2024, esteve entre os livros mais emprestados pela Biblioteca Pública do Estado do RS, atrás apenas de “Água funda”, de Ruth Guimarães e “O avesso da pele”, de Jeferson Tenório.

Quem é Kaká Werá?

Nascido em 1964 na cidade de São Paulo, Kaká Werá Jecupé é, segundo ele mesmo, escritor, educador, terapeuta e empreendedor social brasileiro. Descendente do povo tapuia e acolhido pela comunidade guarani, dedicou sua vida à valorização e difusão dos saberes ancestrais dos povos indígenas. Fundador do Instituto Arapoty, há mais de 30 anos, Werá desenvolve projetos focados na preservação e promoção das culturas originárias. 

Escritor de mão cheia, estreou na literatura em 1994. Escreveu mais de 10 obras, que passeiam pela história, filosofia, ficção e até literatura infantojuvenil. Seu mais recente livro, de 2024, é “Tekoá – uma arte milenar indígena para o Bem-viver” e conta com prefácio pela monja zen budista brasileira Monja Cohen.  O autor de “A Terra dos Mil Povos” escreve no blog kakawera.com e é colunista da revista Vida Simples

Um dos elementos principais de sua escrita é a crença de que a espiritualidade está intrinsecamente ligada à terra e aos elementos naturais. Kaká Werá, por isso, tem trabalhado ativamente com grupos e organizações ambientalistas, alertando a sociedade para as ameaças enfrentadas pelos povos indígenas, em decorrência, principalmente das diversas formas de violência do homem branco. Werá tem sido um dos principais nomes dos que lutam pela preservação das terras tradicionais.

Capa do livro "A Terra dos Mil Povos: História Indígena do Brasil Contada por um Índio", de Kaká Werá.

“O que a sociedade não indígena chama de psique, nós chamamos de alma. Tradicionalmente, a sabedoria dos pajés está muito ligada a uma questão espiritual. Existem os conhecimentos tradicionais, que podem se relacionar com o oferecimento de um equilíbrio para a psique, para a alma. Mas não se pode confundir espiritualidade com religião. As culturas ancestrais, elas não são, na verdade, religiosas. Para além da religiosidade, essas culturas falam de um lugar onde o ser humano é desafiado ou é convidado a desenvolver um determinado padrão de relacionamento baseado em valores, baseado em uma ética e uma moral para se aproximar ou se conectar com Deus.”, disse Kaká Werá em entrevista ao canal Insconsciente Coletivo.

“A Terra dos Mil Povos”: mergulho na história indígena

Em seu principal livro, Werá explora as complexidades das identidades indígenas, o conhecimento ancestral indígena e suas linguagens. “Os mais antigos vão parindo os mais novos”, diz o escritor sobre as relações intergaracionais. É uma história do Brasil instigante, diferente, que tem outros marcos, outras perspectivas, questões e temporalidades. A tradição é a base da memória cultural e afetiva dessas comunidades, que, embora múltiplas, costumam compartilhar de certa concepção de tempo e espaço.

Confira um trecho do livro em que Werá fala sobre “guerra, guerreiros e escravos”, no contexto do Brasil colonial:

“Essa primeira ideia para a captura de escravos não deu certo. Isso porque um guerreiro Tupinambá ou Tupy-Guarani não gostava de negociar um inimigo capturado, pois fazia parte de sua cultura comê-lo segundo os costumes rituais, e também porque para um capturado era uma honra ser comido e não escravizado.
A colônia, nessa época, achava que os índios deveriam ser doutrinados religiosamente. Nesse momento chegaram os jesuítas, cuja tarefa era convencer os índios a abandonar os costumes tidos como selvagens, os rituais profanos, a antropofagia, a nudez e a poligamia. Assim, em 1549, chega a primeira missão jesuítica chefiada por Manuel da Nóbrega, composta de oito missionários, entre os quais José de Anchieta.”

Sugestão de leitura

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Em meados de 1950, a imprensa soltou uma bomba que chocou a opinião pública brasileira: o imigrante letão Herberts Cukurs, criador e proprietário dos pedalinhos da Lagoa Rodrigo de Freitas, cartão postal do Rio de Janeiro, havia cometido crimes de guerra durante a ocupação nazista da Letônia. Neste livro, que vai virar filme, o historiador Bruno Leal, professor da Universidade de Brasília e criador do Café História, investiga o chamado “Caso Cukurs”, desde a chegada de Cukurs no Brasil até a sua execução por agentes secretos do Mossad, de Israel. Livro disponível nas versões impressa e digital. Confira aqui. 

Bruno Leal

Fundador e editor do Café História. É professor adjunto de História Contemporânea do Departamento de História da Universidade de Brasília (UnB). Doutor em História Social. Pesquisa História Pública, História Digital e Divulgação Científica. Também desenvolve pesquisas sobre crimes nazistas, justiça no pós-guerra e as duas guerras mundiais. Autor de "Quero fazer mestrado em história" (2022) e "O homem dos pedalinhos"(2021).

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