O congressista John Lewis passou a vida lutando por direitos humanos e pelas liberdades civis. Trabalhou para construir um país mais unido. Filho de meeiros, ele cresceu na fazenda de sua família no Alabama e frequentou escolas públicas marcadas pela segregação racial. Quando era criança, Lewis foi inspirado pelo reverendo e ativista negro Martin Luther King (1929-1968), a quem ouvia pelo rádio.
Como estudante universitário, Lewis participou das manifestações contra a segregação racial nos balcões de almoço no cento de Nashville, Tennessee, e tornou-se presidente do Comitê de Coordenação Não-Violenta dos Estudantes (SNCC), organizando estudantes e ativistas de base em todo o Sul dos EUA em torno da luta conta o racismo.
A Marcha sobre Washington
Aos 23 anos, Lewis era já um dos principais ativistas do movimento dos direitos civis nos Estados Unidos e um dos 13 “Cavaleiros da Liberdade”, nome pelo qual eram conhecidos os afro-americanos que arriscaram suas vidas andando de ônibus pelo Sul do país – na época, o ato desafiou as leis de segregação racial em voga nos EUA. Ele liderou também o processo de registro de eleitores do SNCC durante o “Verão da Liberdade”, no Mississippi, e ajudou a organizar a histórica Marcha sobre Washington, em 1963, da qual ainda foi um dos oradores.
Em sua história oral para a Biblioteca JFK, Lewis descreveu assim sua reunião com o presidente John F. Kennedy antes da Marcha sobre Washington, que reuniu mais de 250.000 contra o racismo:
Foi nesta reunião. . . que do nada, A. Philip Randolph, com sua voz de barítono, diz algo do tipo: “Sr. Presidente, as massas negras estão inquietas. As massas negras estão inquietas e nós vamos marchar em Washington.” Pela linguagem corporal do Presidente Kennedy, que se mexeu, se contorceu e se virou na cadeira, pode-se dizer que ele não gostou muito do que ouviu. E disse: “Sr. Randolph, se você trouxer muita gente para Washington, não haverá crise, desordem, caos? Nunca conseguiríamos obter uma lei de direitos civis através do Congresso.” Randolph, então, respondeu: “Sr. Presidente, este será um protesto organizado, pacífico e não-violento.” E o Presidente Kennedy meio que disse: “Bem, acho que teremos problemas. Mas todos nós temos problemas e podemos resolvê-los”.
Aos 23 anos, Lewis foi o orador mais jovem da Marcha sobre Washington e o que viveu por mais tempo. Suas considerações sobre 1963 ecoam no atual movimento Black Lives Matter (Vidas negras importam), como se pode perceber:
Pela força de nossas demandas, de nossa determinação e de nossa quantidade, nós partiremos em mil partes o nosso Sul desagregado, para reuni-lo novamente à imagem de Deus e da Democracia. Devemos dizer ‘acorde América, acorde’! Pois não podemos parar, e não vamos, e não podemos ser pacientes… Nós estamos cansados. Estamos cansados de ser espancados por policiais. Estamos cansados de ver nosso povo trancado na cadeia, repetidas vezes, e então você grita: “Seja paciente”. Quanto tempo podemos esperar? Queremos nossa liberdade e queremos agora. Não queremos ir para a cadeia, mas iremos para a cadeia se esse for o preço que devemos pagar pelo amor, pela fraternidade e pela verdadeira paz. Peço a todos vocês que entrem nesta grande revolução que está varrendo esta nação. Ocupe cada rua de cada cidade, ocupe cada vila e cada povoado desta nação, até que a verdadeira liberdade chegue, até que uma revolução esteja completa…
“Domingo Sangrento”
No dia 7 de março de 1965, no auge do movimento pelos direitos civis, Lewis e Hosea Williams, da Southern Christian Leadership Conference (SCLC), juntamente com outros líderes de direitos civis, organizaram e lideraram uma marcha pelos direitos de voto, indo de Selma até Montgomery, no Alabama. Centenas de pessoas se reuniram nesse dia em uma igreja do centro de Selma, ajoelharam-se em oração e começaram a andar pelas ruas da cidade.
Ao deixarem Selma, no final da ponte Edmund Pettus, os manifestantes afro-americanos foram confrontados por 150 soldados do estado do Alabama, delegados do xerife e proprietários de terras, que emitiram um aviso de dois minutos e ordenaram que os manifestantes se dispersassem.
Um minuto e cinco segundos após o aviso de dois minutos, no entanto, as tropas avançaram contra os manifestantes, empunhando tacos, chicotes e gás lacrimogêneo. John Lewis, que sofreu uma fratura no crânio, foi uma das 58 pessoas feridas no episódio.
Apenas cinco dias depois, Lewis relembrou o ataque em Selma durante uma audiência federal na qual os manifestantes buscaram proteção para uma nova marcha em grande escala a ser realizada na cidade de Montgomery.
Os violentos espancamentos em Selma foram registrados por vários canais de televisão e provocaram indignação social, e galvanizaram o apoio público e do Congresso para proibir a discriminação racial na votação.
Ironicamente, o ataque que levou à aprovação do Ato dos Direitos de Voto de 1965 ocorreu em uma ponte chamada Edmund W. Pettus, nome de um general confederado e membro da Klu Klux Khan do Alamaba. O Arquivo Nacional dos Estados Unidos (National Archives) possui a ficha deste militar confederado.
Todos os anos, Lewis voltava à ponte para comemorar o aniversário da marcha.
Outros documentos desta história
Herança afro-americana: John Lewis
Arquivo do Processo do FBI sobre o “Domingo Sangrento”
Arquivo de Caso Edmund Pettus Bridge, do FBI
Depoimento de John Lewis no processo judicial
Em exibição: “Domingo Sangrento”
Seção de exibição de testemunhas oculares no Domingo Sangrento
John Lewis visita a Biblioteca Gerald Ford
Arquivista dos Estados Unidos apresenta o deputado John Lewis
Como citar este artigo
KLEIMAN, Miriam. John Lewis: ícone do movimento dos direitos civis nos Estados Unidos. In: Café História – História feita com cliques. Disponível em: https://www.cafehistoria.com.br/john-lewis-e-os-direitos-civis/. Publicado em: 02 ago. 2020. ISSN: 2674-5917.Texto publicado originalmente em inglês no blog Piecies of History, do National Archives, com o título We Remember Civil Rights Legend John Lewis.Tradução: Bruno Leal.