John Lewis: ícone do movimento dos direitos civis nos Estados Unidos

Talvez não exista uma figura cuja vida e carreira personifique mais a promessa, o sucesso e os desafios contínuos dos direitos civis para os negros dos Estados Unidos do que John Lewis, falecido em 17 de julho de 2020. Neste artigo, lamentamos essa tremenda perda e recordamos a sua incrível história através de alguns documentos exclusivos do Arquivo Nacional dos EUA.
3 de agosto de 2020
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O congressista John Lewis passou a vida lutando por direitos humanos e pelas liberdades civis. Trabalhou para construir um país mais unido. Filho de meeiros, ele cresceu na fazenda de sua família no Alabama e frequentou escolas públicas marcadas pela segregação racial. Quando era criança, Lewis foi inspirado pelo reverendo e ativista negro Martin Luther King (1929-1968), a quem ouvia pelo rádio.

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O ex-presidente Barack Obama abraça o congressista John Lewis. Foto: National Archives, Identificador: 157649496.

Como estudante universitário, Lewis participou das manifestações contra a segregação racial nos balcões de almoço no cento de Nashville, Tennessee, e tornou-se presidente do Comitê de Coordenação Não-Violenta dos Estudantes (SNCC), organizando estudantes e ativistas de base em todo o Sul dos EUA em torno da luta conta o racismo.

A Marcha sobre Washington

Aos 23 anos, Lewis era já um dos principais ativistas do movimento dos direitos civis nos Estados Unidos e um dos 13 “Cavaleiros da Liberdade”, nome pelo qual eram conhecidos os afro-americanos que arriscaram suas vidas andando de ônibus pelo Sul do país – na época, o ato desafiou as leis de segregação racial em voga nos EUA. Ele liderou também o processo de registro de eleitores do SNCC durante o “Verão da Liberdade”, no Mississippi, e ajudou a organizar a histórica Marcha sobre Washington, em 1963, da qual ainda foi um dos oradores.  

Em sua história oral para a Biblioteca JFK, Lewis descreveu assim sua reunião com o presidente John F. Kennedy antes da Marcha sobre Washington, que reuniu mais de 250.000 contra o racismo:

Foi nesta reunião. . . que do nada, A. Philip Randolph, com sua voz de barítono, diz algo do tipo: “Sr. Presidente, as massas negras estão inquietas. As massas negras estão inquietas e nós vamos marchar em Washington.” Pela linguagem corporal do Presidente Kennedy, que se mexeu, se contorceu e se virou na cadeira, pode-se dizer que ele não gostou muito do que ouviu. E disse: “Sr. Randolph, se você trouxer muita gente para Washington, não haverá crise, desordem, caos? Nunca conseguiríamos obter uma lei de direitos civis através do Congresso.” Randolph, então, respondeu: “Sr. Presidente, este será um protesto organizado, pacífico e não-violento.” E o Presidente Kennedy meio que disse: “Bem, acho que teremos problemas. Mas todos nós temos problemas e podemos resolvê-los”.

Aos 23 anos, Lewis foi o orador mais jovem da Marcha sobre Washington e o que viveu por mais tempo. Suas considerações sobre 1963 ecoam no atual movimento Black Lives Matter (Vidas negras importam), como se pode perceber:

Pela força de nossas demandas, de nossa determinação e de nossa quantidade, nós partiremos em mil partes o nosso Sul desagregado, para reuni-lo novamente à imagem de Deus e da Democracia. Devemos dizer ‘acorde América, acorde’! Pois não podemos parar, e não vamos, e não podemos ser pacientes… Nós estamos cansados. Estamos cansados ​​de ser espancados por policiais. Estamos cansados ​​de ver nosso povo trancado na cadeia, repetidas vezes, e então você grita: “Seja paciente”. Quanto tempo podemos esperar? Queremos nossa liberdade e queremos agora.  Não queremos ir para a cadeia, mas iremos para a cadeia se esse for o preço que devemos pagar pelo amor, pela fraternidade e pela verdadeira paz. Peço a todos vocês que entrem nesta grande revolução que está varrendo esta nação. Ocupe cada rua de cada cidade, ocupe cada vila e cada povoado desta nação, até que a verdadeira liberdade chegue, até que uma revolução esteja completa…

“Domingo Sangrento”

No dia 7 de março de 1965, no auge do movimento pelos direitos civis, Lewis e Hosea Williams, da Southern Christian Leadership Conference (SCLC), juntamente com outros líderes de direitos civis, organizaram e lideraram uma marcha pelos direitos de voto, indo de Selma até Montgomery, no Alabama. Centenas de pessoas se reuniram nesse dia em uma igreja do centro de Selma, ajoelharam-se em oração e começaram a andar pelas ruas da cidade.

Momento em que o aviso de dois minutos é dado pela polícia. Selma, 1993. Foto: National Archives, Identificador: 16899041
Momento em que o aviso de dois minutos é dado pela polícia. Selma, 1965. Foto: National Archives, Identificador: 16899041

Ao deixarem Selma, no final da ponte Edmund Pettus, os manifestantes afro-americanos foram confrontados por 150 soldados do estado do Alabama, delegados do xerife e proprietários de terras, que emitiram um aviso de dois minutos e ordenaram que os manifestantes se dispersassem.

Um minuto e cinco segundos após o aviso de dois minutos, no entanto, as tropas avançaram contra os manifestantes, empunhando tacos, chicotes e gás lacrimogêneo. John Lewis, que sofreu uma fratura no crânio, foi uma das 58 pessoas feridas no episódio. 

John Lewis - White House

Apenas cinco dias depois, Lewis relembrou o ataque em Selma durante uma audiência federal na qual os manifestantes buscaram proteção para uma nova marcha em grande escala a ser realizada na cidade de Montgomery.

Declaração de John Lewis sobre o “Domingo Sangrento” de Selma, 8 de março de 1965. Registros do FBI, National Archives.
Declaração de John Lewis sobre o “Domingo Sangrento”, em Selma, 8 de março de 1965. Registros do FBI, National Archives.

Os violentos espancamentos em Selma foram registrados por vários canais de televisão e provocaram indignação social, e galvanizaram o apoio público e do Congresso para proibir a discriminação racial na votação.

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Ironicamente, o ataque que levou à aprovação do Ato dos Direitos de Voto de 1965 ocorreu em uma ponte chamada Edmund W. Pettus, nome de um general confederado e membro da Klu Klux Khan do Alamaba. O Arquivo Nacional dos Estados Unidos (National Archives) possui a ficha deste militar confederado

Todos os anos, Lewis voltava à ponte para comemorar o aniversário da marcha.

Convidamos o professor Abner Sótenos, doutorando em História na Universidade da Califórnia, para falar sobre a morte de Lewis.

Outros documentos desta história

Como citar este artigo

KLEIMAN, Miriam. John Lewis: ícone do movimento dos direitos civis nos Estados Unidos. In: Café História – História feita com cliques. Disponível em: https://www.cafehistoria.com.br/john-lewis-e-os-direitos-civis/. Publicado em: 02 ago. 2020. ISSN: 2674-5917.Texto publicado originalmente em inglês no blog Piecies of History, do National Archives, com o título We Remember Civil Rights Legend John Lewis.Tradução: Bruno Leal.

Miriam Kleiman

Diretora de Relações Públicas do Programa de Arquivos Nacionais dos Estados Unidos (National Archives).

1 Comment Deixe um comentário

  1. Este tipo de Apartheid americano e irmao do Apartheid sum africano,estes doos paìses tiveram como potencia colonial a Inglaterra,e isto è a consequencia do racismo ingles nas suas colonias,e nao sö,os outros estrangeiros tambem sentem na pele nos dias de hoje o racismo e a xenofobia inglesa.
    Falta de respeito pelos direitos dos outros,sejam eles de que cor,raça ou cultura forem.
    Todos sao necessärios ao nosso crescimento,nao podem ser todos de uma raça,porque senao nao teriamos raças,porque nao o saberìamos,entao ä que aceitar a diversidade na Criaçao,o que torna tudo tao lindo.
    Ninguèm tem sö direitos,como ninguèm tem sö obrigaçoes,que lutem pelos direitos que teem,que è direitos iguais para todos!

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