Muito já foi pesquisado sobre o Holocausto, mas o tema parece ainda inesgotável nas ciências humanas. Novos documentos e novas abordagens têm produzido uma nova e importante leva estudos desde o início dos anos 2000. Confira dez obras da “nova historiografia do Holocausto”.
Por Bruno Leal Pastor de Carvalho
A historiografia do Holocausto é bastante vasta – e quase tão antiga quanto o próprio evento sobre o qual se debruça. A primeira grande obra sobre o genocídio nazista foi publicada em 1961: “A destruição dos judeus europeus”, do historiador austríaco Raul Hilberg. O escrito de Hilberg é espetacular. Ele é dividido em dois tomos que juntos somam mais de 1500 páginas. Cobre desde a formação dos primeiros guetos até os mais remotos campos de concentração, extermínio e de trânsito, passando pela política antissemita e pela dinâmica nos territórios ocupados pela Alemanha Nazista. Até hoje “A destruição dos judeus europeus” é uma referência para historiadores do Holocausto. É recheado de dados e fontes primárias, além da cuidadosa análise crítica do autor. O livro foi publicado no Brasil pela primeira vez apenas em março de 2016 pela Amarylis.
Hilberg é o patrono da historiografia do Holocausto. Mas muita coisa aconteceu depois dele. Em mais de sete décadas de historiografia, os historiadores produziram prolixamente sobre o tema à medida que novos arquivos e antigas testemunhas foram se tornando públicos. O debate tem alguns marcos. É o caso da contenda entre “intencionalistas” e “funcionalistas”. Os primeiros focam na personalidade de Hitler; acreditam que o Führer estava decidido a exterminar os judeus desde os primórdios de sua jornada. Lucy S. Dawidowicz (The War Against the Jews, 1975) foi uma das maiores expoentes desta perspectiva. Gerhard A. Ritter e Friedrich Melnecke foram outros dois autores também igualmente importantes deste grupo, que predominou do fim da Segunda Guerra Mundial até meados dos anos 1970. O funcionalistas, por sua vez, que se tornariam hegemônicos a partir da segunda metade da década de 1970, pensam a partir de uma lógica mais estruturalista: o extermínio só se tornou uma opção com o tempo, conforme a guerra ia avançando. Os historiadores Ian Kershaw, Martin Broszat e Hans Mommsen foram pioneiros desta perspectiva. Para eles, não se pode falar de um plano plano pré-estabelecido de genocídio.
Outro debate que marca a historiografia do Holocausto surgiu na mídia alemã nos anos 1980. Esse debate ficou conhecido como “a querela dos historiadores alemães”. O “evento” pode ser mais ou menos explicado da seguinte forma: em junho de 1986, o historiador Ernst Nolte publicou um artigo intitulado “O passado que não quer passar” no Frankfurter Allgemeine Zeitung (FAZ), um conhecido jornal conservador de Frankfurt. Nesse artigo, profundamente marcado pela política da Guerra Fria, Nolte defendia que tanto o nazismo quanto o Holocausto foram cópias do bolchevismo – para o historiador, o extermínio racial dos nazistas equiparava-se ao extermínio de classe proposto pelos bolcheviques. A tese causou grande polêmica. O filósofo Jürgen Habermas publicou uma reposta pouco tempo depois na revista “Die Zeit” acusando Nolte de “revisionismo”, rótulo que tem sido muito utilizado na historiografia de forma pejorativa. Para Habermas, tratar o Holocausto desta forma seria relativizar o nazismo e ignorar a singularidade do Holocausto. O debate se estendeu por mais de um ano e envolveu outros pesquisadores.
Nos anos 1990, o debate historiográfico renovou seu ânimo com os trabalhos de dois historiadores norte-norte-americanos, Daniel Goldhagen e Christopher Browning. Em 1996, o experiente Browning publicou “Ordinary Men” (sem tradução para o português), no qual examina as atividades de um batalhão policial, o Batalhão de Polícia da Reserva 101, lotado em Hamburgo. O historiador mostra nesse trabalho que boa parte dos homens desta unidade passaram por um baixo grau de doutrinação nazista, e nem eram fiéis seguidores de Hitler; mas, mesmo assim, acostumaram-se as operações genocidas realizadas realizadas por eles na Polônia ocupada. O que Browning quer dizer com isso? Que as circunstâncias pesaram muito mais na política de extermínio da Alemanha do que os ideias nazistas – foi a contingência e não a crença pessoal que tornou homens comuns (“Ordinary Men”) em genocidas. Sua visão, contudo, teve contrapeso.
Ainda em 1996, um jovem historiador, Daniel Goldhagen, lançou um outro livro que parece uma clara e irônica confrontação das teses de Browning. “Os carrascos voluntários de Hitler” (que em inglês, no subtítulo, trazia a expressão “Ordinary Germans”), apontava o contrário: a crença do “povo alemão”, e não as circunstâncias, fora fundamental para a realização do Holocausto. A sociedade alemã, ele defende, estava impregnada de um “antissemitismo exterminacionista”. Ou seja, Goldhagen, que inclusive utilizava muitas das fontes de Browning, queria dizer que o “povo alemão” não só sabia muito bem o que ocorria no país durante a guerra, como fora ainda fundamental para o extermínio. A polêmica foi enorme. Certa vez, Goldhagen foi a Alemanha para ministrar uma palestra e ela foi interrompida devido aos protestos do público presente.
Esses casos são os mais marcantes da historiografia do Holocausto, ou, ao menos, os mais populares. Mas há, como já foi dito acima, um debate muito mais extenso e profícuo sobre o tema. Hannah Arendt, por exemplo, ainda em princípios dos anos 1960, ao cobrir o julgamento de Adolf Eichmann em Jerusalém, nos mostrou como os julgamentos de criminosos de guerra nazistas podem nos ajudar a compreender os perfis dos perpetradores e as suas motivações. Peter Novick, em 1999, publicou “The Holocaust in American Life”, onde examinou o processo de “americanização do Holocausto”. Os historiadores, no fundo, já produziram trabalhos sobre toda sorte de objeto: os métodos de assassinatos, o importância (ou não) de Hitler para o genocídio, o que a opinião pública alemã e internacional sabiam sobre o Holocausto no momento da sua realização, a posição das forças aliadas, os movimentos de resistência, entre outros.
Apesar da abundância de trabalhos, o campo dos Estudos do Holocausto continua dando sinais de que está longe de esgotar. É certamente difícil que alguma nova evidência mude bruscamente a visão geral do que sabemos hoje sobre o assunto – trata-se de uma historiografia muito bem estabelecida. Porém, nosso conhecimento nas últimas duas décadas tem se tornado mais particular, mais sistemático e, ao mesmo tempo, mais abrangente, abarcando dimensões que até então eram pouco exploradas. O objetivo desta bibliografia comentada é promover uma visão daquilo que genericamente podemos chamar de “nova historiografia do Holocausto”.
Não há uma definição consensual do que seria uma “nova historiografia do Holocausto”. O recorte que farei aqui é bastante pragmático: obras lançadas a partir do ano 2000, em português, prioritariamente, mas também em inglês e em espanhol. Há muita literatura especializada importante publicada nas últimas duas décadas em alemão, francês e hebraico. Contudo, por motivos de acesso a língua, priorizei livros nessas três línguas. É uma decisão difícil, mas que julgo necessária. Outro elemento que merece destaque: em geral, o termo Holocausto e o termo Shoah é usado na historiografia para se referenciar aos genocídio dos judeus. Por isso, nesta bibliografia, o recorte são as comunidades judaicas da Europa, sem diminuir obviamente a vida e a morte dos demais grupos perseguidos e violentamente mortos pelos nazistas: ciganos, homossexuais, negros, comunistas, eslavos, entre outros tantos (o nazismo não poupava no ódio), que também podem ser, dependendo da literatura em questão, serem analisados dentro do conceito de Holocausto. Em outras ocasiões, o Café História publicará outras bibliografias, específicas para cada caso. Na verdade, já há alguns textos no portal que cobrem os demais grupos, como é o caso dos Testemunhas de Jeová (clique aqui para ler) e dos Ciganos (clique aqui para ler). Embora a história global do ódio nazista seja fundamental, também é importante notar as particularidades de cada um desses genocídios dentro do contexto do Terceiro Reich.
A historiografia produzida no período 2000-2020 é multidimensional. Procurei considerar na lista de dez livros alguns dos eixos que eu mais considero inovadores desta nova historiografia: a questão do trauma (especialmente a interceção da História com a Literatura), o genocídio em escala regional, estudos comunitários do judaísmo, a visão sistêmica de campos de concentração e o momento da libertação dos campos.
Rethinking the Holocaust |
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Autor(a): Yehuda Bauer |
Ano: 2001 |
Editora: Yale University Press |
Começamos a nossa lista com um livro do consagrado historiador israelense Yehuda Bauer. “Rethinking the Holocaust” foi lançado no início dos anos 2000. Trata-se de um livro de historiografia de Holocausto. A obra traça o “estado da arte” dos primeiros 50 anos da historiografia do Holocausto. O livro é ideal para quem não conhece essa historiografia e quer entender um pouco mais das obras e das polêmicas historiográficas que surgiam antes dos livros indicadas nesta bibliografia comentada. Mas não é apenas isso. Bauer é um historiador muito acostumado ao trabalho de arquivo. Seu livro tenta examinar de forma ampla questões básicas do campo dos Estudos do Holocausto, como a definição e a explicação do Holocausto; se ele pode ser comparado com outros genocídios (singularidade ou não); como os judeus reagiram à campanha de assassinato contra eles; e qual é a relação entre o Holocausto e o estabelecimento de Israel. |
KL – A História dos Campos de Concentração Nazis |
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Autor(a): Nikolaus Wachsmann |
Ano: 2005 |
Editora: Dom Quixote |
O livro de Nikolaus Wachsmann (até este momento, publicado em língua portuguesa apenas em Portugal, pela editora Leya) é talvez o maior estudo sistemático já feito até hoje sobre os campos de concentração. Esse jovem historiador alemão de Munique reconhece o valor de estudos que se especializaram em de campos de concentração específicos, mas, para ele, é preciso fazer uma ampla história dos campos de concentração. Na sua perspectiva, esta é a única forma de entender esta instituição, na sua perspectiva, a que melhor representa o totalitarismo nazista. Para o autor, os campos de concentração (controlados pela SS) formam um sistema robusto e único – este sistema deve ser examinado globalmente. Uma de suas principais conclusões é a de que esse sistema foi muito heterogêneo ao longo dos anos, mudando suas configurações espaciais e funcionais com grande frequência, adaptando-se às demandas de cada momento. Segundo resume Wachsmann, “a constante principal dos KL foi a mudança”. |
Os nazistas e a solução final: a conspiração de Wannsee: do assassinato em massa ao genocídio |
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Autor(a): Mark Roseman |
Ano: 2003 |
Editora: Zahar |
Um livro pequeno, mas muito importante devido a maneira como ele matiza a Conferência de Wannsee. Esta conferência, realizada em janeiro de 1942, em um chique subúrbio de Berlim, foi realizada para que homens do segundo e terceiro escalão do Estado Nazista recebessem uma orientação: a Solução Final para a “questão judaica” não seria deportação ou aprisionamento, mas assassinato em massa. Os historiadores já conhecem há algum tempo a conferência, mas até então poucos haviam se dedicado a ela exclusivamente, mais raros ainda com brilhantismo e tendo por base tantos documentos. Roseman, portanto, explora os meandros de uma “reunião de trabalho”, os perfis de seus participantes, documentos, avaliações, mas não uma reunião qualquer, mas uma reunião em que representantes de Estado discutem um genocídio em detalhes. |
“Na iminência do Extermínio: a história dos judeus da Europa antes da Segunda Guerra Mundial” |
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Autor(a): Bernard Wasserstein |
Ano: 2014 |
Editora: Cultrix |
Pensar o Holocausto dentro do limite temporal da Segunda Guerra Mundial (1939-1945) ou do Terceiro Reich (1933-1945) ignora elementos que são fundamentais para uma compreensão mais plena do fenômeno histórico em tela – é preciso, então, retroceder. Essa é a grande lição por trás do livro de Wasserstein. Baseada em vasta pesquisa bibliográfica e documental, este livro busca fazer um mapeamento das comunidades judaicas da Europa antes do Holocausto. O autor, para isso, traça não só elementos estéticos, políticos e econômicos dessas comunidades, tanto as da cidade quanto as do campo, mas também as afetividades, a cultura e as redes de solidariedade dos judeus que viviam nelas, especialmente no entre-guerras. Essa dimensão é fundamental porque humaniza os números da historiografia do Holocausto. Discutir o número de mortos é importante, basilar até, poderia-se dizer, mas mais importante do que isso é entender, por exemplo, que pessoas foram mortas e que comunidades foram exterminadas completamente (como o modelo de Shtetl). A Europa tinha uma vida comunitária pulsante, plena e cada vez mais polivalente – o Holocausto muda tudo isso. Ele é uma ruptura traumática e irreversível em muitos aspectos dessas comunidades. Em suma, o que Wasserstein aponta é que só temos a real dimensão do que foi este genocídio, quando entendemos a vítima antes da prática do genocídio. |
The Liberation of the Camps: the end of the Holocaust and Its Aftermath” |
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Autor(a): Dan Stone |
Ano: 2015 |
Editora: Yale University Press |
Se “Na iminência do extermínio” amplia o estudo do Holocausto para os anos que precedem o fato, “The Liberation of the Camps”, de Dan Stone, sem tradução ainda para o português, faz um movimento oposto: leva o leitor a pensar os momentos finais do Holocausto e o período imediatamente após a libertação dos campos de concentração e de extermínio. É frequente, no senso comum, imaginar o fim da guerra como o fim da experiência concentracionária. O que aconteceu, contudo, foi bastante diferente. Stone mostra tanto o choque da queles que protagonizaram a libertação, especialmente soviéticos e ocidentais, como também o contexto dos chamados “deslocados de guerra”, categoria em que muitos sobreviventes do Holocausto foram encaixados após conflito. Esses DPs continuavam em campos, agora de recuperação e contenção de doenças, o que gerava outros transtornos para essa população. Essa transição foi extremamente traumática para muitos libertados, que desejavam retornar imediatamente para as suas casas e famílias. Para essas pessoas, os “sobreviventes”, o Holocausto teve uma duração diferente da histórica, se estendendo no tempo e encurtando o espaço. Mas nem tudo foi dor. Stone mostra como a cultura e a vida comunitária judaica foi importante para a retomada da vida. A montagem de peças teatrais, de associações e até mesmo o esporte mostram que não havia apenas vitimismo, mas protagonismo – os judeus foram protagonistas de sua própria sobrevivência e recuperação. |
Escribir La Historia, Escribir El Trauma |
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Autor(a): Dominck LaCapra |
Ano: 2005 |
Editora: Nueva Visión |
Dominick LaCapra é um dos historiadores mais prestigiados e versáteis da atualidade. O “trauma” é o seu principal objeto de estudo, sobretudo o trauma que advém de eventos traumáticos da história contemporânea. Combinado crítica literária com psicanálise e história, LaCapra tem dado contribuições valiosas para compreender o Holocausto e suas representações. É o que ele faz bem nesse “Escribir La Historia, Escribir El Trauma”, analisando relatos de testemunhos do Holocausto (embora não somente). Seu principal intuito nesta obra é compreender como a representação de um passado traumático se relaciona com a forma como se escreve história: o que é uma testemunha, qual o seu valor histórico, porque ela elabora narrativas e como se analisar tais narrativas, eis algumas questões por ele enfrentadas. O interessante é que parte desta “teoria da história” que ele produz pode ser cotejada com outros eventos traumáticos de nosso tempo, caso das ditaduras militares da América Latina nos anos 1960 e 1970. |
Crimes de Guerra – Culpa e negação no século XX |
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Autor(a): Omer Bartov, Anita Grossmann, Mary Nolan (Org.) |
Ano: 2005 |
Editora: Difel |
A memória tem sido no século XXI um dos grandes objetos de estudo de historiadores, e isso acontece em quase todos os segmentos da historiografia. O campo dos Estudos do Holocausto não ficou alheio a tal fenômeno. Há diversos trabalhos sobre a memória do Holocausto, haja vista a profusão de relatos de testemunhos, biografias e autobiografias de sobreviventes de campos de concentração e extermínio. Mas este não é exatamente o caso deste “Crimes de Guerra”. Ele trata-se especialmente de uma outra memória em jogo, não a individual, mas a coletiva. O livro organizado por Omer Bartov, Anita Grossmann e Mary Nolan traz 10 artigos, dos quais 5 tratam diretamente do Holocausto – e quem o faz são grandes especialistas. Omer Bartov, Christopher Browning e Saul Friedländer, três referências intransponíveis quando o assunto é Holocausto, analisam o mito de que a Wehrmacht não teria se envolvido em genocídios, tese ainda muito predominante no meio social alemão. E essa desconstrução é feita de formas diferentes por cada autor. Bartov, por exemplo, parte de uma exposição fotográfica realizada há alguns anos, enquanto que Browning trabalha com uma revista na Sérvia. Esses três artigos são os mais originais do livro, mas todos os demais possuem altíssimo nível, inclusive os outros dois sobre o Holocausto, um deles de Amir Weiner, que analisa a memória de judeus soviéticos no pós-guerra, e Marianne Hirsch, que trabalha com as chaves da arte e da fotografia como formas de memorialização. |
Music in the Holocaust Confronting Life in the Nazi Ghettos and Camps |
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Autor(a): Shirli Gilbert |
Ano: 2005 |
Editora: Oxford University Press |
Creio ser importante destacar o entrelaçamento entre história cultural e história social na historiografia mais recente do Holocausto. É o caso deste livro de Shirli Gilbert. Até onde sei, este é o primeiro trabalho aprofundado sobre músicos que foram presos durante o regime nazista. Gilbert documenta uma ampla gama de atividades musicais, indo desde orquestras e grupos de câmara a coros, teatros, cantos comunitários e cabarés, em alguns dos mais importantes guetos e campos de concentração da Europa, incluindo os campos de Auschwitz e os guetos de Varsóvia e Vilna. O trabalho da autora merece destaque principalmente porque nos faz perceber como a música tinha uma função social importante dentro da experiência prisional nazista – era uma forma dos presos continuarem mantendo sua humanidade, individualidade, senso comunitário e, claro, prazer. Para isso, Gilbert mapeia a produção musical em difíceis condições, a forma como essa música circulava e o que ela representava para a vida social dos presos neste contexto. Conforme classifica a historiadora, música, naquele contexto, era uma “resistência espiritual”. Pesquisa original, necessária e muito bem executada. |
The Holocaust and the Germanization of Ukraine |
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Autor(a): Eric C. Steinhart |
Ano: 2015 |
Editora: Cambridge University Press |
Existe uma “tendência” na historiografia dos regimes autoritários e totalitários: o estudo de situações regionais. No Brasil, durante muito tempo, a ditadura militar foi examinada principalmente a partir da lógica de cidades como Rio de Janeiro e São Paulo. Recentemente, a ditadura passou a ser pensada em outras cidades grandes, médias e até pequenas. Trata-se de uma verdadeira oxigenação de uma área que já apresentava certa saturação. Algo semelhante ocorre no campo dos Estudos do Holocausto. “The Holocaust and the Germanization of Ukraine” é um ótimo exemplo. Nele, Eric Steinhart examina a política exterminacionista na Ucrânia ocupada. O autor esquadrinha neste estudo o tratamento dado aos chamados Volksdeutsche (alemães étnicos), residentes na Ucrânia, e os considerados “indesejáveis”, de judeus a eslavos. Uma das perguntas que norteiam o trabalho é: por que os moradores e autoridades da Transnístria, uma parte do sul da Ucrânia que, com numerosas comunidades Volksdeutsche, participaram do Holocausto com aparente entusiasmo? |
Ravensbrück: A história do campo de concentração nazista para mulheres |
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Autor(a): Sarah Helm |
Ano: 2017 |
Editora: Oxford University Press |
Ravensbrück foi um campo de concentração nazista para mulheres. Idealizado por Heinrich Himmler, ele estava localizado a 90 quilômetros ao norte de Berlim, dentro do município de Fürstenberg. Quando a guerra terminou, cerca de 130 mil mulheres de mais de vinte países europeus tinham prisioneiras lá, incluindo a sobrinha do general francês Charles De Gaulle. A historiografia sempre conheceu Ravensbrück, mas a lógica da Guerra Fria impediu que estudos mais aprofundados sobre ele fossem feitos. Mas, depois da queda do Muro de Berlim, as últimas prisioneiras do campo vivas perderam o medo de falar. A pesquisa de Sarah Helm fez diversas entrevistas com essas mulheres, de forma que seu livro tem uma forte pegada de História Oral. São relatos que ajudam a compor uma história do campo pelas suas próprias prisioneiras. |
Bruno Leal Pastor de Carvalho é fundador e editor do Café História. É professor adjunto de História Contemporânea do Departamento de História da Universidade de Brasília (UnB). Doutor em História Social (UFRJ, 2015). Mestre em Memória Social (UNIRIO, 2009), Especialista em História Contemporânea (PUCRS, 2010), Graduado em História (UERJ, 2006) e Comunicação Social (UFRJ, 2006). Foi professor do Departamento de História da Universidade Federal Fluminense (UFF). Tem pós-doutorado em História Social pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Pesquisa História Pública, História Digital e Divulgação Científica. Também desenvolve pesquisas sobre crimes nazistas e justiça no pós-guerra, com especial ênfase no destino dos criminosos nazistas. Foi cocoordenador do Núcleo Interdisciplinar de Estudos Judaicos e Árabes da UFRJ, o NIEJ entre 2011 e 2018. É membro da Rede Brasileira de História Pública e da Associação das Humanidades Digitais.
Como citar esta bibliografia comentada
CARVALHO, Bruno Leal Pastor de. A nova historiografia do Holocausto. (Bibliografia Comentada). In: Café História – história feita com cliques. Disponível em: https://www.cafehistoria.com.br/nova-historiografia-do-holocausto/. Publicado em: 27 jan. 2020. ISSN: 2674-5917. Acesso: [informar a data].