Francisco José Calazans Falcon: uma homenagem

13 de setembro de 2017
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Francisco Carlos Teixeira da Silva, professor titular de História da UFRJ, homenageia um dos mais destacados historiadores brasileiros.

Nesta quarta feira, 13 de setembro, o Instituto de História da Universidade Federal Fluminense (UFF) entrega o título de Professor Emérito ao professor Francisco José Calazans Falcon, um dos mais importantes historiadores do país. Nascido em 1933, Falcon foi professor da antiga Faculdade Nacional de Filosofia (FNFi), da Universidade Federal Fluminense (UFF), da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC) e, atualmente, é docente do mestrado da Universidade Salgado de Oliveira (Universo). Além disso, participou de Comitês do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), e do Conselho Diretor da Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (FAPERJ). Erudito, publicou diversos livros nos campos da historiografia, da história do Brasil, da história contemporânea e da história moderna.

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Encontro com historiadores realizado pelo Departamento de História da PUC-Rio. Prof. Falcon, profa. Flávia Maria Schlee Eyler (HIS) e prof. Antonio Edmilson Martins Rodrigues (HIS). 10/06/2011. Fotógrafo Antônio Albuquerque. Acervo Núcleo de Memória da PUC-Rio.

Por ocasião do seu justo reconhecimento por parte da Universidade Federal Fluminense, o historiador Francisco Carlos Teixeira da Silva, professor titular de História da UFRJ, escreveu uma homenagem ao professor Falcon, seu antigo professor e mentor. O texto foi publicado originalmente em sua conta no Facebook e gentilmente cedido para publicação aqui.

Por Francisco Carlos Teixeira da Silva

Hoje, quarta-feira, dia 13 de setembro de 2017, a Universidade Federal Fluminense (UFF), através de seu Instituto de História, fará uma justa homenagem ao historiador e intelectual Francisco José Calazans Falcon. Elogiá-lo como professor e pesquisador poderia soar bajulação – afinal foi meu mentor na graduação, meu orientador do Curso de Espacialização em História, do meu Mestrado em História, meu primeiro Coordenador de Área e Coordenador de Pós-Graduação, além de Membro de Banca de Concurso de Mestrado de Concurso Público para Professor da UFF e de Titular na UFRJ. Em todas as ocasiões bastante severo, duro – chegando a arrancar alguns protestos da protetora Maria Yedda Linhares – mas, em todas as ocasiões citadas justo, justíssimo, sem concessões, sem proteção e também sem qualquer parcialidade.

Desde o quinto semestre da Graduação, do Instituto de Filosofia e Ciências Sociais (IFCS) – destroçado pelo abandono, pela repressão e pela delação, entre 1972 e 1975 – suas aulas, fora da Grade Curricular, num exílio imposto por Eremildo Vianna – eram um oásis e refrigério de erudição, cultura e fino humor, que, contudo, sabia, quando necessário, ser caustico. Sua bibliografia era ampla, diversa, aberta e sempre “voltada aos clássicos”: História Moderna com Adam Smith, Max Weber, Karl Marx – sob tremendo risco, com sabujos que insistiam em “varrer” a sala durante as aulas do Falcon! Além dos novos “clássicos” tais como Eli Herckscher, John Neff, Vitorino Magalhães Godinho, Pierre Chaunu e a plêiade de autores de portugueses que nos trazia, então, em primeira mão.

Algumas vezes, de propósito, combinávamos – Angela Porto, Nilson Rosário, e outros – algumas perguntas, só para quebrar o ritmo das aulas. Duas vezes lembro bem: numa, perguntamos o que era a marca “Denominazação Demarcada” nos vinhos portugueses… Tivemos, então, a mais bela aula da história da viticultura e comércio de vinhos de Portugal. Assim mesmo, do nada, do imediato, sem ensaio ou programação. De outra feita, por uma pequena notícia de um tumulto no Afeganistão – isso em 1975, portanto, muito longe ainda da invasão do país em 1979 pela então URSS, de talibães ou da voga fundamentalista – fizemos uma pergunta sobre o por que da autonomia do Afeganistão em face do Império Britânico das Índias. Falcon falou três horas seguidas sobre a Geopolítica do “Grand Jeu” e o “Rajj”, e as relações anglo-russos até a construção da Tríplice Entente e as causas longínquas da Grande Guerra de 1914. Era, desde sempre, “O” mestre.

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Primeiro Simpósio de História Social do Brasil. Auditório do RDC, PUC-Rio. 11/12/1978. Fotógrafo Antônio Albuquerque. Acervo Núcleo de Memória da PUC-Rio.
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Professor Falcon aparece em destaque ao lado do José Luiz Werneck da Silva (HIS). Foto: Antônio Albuquerque (fotógrafo). Acervo Núcleo de Memória da PUC-Rio.

Poderia ser fácil, em face da mediocridade e do clima de pobreza, maldade e pusilanimidade da Área de História Moderna e Contemporânea da UFRJ no final dos de 1960 e começo dos anos 1970. Mas, não era só isso: era o próprio brilhantismo do Falcon, sua capacidade de construir, no improviso, imensos painéis que se encaixavam num mosaico multicolorido e rico de sentidos e conexões. A escolha que fiz de História Moderna e Contemporânea – e o lento, mas decisivo abandono da História Agrária, malgrado a presença e o carinho de Maria Yedda, deveu-se, sem dúvida, as aulas de Francisco Falcon nas tardes de 1975 na sala 212 do IFCS. Agradeço, e muito, por isso e pelo modelo, mesmo que como criatura não seja uma imagem tão boa e nem tão próxima do Mestre, aos exemplos de profissionalismo que, então, nos foram dados. Da mesma forma, a correção pessoal, o engajamento, a coragem – muitas vezes em silêncio, recolhida e sem buscar agradecimentos e louros – foi exemplo a ser seguido. A presença segura, firme, e amiga de Maria Célia Falcon foi, ainda, o complemento perfeito de força, trabalho e suporte para amigos e alunos. Parabéns por vocês serem as pessoas que foram e que são para tantos de nós!


Francisco Carlos Teixeira da Silva – (Rio, 1954) é formado em História e Educação (UFRJ, 1976), possui Especialização em História do Brasil (UFF, 1977) e Mestrado em História do Brasil (UFF, 1981) e Magisterwissenschaft pela Universidade Livre de Berlin, 1983. É doutor em História pela Universidade Livre de Berlim (FU Berlin), Alemanha e UFF (1991); e possui Pós-Doutorado em História Política e Social na USP, na Universidade Técnica de Berlim (TU Berlin, bolsista Capes/DAAD) e na Universidade Livre de Berlim (TU Berlin/Bolsista Capes/DAAD), Alemanha, 2011 e 2013. Professor Adjunto de História Agrária no CPDA/UFRRJ (1976-1981) e professor do PCSDSA/CPDA/UFRRJ. Professor Adjunto de História Moderna e Contemporânea da UFF (de 1977 até 1991) e Professor Titular de História Moderna e Contemporânea, por concurso, da UFRJ (desde 1991) e Professor Titular de Sociologia Política do IUPERJ/ UCAM (2014-2016). EDUEM, 2011); É fundador do Laboratório de Estudos do Tempo Presente/UFRJ e autor de diversos livros no campo da história, entre os quais, “Atlântico, a história de um oceano” (Civilização Brasileira), tendo recebido por ele o Prêmio Jabuti de 2014 de melhor livro do ano. E-mail: [email protected]

Bruno Leal

Fundador e editor do Café História. É professor adjunto de História Contemporânea do Departamento de História da Universidade de Brasília (UnB). Doutor em História Social. Tem pós-doutorado em História Social pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Pesquisa História Pública, História Digital e Divulgação Científica. Também desenvolve pesquisas sobre crimes nazistas e justiça no pós-guerra.

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