Pesquisa coordenada por Rodrigo Turin, professor do Departamento de História da Unirio, teve início no final do ano passado.
Por Bruno Leal | Agência Café História
Nos últimos anos, a sensação de viver um tempo acelerado, de transformação de tudo e de todos tem sido compartilhada por homens e mulheres em todo o mundo. Esse sentimento está presente no universo político e em suas muitas reviravoltas, no uso das novas mídias e até mesmo na maneira como nos relacionamos uns com os outros. Interessado em compreender esse fenômeno histórico e suas implicações para as Ciências Humanas, Rodrigo Turin, professor adjunto do Departamento de História da Unirio, vem desenvolvendo desde o final de 2016 a pesquisa “O tempo desencontrado: aceleração, conceitos de movimento e o(s) lugar(es) das humanidades no Brasil contemporâneo”.
Prevista para durar quatro anos, a pesquisa tem o objetivo específico de compreender o que qualifica e quais são os efeitos das diferentes formas de aceleração que vivenciamos hoje em distintas esferas sociais, com destaque para as concepções de ensino e do lugar das Humanidades no sistema universitário e escolar. Além disso, Turin também quer entender como essa qualidade temporal da aceleração pode ser analisada a partir da emergência de novos vocabulários. O historiador explica o que seria esse fenômeno:
– Estou me referindo à rapidez com que se sucedem eventos e transformações em intervalos de tempo cada vez mais curtos. Mas isso pode ir desde as inovações tecnológicas (o telefone do ano passado que já é “antigo”) até as modas culturais e o sistema financeiro, que depende de uma circulação acelerada de informações. Como a Reuters [agência de notícias] que vende informações em “tempo real” aos agentes da bolsa, pois quanto mais rápido eles tiverem acesso à informação, mais lucram. Não importa mais o “contexto” da informação ou sua dimensão narrativa, mas apenas a informação em si, atomizada, entendida como uma variável econômica. E pelo fato de as coisas estarem a toda hora mudando, como o mercado de trabalho e a tecnologia, surgem conceitos de movimentos como “flexibilidade”, orientado à adaptação constante a essas acelerações. O que me interessa investigar são os efeitos dessas novas experiências e vocabulários de aceleração na orientação e legitimidade das ciências humanas, como elas vem reagindo ou se adaptando a isso.
Na primeira etapa da pesquisa (ainda em andamento), Turin selecionou uma documentação bastante variada, que inclui revistas especializadas, jornais de grande circulação, atas do Congresso envolvendo debates sobre educação, projetos políticos, além de documentos produzidos por associações profissionais do campo das Ciências Humanas, tais como a ANPUH, a ANPOCS e a ANPOF. No momento, além de Turin, estão envolvidos com a pesquisa três estudantes, dois alunos da graduação e uma aluna do mestrado.
Em conversa com o Café História, o professor da Unirio comentou que espera com o projeto contribuir para uma melhor compreensão das condições atuais de produção de conhecimento histórico, e das Humanidades como um todo, além de dar visibilidade às tensões conceituais e sociais que constituem tais campos. Porém, ele pondera, isso está longe de produzir um saber normativo ou definitivo sobre o fenômeno da “aceleração do tempo”. Em suas palavras, “o que as pessoas, os acadêmicos e os não acadêmicos, vão querer fazer com as Humanidades em uma sociedade cada vez mais acelerada e dessincronizada, é, ao final, uma escolha política, e não algo que se revela da própria História”.
Como citar essa notícia
CARVALHO, Bruno Leal Pastor de. Historiador investiga como a “aceleração do tempo” está impactando o campo das Humanidades no Brasil (Notícia). In: Café História – história feita com cliques. Disponível em: https://www.cafehistoria.com.br/privacidade-antigo-egito/. Publicado em: 7 jun. 2017. Acesso: [informar data].