Historiador investiga como a “aceleração do tempo” está impactando o campo das Humanidades no Brasil

7 de junho de 2017
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Pesquisa coordenada por Rodrigo Turin, professor do Departamento de História da Unirio, teve início no final do ano passado.

Por Bruno Leal | Agência Café História

Nos últimos anos, a sensação de viver um tempo acelerado, de transformação de tudo e de todos tem sido compartilhada por homens e mulheres em todo o mundo. Esse sentimento está presente no universo político e em suas muitas reviravoltas, no uso das novas mídias e até mesmo na maneira como nos relacionamos uns com os outros. Interessado em compreender esse fenômeno histórico e suas implicações para as Ciências Humanas, Rodrigo Turin, professor adjunto do Departamento de História da Unirio, vem desenvolvendo desde o final de 2016 a pesquisa “O tempo desencontrado: aceleração, conceitos de movimento e o(s) lugar(es) das humanidades no Brasil contemporâneo”.

Foto de Rodrigo Turin, Unirio
Rodrigo Turin é professor do Departamento de História da Unirio. Foto: Bruno Leal

Prevista para durar quatro anos, a pesquisa tem o objetivo específico de compreender o que qualifica e quais são os efeitos das diferentes formas de aceleração que vivenciamos hoje em distintas esferas sociais, com destaque para as concepções de ensino e do lugar das Humanidades no sistema universitário e escolar. Além disso, Turin também quer entender como essa qualidade temporal da aceleração pode ser analisada a partir da emergência de novos vocabulários. O historiador explica o que seria esse fenômeno:

– Estou me referindo à rapidez com que se sucedem eventos e transformações em intervalos de tempo cada vez mais curtos. Mas isso pode ir desde as inovações tecnológicas (o telefone do ano passado que já é “antigo”) até as modas culturais e o sistema financeiro, que depende de uma circulação acelerada de informações. Como a Reuters [agência de notícias] que vende informações em “tempo real” aos agentes da bolsa, pois quanto mais rápido eles tiverem acesso à informação, mais lucram. Não importa mais o “contexto” da informação ou sua dimensão narrativa, mas apenas a informação em si, atomizada, entendida como uma variável econômica.  E pelo fato de as coisas estarem a toda hora mudando, como o mercado de trabalho e a tecnologia, surgem conceitos de movimentos como “flexibilidade”, orientado à adaptação constante a essas acelerações. O que me interessa investigar são os efeitos dessas novas experiências e vocabulários de aceleração na orientação e legitimidade das ciências humanas, como elas vem reagindo ou se adaptando a isso.

Na primeira etapa da pesquisa (ainda em andamento), Turin selecionou uma documentação bastante variada, que inclui revistas especializadas, jornais de grande circulação, atas do Congresso envolvendo debates sobre educação, projetos políticos, além de documentos produzidos por associações profissionais do campo das Ciências Humanas, tais como a ANPUH, a ANPOCS e a ANPOF. No momento, além de Turin, estão envolvidos com a pesquisa três estudantes, dois alunos da graduação e uma aluna do mestrado.

Em conversa com o Café História, o professor da Unirio comentou que espera com o projeto contribuir para uma melhor compreensão das condições atuais de produção de conhecimento histórico, e das Humanidades como um todo, além de dar visibilidade às tensões conceituais e sociais que constituem tais campos. Porém, ele pondera, isso está longe de produzir um saber normativo ou definitivo sobre o fenômeno da “aceleração do tempo”. Em suas palavras, “o que as pessoas, os acadêmicos e os não acadêmicos, vão querer fazer com as Humanidades em uma sociedade cada vez mais acelerada e dessincronizada, é, ao final, uma escolha política, e não algo que se revela da própria História”.

Como citar essa notícia

CARVALHO, Bruno Leal Pastor de. Historiador investiga como a “aceleração do tempo” está impactando o campo das Humanidades no Brasil (Notícia). In: Café História – história feita com cliques. Disponível em: https://www.cafehistoria.com.br/privacidade-antigo-egito/. Publicado em: 7 jun. 2017. Acesso: [informar data].

Bruno Leal

Fundador e editor do Café História. É professor adjunto de História Contemporânea do Departamento de História da Universidade de Brasília (UnB). Doutor em História Social. Tem pós-doutorado em História Social pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Pesquisa História Pública, História Digital e Divulgação Científica. Também desenvolve pesquisas sobre crimes nazistas e justiça no pós-guerra.

13 Comments Leave a Reply

    • só posso dizer que essa noção de tempo espaço esta completamente obsoleta…o que esta em voga aqui são os acontecimentos dentro desse tempo e espaço e não o próprio em si, pois ja é mais do que estudado pelos fisicos como Etiene Klein, o tempo e espaço é algo estatico, e serve para que as ocorrencias dentro dele possam acontecer…

  1. Interessante o estudo! Entendo que essa aceleração tem muitas relações com as constantes mudanças nas referências e na desestabilização constante de nossas configurações subjetivas! Estamos todo tempo nos tornando outros, a partir de nós mesmos ou apesar disso!

  2. A questão do tempo é muito interessante de ser estudada. Hoje o tempo está cada vez mais rápido e imediato, as informações praticamente chegam em tempo real. Ao meu ver para estudar sobre isso deveria ter uma equipe multidisciplinar um físico seria de extrema importância, porque eles sabem melhor explicar o fenômeno do tempo.

  3. WEsse professor está atrasado no tempo,a tempos existe o W W W pra ser usado na internet,interligando fatos,falas ,fotos e escritos.Ele conhece por acaso o CERN?

  4. Quatro anos estudando as mudanças nas pessoas em razão do tempo? É um belo estudo, mas como tudo está mudandando rapidamente, talvez o resultado da pesquisa estará obsoleto em relacão a sua conclusão, dada a demora na coleta dos dados…

  5. Que o tempo está acelerado isso está mesmo, quando criança parecia que tudo era tão longe e hoje a semana passa num piscar de olhos. O ano também está passando muito rápido. gostaria de receber mais informações sobre o assunto e também tentar compreender mais sobre essa mudança que está ocorrendo

    • Essa é uma lógica simples, quando se tem 5, 10 ou 15 anos pensar em 10 anos a frente parece uma enormidade de tempo, pois é quase o mesmo tempo que se viveu. Quando se chega aos 50, pensar em 10 anos a frente ou para trás (1/5 do que se viveu) parece pouco. Quando eu tinha 15, em 86, imaginava como seria no ano 2000 como algo “tão” distante, hoje, com 49 e olhando o ano 2000 (já passados 20 anos), vejo com uma assustadora proximidade, como se tivesse sido há muito pouco tempo.

  6. Para cada um a relação com o tempo e no tempo pode ser vivenciado diferentemente.
    Como sou o tempo vocês passarão aqui nesse pequeno momento e nos encontraremos numa outra dimensão a qual evoluiu mais um pouco como homo.

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