Historiador grava vídeo no qual aponta a relação entre fala de Bolsonaro e o Holocausto

8 de abril de 2017

Na gravação, Michel Gherman, professor do Instituto de História da Universidade Federal do Rio de Janeiro (IH-UFRJ), condena atitude do público que aplaudiu fala do parlamentar em tradicional clube judaico.

Agência Café História

Nesta sexta-feira (7), o historiador Michel Gherman, professor do Instituto de História da Universidade Federal do Rio de Janeiro e um dos coordenadores do Núcleo Interdisciplinar de Estudos Judaicos e Árabes (NIEJ) desta mesma universidade, publicou um vídeo no qual aponta a relação entre as falas de teor racista proferidas por Jair Bolsonaro no clube Hebraica, no Rio de Janeiro, e o Holocausto. O Café História perguntou a Gherman: por que uma relação que deveria ser tão óbvia precisou ser explicada? De acordo com o historiador, “porque as pessoas teimam em não entender as relações entre racismo e Holocausto. Elas acham que ele se restringe ao antissemitismo”. Confira, na íntegra, o vídeo (7 min.) gravado pelo historiador:

Na última quarta-feira, o deputado federal Jair Bolsonaro (PSC-RJ), cotado para disputar a Presidência da República em 2018, esteve no Clube Hebraica, no bairro de Laranjeiras, Zona Sul do Rio de Janeiro, e, apesar do protesto de membros da comunidade judaica carioca no lado de fora do clube, falou por mais de uma hora para cerca de 300 pessoas que lotaram o auditório. Na palestra, ministrada a convite do Hebraica, Bolsonaro disse que, se eleito, acabará com as demarcações de terras indígenas e quilombolas (descendentes de escravos). Em certo momento do evento, o parlamentar arrancou risos de vários membros da plateia ao falar: “Eu fui num quilombo. O afrodescendente mais leve lá pesava sete arrobas. Não fazem nada. Eu acho que nem para procriador ele serve mais. Mais de R$ 1 bilhão por ano é gasto com eles”. [1]

Bolsonaro também fez críticas ao acolhimento de refugiados pelas autoridades brasileiras:

– Não podemos abrir as portas para todo mundo, disse.

E completou: “Alguém já viu algum japonês pedindo esmola? É uma raça que tem vergonha na cara!”

Nos últimos dias, duas representações parlamentares foram encaminhadas à Procuradoria-Geral da República pedindo a abertura de investigação contra Bolsonaro pelo crime de racismo. Além disso, a B’nai B’rith – Filhos da Aliança, entidade judaica de Direitos Humanos, atuante há 85 anos no Brasil e 175 anos internacionalmente, publicou uma nota de repúdio na qual classificou os pronunciamentos de Bolsonaro como xenófobos, discriminatórios e racistas. “Contamos que os nossos representantes, democraticamente eleitos, apliquem os preceitos de nossa Constituição e os valores que ela promove, saibam tomar as medidas cabíveis nesta IRRESPONSÁVEL circunstância, assim como em qualquer outra que vier a manifestar-se no mesmo sentido.”, encerra dizendo a nota.

[1] Arroba é uma medida usada para pesar gado; cada uma equivale a 15 kg.

Bruno Leal

Fundador e editor do Café História. É professor adjunto de História Contemporânea do Departamento de História da Universidade de Brasília (UnB). Doutor em História Social. Pesquisa História Pública, História Digital e Divulgação Científica. Também desenvolve pesquisas sobre crimes nazistas, justiça no pós-guerra e as duas guerras mundiais. Autor de "Quero fazer mestrado em história" (2022) e "O homem dos pedalinhos"(2021).

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