Historiador francês Henry Rousso detido por 10 horas em aeroporto dos EUA

26 de fevereiro de 2017

Pesquisador, um dos principais nomes da historiografia francesa contemporânea, esteve próximo de ser deportado.

Da Redação

O historiador francês Henry Russo, de 64 anos, ficou detido na última quarta-feira por dez horas no aeroporto internacional de Houston, no Texas, Estados Unidos, e quase foi deportado. Nascido no Egito, Rousso foi ao país para participar de um simpósio no Hagler Institute for Advanced Study, na Texas A&M University. Ao desembarcar, o pesquisador foi “erroneamente detido” por autoridades do aeroporto.

De acordo com Richard Golsan, diretor do Centro Melbern G. Glasscock para Pesquisa em Humanidades da Texas A&M University, após a chegada de Rousso, houve algum “mal-entendido” a respeito de seu visto e “quando ele me chamou com esta notícia […] estavam prestes a enviá-lo de volta a Paris como estrangeiro ilegal no próximo voo.” Até o momento, representantes do aeroporto não explicaram qual teria sido o “mal-entendido” com o visto de Rousso. O contexto político país, contudo, dá algumas pistas. No final de janeiro, o presidente Donald Trump assinou uma ordem executiva que proibia a entrada nos Estados Unidos de pessoas de sete países, um deles o Egito. Em fevereiro, um juiz americano suspendeu a ordem de Trump.

La Loupe
Henry Rousso é um dos mais brilhantes historiadores de sua geração.Foto: Reprodução do Site La Loupe

Ao saber da situação, Golsan imediatamente entrou em contato com funcionários da universidade, incluindo o seu presidente, Michael K. Young, que, por sua vez, solicitou a ajuda e Fatma Marouf, professor da Escola de Direito e diretor da Immigrant Right Clinic. A mobilização, então, deu certo e Rousso foi liberado.

– “Eu jamais presenciei algo do tipo”, disse Marouf ao site The Eagle. Parece que há muito mais rigidez e rigor na aplicação desses requisitos de imigração e quanto aos detalhes técnicos de cada visto”.

Nascido em 1954, no Egito, Rousso é um dos mais brilhantes historiadores de sua geração. Especializado em Segunda Guerra Mundial, História do Tempo Presente, colaboracionismo e Holocausto, Rousso estudou na École normale supérieure de Saint-Cloud, em Sorbonne e no Institut d’Etudes Politiques de Paris. Rousso é autor de um dos mais brilhantes livros sobre a França de Vichy, Le Syndrome de Vichy, lançado em 1987. Nele, o historiador cunhou uma expressão que seria muito usada para compreender aquele período da França sob ocupação nazista, mas que logo seria usada também para outros vários contextos: passé qui ne passe pas (“passado que não passa”). Rousso trabalha atualmente como Diretor de Pesquisas do Centre National de la Recherche Scientifique, uma das instituições de pesquisa mais renomadas no mundo. No Brasil, seu último livro publicado, no final de 2016, foi “A última catástrofe – a história, o presente, o contemporâneo”, pela FGV Editora. Para a conferência do Texas, Rousso escreveu um trabalho intitulado “Dark Side of the Recent Past”, em português, “O lado escuro do passado recente”.

Pelo Twitter, Rousso confirmou o episódio e disse: “Muito obrigado pela reação de todos. Minha situação em nada se compara com a de pessoas que eu vi e que não puderam ser defendidas como eu fui”.

Com informações de The Eagles, Jewish Press e BBC.

Bruno Leal

Fundador e editor do Café História. É professor adjunto de História Contemporânea do Departamento de História da Universidade de Brasília (UnB). Doutor em História Social. Tem pós-doutorado em História Social pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Pesquisa História Pública, História Digital e Divulgação Científica. Também desenvolve pesquisas sobre crimes nazistas e justiça no pós-guerra.

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  1. Pelo visto aceitou numa boa a trapalhada Americana. A vida continua para quem sabe produzir conhecimento histórico que servem ara todos os tempos .. Grande Historiador.

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