Historiador faz alerta sobre o boom da inteligência artificial

Andrew Odlyzko é professor na Escola de Matemática da Universidade de Minnesota, onde pesquisa a história da criptografia e das manias financeiras.
29 de novembro de 2024
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Andrew Odlyzko durante conferência em 10 de outubro de 2014. Foto: reprodução.

Nos últimos dois anos, a inteligência artificial cresceu em escala inédita. Ela tem sido usada em diferentes ramos da indústria, a fim de ampliar a capacidade de processamento de dados e criação de conteúdo. A empresa Nvidia, que fabrica os processadores que treinam e executam modelos de IA, é a empresa mais valiosa do mundo, com uma capitalização de mercado de US$ 3,5 trilhões, superando empresas como Apple e Coca-Cola.

Em entrevista para a agência de notícias Reuters, Andrew Odlyzko, professor na Escola de Matemática da Universidade de Minnesota, onde pesquisa a história da criptografia e das manias financeiras, comparou o boom atual da inteligência artificial (IA) a bolhas históricas, como a das empresas pontocom, no final dos anos 1990, e a da obsessão ferroviária britânica do século XIX. Para ele, as grandes empresas de tecnologia, como Microsoft, Amazon e Alphabet, estão investindo pesadamente em IA não apenas por uma avaliação estratégica, mas por pressão do mercado e receio de ficarem para trás.

– Existe um medo de ser visto pelos investidores como atrasado. Muitas das empresas de telecomunicações no final dos anos 1990, ano 2000, estavam entrando nesse negócio e prometendo — às vezes até fazendo — grandes investimentos, não tanto porque realmente resolvessem um caso de negócios real. Mas se não fizessem isso, seriam percebidas como não estando na moda e poderiam ser assumidas por uma dessas novas startups. Então, o tipo usual de dinâmica que opera nesses tipos de ambientes, ou tempos de expansão, onde você tem ciclos de feedback positivo que estimulam as pessoas a irem com a multidão. Isso está claramente acontecendo com a IA: empresas anunciando que estão implantando IA, apenas para mostrar que estão cientes do que está acontecendo.

No entanto, o historiador destacou uma diferença crucial em relação ao cenário atual. “As empresas de tecnologia que lideram os investimentos em IA hoje têm vastas reservas de capital. Se perderem bilhões, isso será doloroso, mas não catastrófico,” afirmou. O verdadeiro risco, segundo ele, está em setores dependentes, como o de semicondutores, com empresas como a Nvidia, que podem sofrer quedas abruptas em receita e lucratividade se a demanda por chips diminuir.

Apesar dos riscos, Odlyzko reconhece que esses períodos de efervescência econômica têm resultados duradouros. Ele citou o caso das ferrovias britânicas, que, mesmo após o colapso, deixaram uma infraestrutura que revolucionou o transporte. De acordo com Odlyzko, investidores foram prejudicados, mas o país ficou com um sistema ferroviário que impulsionou o crescimento econômico, explicou. Da mesma forma, a bolha das pontocom deixou como legado a infraestrutura de banda larga que facilitou o desenvolvimento da internet moderna.

Odlyzko ressaltou que, embora existam paralelos claros entre o boom da IA e bolhas passadas, o impacto econômico geral pode ser menos dramático devido à solidez financeira das grandes corporações envolvidas. “Se eles perderem algumas centenas de bilhões de dólares, bem, ok, eles ficarão um pouco mais pobres e as avaliações dessas empresas cairão um pouco. A sociedade na totalidade não será muito afetada.” O mais importante e desafio, segundo o historiador, é aprender com a história e identificar os sinais de excesso antes que o mercado entre em colapso.

Bruno Leal

Fundador e editor do Café História. É professor adjunto de História Contemporânea do Departamento de História da Universidade de Brasília (UnB). Doutor em História Social. Tem pós-doutorado em História Social pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Pesquisa História Pública, História Digital e Divulgação Científica. Também desenvolve pesquisas sobre crimes nazistas e justiça no pós-guerra.

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