Se as cidades são feitas de pessoas, o que acontece quando certas pessoas não têm as suas histórias contadas ou conhecidas? Sim, a história da cidade fica mais pobre e menos interessante. Pensando na relação entre a história das pessoas e a história da cidade, duas historiadoras e um historiador criaram o projeto “Biografias (in)visíveis da História do Rio de Janeiro”.
O projeto produziu a biografia de 20 personagens “esquecidos” do Rio de Janeiro, oferecendo uma perspectiva afetiva e comprometida, construída por pesquisadores, acadêmicos e professores, que ao escreverem as biografias, revelam suas contribuições à memória da cidade.
História Pública
“Biografias (In)visíveis da História do Rio de Janeiro” foi realizado pelo projeto de História Pública e Digital Poeira da História, que vem realizando diversos projetos e em diferentes formatos desde 2019.
O projeto foi idealizado e coordenado por duas historiadoras, Alessandra Tavares e Natália Peçanha, e um historiador, Max Oliveira. Os três convidaram 20 pesquisadores a escreverem biografias afetivas sobre 20 personagens da história do estado do Rio de Janeiro que tiveram suas trajetórias invisibilizadas. Cada pesquisador deveria escrever sobre o seu encontro com a personagem biografada, se colocando na narrativa também enquanto um personagem, na primeira pessoa.
O projeto levou um ano para ser realizado, desde as primeiras reuniões até os intensos seis meses de uma execução que envolveu profissionais de várias áreas do conhecimento na escrita dos textos, além de designer, programador, revisor, consultora de acessibilidade, coordenados por Max Oliveira, ficou responsável pela Coordenação Geral do projeto. Já Alessandra Tavares e Natália Peçanha ficaram com a coordenação de pesquisa.
Tia Zé: tecelã e sindicalizada
Dentre essas biografias afetivas, está a de Maria José Pereira Caetano, ou Tia Zé, mulher trabalhadora negra nascida em 1916, no bairro do São Cristóvão. O historiador Álvaro do Nascimento explica:
“Tia Zé era sindicalizada no Sindicato dos Trabalhadores, na Indústria de Fiação e Tecelagem do Rio de Janeiro, fundado em 1917. O Decreto Lei n.º 1402, de 5 de julho de 1939 (na carteirinha há um claro erro de digitação quando informa o ano) seria incorporado ao decreto que consolidou as leis trabalhistas no Brasil, em 1943, outorgado por Getúlio Vargas no Estado Novo. Pressupunha ‘um operariado cidadão restrito e regulado’, a fim de melhor controlá-los e controlá-las nas relações de trabalho com seus patrões e o próprio Estado. (…) Operárias e operários da fiação já haviam realizado movimentos grevistas, em novembro de 1935, na luta por direitos, alguns conquistados com a CLT e continuaram em luta mesmo durante o Estado Novo da ditadura de Vargas.”
Além de “Tia Zé”, é possível encontrar a biografia de Monteiro Lopes”, protagonista negro na política; José Angelo Vieira de Brito, um intelectual do humor carioca; Plácida dos Santos, a artista que levou a música e a dança nacional para os palcos de Paris; Tia Eulália, uma filha de Dona Etelvina, carteirinha número 1 do Império Serrano, e muitos outas biografias.
A proposta do site agora é receber, por fluxo contínuo, novas biografias na construção de acervo digital construído colaborativamente. O projeto foi vencedor do Edital Diversidade em Diálogo da Secretaria de Economia Criativa do Estado do Rio de Janeiro.
Todas as biografias
João W. Nery por Jaqueline de Jesus; Jacome da Costa por Carolina Almeida; Maria Izabel e Maria Helena D’Iánsan por Marta Ferreira D’ Oxum; Cláudia Celeste por Samanta Quadrat; Edson Felisberto por Lucimar Felisberto; José Ângelo Vieira de Brito por Natália Peçanha; Sebastião Coelho de Menezes por Elaine Ferreira; Tia Eulália por Alessandra Tavares; Mam’etu Sião Vanju por Fabíola de Souza; Tia Zé por Álvaro do Nascimento; Sara York por Sara York; Plácida dos Santos por Juliana Pereira; Enéas Pereira Belém por Max Oliveira; Coema Hemetério dos Santos por Luara Santos; Martinho Corrêa Vasques por Luiz Costa-Neto; Djalma Sabiá por Mauro Cordeiro; Dona Ivanísia por Vinícius Natal; Paulo Silva por Amílcar Pereira; Capitão Gaspar José Soares por Valdirene Pessoa e Carlos Eduardo da Costa; Monteiro Lopes por Petrônio Domingues.
Sugestão de leitura
O livro do historiador Bruno Leal, professor da Universidade de Brasília e criador do Café História, é um dos mais vendidos nas categorias “Ensino e Estudo” e “Historiografia” da Amazon. O livro está disponível para leitura no computador, no celular, no tablet ou no Kindle. Mais de 80 avaliações positivas de leitores. Confira aqui.