Em agosto de 2021, o grupo fundamentalista islâmico Talibã recuperou o controle da cidade de Cabul, capital do Afeganistão. A ação foi amplamente divulgada na mídia internacional e acabou naturalizando a imagem do Afeganistão como um país onde só existe violência e terrorismo. Com o objetivo de apresentar um outro olhar para a história do Afeganistão, Emiliano Unzer, professor da disciplina História da Ásia, na Universidade Federal do Espírito Santo, preparou esta videoaula em que apresenta a diversidade de povos e culturas que marcam a formação do país.
Segundo o historiador, o fato de o Afeganistão ter uma posição geográfica estratégica, que liga rotas para o vale do Hindu, China e Oriente Médio, favoreceu o encontro entre diferentes povos na região. Ele explica, por exemplo, que escavações arqueológicas evidenciaram a presença de estátuas gigantes em reverência a divindades budistas com referências à cultura helênica. Essa fusão ocorreu após as conquistas realizadas por Alexandre, o Grande na região do atual Afeganistão, por volta de 330 a.C.
Ao longo da videoaula, Unzer nos apresenta o diverso mosaico cultural que compunha a região do atual Afeganistão, antes da ascensão do islã, ocorrida por volta do século IX d. C. Essa abordagem contribui para o entendimento de que o Afeganistão é formado por um conjunto de culturas riquíssimas, e que não deixaram de coexistir mesmo quando grupos fundamentalistas assumiram o poder estatal.
História Contemporânea do Afeganistão
No que diz respeito à História recente do país, Unzer destaca que entre 1979 e 1989, no período final da Guerra Fria, o Afeganistão foi comandado por um governo socialista. Esse período foi fortemente marcado por conflitos internos entre os líderes socialistas e grupos afegãos de oposição. Nesse contexto, os Estados Unidos fortaleceram grupos fundamentalistas islâmicos, com armas de fogo, por exemplo, com o objetivo de derrubar o governo socialista e conquistar regiões estratégicas no continente asiático.
Ao apresentar as relações estabelecidas entre grupos políticos afegãos e os Estados Unidos, e demais países ocidentais, Unzer destaca o protagonismo de grupos afegãos nas tomadas de decisão. Ou seja, o professor reconhece a relevância desses grupos, como o próprio Talibã, no cenário político internacional. O professor vai na contramão de narrativas que definem os líderes estadunidenses e europeus como aqueles que ditam as regras e definem os rumos dos conflitos e negociações.
Além dessa faceta, Unzer destaca ainda que a História do Afeganistão não se resume a grupos fundamentalistas islâmicos, pois sua formação enquanto país foi marcada pelo encontro e conexão de distintos grupos sociais. Para quem deseja se aprofundar na história do Afeganistão e do continente asiático, Unzer possui um canal no YouTube inteiramente voltado para essa temática. O professor também organiza um perfil no Instagram e um novo site dedicados à História do continente asiático.