A Primeira Guerra Mundial foi um dos maiores conflitos da era industrial. Da introdução de aviões ao uso de tanques e canhões ferroviários no campo de batalha, os soldados tiveram que lidar não só uns com os outros, mas também com tudo aquilo que era produzido no chão da fábrica. Até o recém-inventado telefone foi utilizado por unidades de combate – os soldados usavam o aparelho para transmitir ordens ou para direcionar o fogo da artilharia.
Em um conflito com o tamanho e a duração da Primeira Guerra Mundial, a comunicação é uma questão-chave. Infelizmente, a tecnologia, como o telefone ou o telégrafo, não era tão confiável quanto os comandantes da Europa gostariam. Na tentativa de melhorar a comunicação em combate, as lideranças da Primeira Guerra Mundial recorreram então a uma forma muito mais antiga de comunicação: o pombo correio.
Heróis desconhecidos da Primeira Guerra Mundial, os pombos-correios dos países dos Aliados e das Potências Centrais ajudaram os seus respectivos comandantes com um grau de precisão e clareza sem precedentes no campo tecnológico.
O Arquivo Nacional dos Estados Unidos possui uma vasta coleção de mensagens que essas aves combatentes entregaram para soldados americanos. Usando essas mensagens e explorando a história do pombo correio no campo de batalha, somos capazes de perceber as dificuldades que essas corajosas aves enfrentaram na guerra e como as suas ações salvaram as vidas de muitos soldados americanos.
Uma das coisas mais impressionantes ao olharmos esses registros de guerra do Arquivo Nacional americano é perceber como o uso dos pombos-correios foi amplo. Seus serviços como mensageiros ocorreram em todos os ramos do serviço militar.
Os rudimentares aviões dos países em guerra lançavam os pombos em pleno ar. Lançados no meio da missão, as aves voavam de volta para seus pombais e atualizavam os comandantes, em solo, sobre o que os pilotos haviam observado. Atualizações rápidas como essa eram essenciais para que as lideranças soubessem a real situação no campo de batalha e o que o inimigo estava fazendo em suas próprias trincheiras.
Já os tanques carregavam os pássaros para transmitir o avanço de unidades individuais. Mesmo após a introdução do rádio, os animais eram, geralmente, a forma mais fácil de coordenar as unidades de tanque sem expor os homens ao perigoso fogo inimigo. Nos casos em que não houvesse acesso a estações de rádio, os soldados precisavam deixar a relativa segurança de seus tanques para transmitir ou receber ordens.
O uso mais eficaz dos pássaros ocorreu na linha de frente – os exércitos levavam consigo os animais e esses ajudavam a atualizar os comandantes e estrategistas que estavam na posição de retaguarda. Quando os pássaros estavam longe de seus pombais, eles ficavam em unidades móveis, geralmente carruagens convertidas ou até mesmo ônibus de dois andares.
Os pombais móveis eram úteis quando os exércitos avançavam para além de suas linhas de comunicação ou quando o inimigo interrompia as linhas dos telégrafos ou telefones, como frequentemente ocorria durante as batalhas.
Enquanto as outras potências aliadas foram as primeiras a usar pássaros, os Estados Unidos não ficaram muito atrás. Durante a guerra, muitas aves tiveram performances heroicas em suas missões e se tornaram heroínas à sua própria maneira.
Uma ave muito conhecida na época era conhecida como “Presidente Wilson”. Nascido na França, “Presidente Wilson” ajudou tanto o corpo de tanques americanos quanto os soldados de infantaria dos EUA em sua luta contra a Alemanha. Seu momento mais famoso veio ao ajudar a 78ª Infantaria perto de Grandpré durante a Ofensiva Meuse-Argonne.
Enfrentando o inimigo na manhã de 5 de outubro de 1918, a unidade do “Presidente Wilson” soltou o animal para que este solicitasse apoio da artilharia. Seu voo, porém, não foi nada fácil. Ao ver o Wilson se elevando acima das linhas inimigas, os soldados alemães abriram fogo contra ele, o acertando várias vezes. Embora tenha sofrido inúmeras lesões, “Presidente Wilson” foi capaz de voar de volta até o seu quartel-general em tempo recorde – em menos de 25 minutos.
O pombo conhecido como Cher Ami também ganhou fama durante a Primeira Guerra Mundial. O momento de heroísmo de Cher Ami ocorreu durante as ações do chamado “Batalhão Perdido”. Durante a Ofensiva Meuse-Argonne, o exército alemão cercou as unidades da 77ª Divisão, mantendo-se a situação assim por cinco dias.
Em certo ponto da batalha, as forças de artilharia americana, tentando bombardear os alemães, começaram a acertar, sem querer, em seus próprios homens. Incapazes de transmitir mensagens, Cher Ami era o último pombo disponível para os americanos, a sua última chance para pedir a artilharia que parasse de disparar.
Lançado como sua última esperança, Cher Ami voou através de uma chuva de tiros, sofrendo tiros no peito e na perna. Apesar desses ferimentos, Cher Ami sobreviveu e foi capaz de entregar a mensagem. A artilharia interrompeu o “fogo amigo”. Pelo serviço prestado, o governo francês concedeu a Cher Ami a condecoração “Croix de Guerre”.
Visite o site do Arquivo Nacional dos Estados Unidos para obter uma lista completa de eventos, atividades e recursos relacionados ao 100º aniversário da Primeira Guerra Mundial, lembrados entre 2014 e 2018.
Como citar este artigo
KRATZ, Jessie. Heróis desconhecidos da Primeira Guerra Mundial: os pombos-correios. In: Café História. Tradução de Bruno Leal Pastor de Carvalho. Publicado Original, em inglês, sob licença Creative Commons, no blog Pieces of History. Publicado em 19 abr. de 2023. Disponível em: https://www.cafehistoria.com.br/herois-desconhecidos-da-1-GM-os-pombos-correios/. ISSN: 2674-5917.
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