A Guerra do Paraguai é um dos grandes eventos bélicos no século XIX e o principal grande conflito entre nações no qual o Brasil já se envolveu ao longo de sua história. Foi um conflito longo, de 1864 a 1870, e sangrento, que ceifou a vida de milhares de pessoas, entre brasileiros, argentinos, uruguaios e paraguaios.
Conhecer um pouco mais sobre esse evento histórico é conhecer um forte componente do processo de conformação do Estado brasileiro, de elementos de formação da identidade nacional e de destaque para questões candentes para um jovem país, como o problema da escravidão e o papel dos militares na dinâmica política nacional, além do processo de arranjo geopolítico regional da região platina. Enfim é muito mais do simplesmente pensar em soldados e batalhas, nesse sentido, destaco cinco publicações que podem ajudar o leitor a se aprofundar nessa temática histórica.
1. FRAGOSO, Augusto Tasso. História da guerra entre a Tríplice Aliança e o Paraguai. 2. ed. Rio de Janeiro: Biblioteca do Exército, 1960, v. 1–5.
Trata-se de uma coleção de cinco volumes, publicada na década de 1960, com um criterioso trabalho de reunião e análise de documentos sobre a Guerra do Paraguai, que procura abarcar todos os eventos da guerra e as personagens de maior relevância no contexto militar. Fragoso, com as informações de que dispunha, faz uma excelente análise dos principais eventos militares do conflito e suas implicações no longo transcurso desta que foi a maior guerra sul-americana no século XIX. Em termos de historiografia brasileira sobre a “Guerra do Paraguai”, esta é uma coleção de uma vertente considerada tradicional, que destaca e valoriza os feitos militares, o tom ufanista, o heroísmo e a abnegação das forças brasileiras na luta contra o Paraguai, invasor do território brasileiro. É leitura indispensável àqueles que querem se debruçar sobre os estudos desse conflito.
2. SALLES, Ricardo. Guerra do Paraguai: escravidão e cidadania na formação do Exército. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1990.
Este livro de Ricardo Salles é um dos divisores de água em termos de historiografia brasileira sobre a Guerra do Paraguai, pois representa, dentre outras obras, o avanço na análise histórica do conflito que superasse as publicações de vertente ‘tradicional’ (história das batalhas, historia das trincheiras, história oficial do conflito) e revisionista (cuja tese principal era a do imperialismo inglês como grande catalisador e instigador dos eventos bélicos platinos). Trata de um livro que abre caminho para uma nova historiografia sobre essa guerra, incorporando e integrando não somente as perspectivas e análises políticas e econômicas, mas também as culturais, a exemplo da discussão sobre a participação de negros, sejam escravos, libertos ou livres, e o processo de conformação de elementos de cidadania no Brasil a partir desse conflito. Brasil, o Uruguai e o Paraguai tiveram em suas fileiras batalhões formados por negros, escravos ou não.
3. MENEZES, Alfredo da Mota. Guerra do Paraguai — como construímos o conflito. São Paulo: Contexto; Cuiabá: ed. UFMT, 1998.
O livro de Menezes se debruça sobre o início do conflito e suas causas. Também representa um avanço na historiografia sobre esse conflito por desconstruir a tese de que a Guerra ter se iniciado pela atuação direta dos interesses ingleses na região platina. Nesse sentido, a geopolítica regional e os episódios da intervenção brasileira no Uruguai tem papel fundamental nas ações que catalisaram o início da guerra.
4. FIGUEIRA, Divalte Garcia. Soldados e negociantes na Guerra do Paraguai. São Paulo: Humanitas FFLCH-USP; FAPESP, 2001.
Figueira nos apresenta um panorama mais detalhado dos impactos econômicos da Guerra do Paraguai, mobilizados pelo Brasil para mover as complexas e burocráticas engrenagens do cotidiano bélico, ressaltando os custos, os recursos financeiros mobilizados, as dificuldades na compra e fornecimento de mercadorias essenciais ao abastecimento das forças militares, destacando a figura de alguns fornecedores e suas relações com as forças aliadas (Brasil, Argentina e Uruguai).
5. DORATIOTO, Francisco Fernando Monteoliva. Maldita guerra: nova história da Guerra do Paraguai. 2. ed. São Paulo: Companhia das Letras, 2002.
O livro de Doratioto, “Maldita Guerra”, é um dos grandes destaques da nova historiografia sobre a Guerra do Paraguai. É um livro extenso, com farta utilização de fontes documentais e bibliográficas, que abarca todo o período e extensão do conflito e suas principais personagens. Doratioto também procura se distanciar da vertente historiográfica clássica e desmonta as principais teses revisionistas. A prioridade em apresentar uma perspectiva total do evento, ora aproximando do leitor alguns personagens e eventos específicos, ora apresentando somente os aspectos gerais deixa ao leitor certa impressão de totalidade quanto aos estudos históricos sobre este evento, o que não procede. A guerra é tratada em suas dimensões políticas, econômicas e, em parte, culturais, consolidando-se, também, como leitura fundamental e indispensável para se compreender a guerra.
Outras indicações:
CERQUEIRA, Dionisio. Reminiscências da campanha do Paraguai, 1865–1870. Rio de Janeiro: Biblioteca do Exército, 1980.
COSTA, Wilma Peres. A espada de Dâmocles: o Exército, a Guerra do Paraguai e a crise do Império. São Paulo: Hucitec – ed. UNICAMP, 1995.
IZECKSOHN, Vitor. O cerne da discórdia: a Guerra do Paraguai e o núcleo profissional do Exército Brasileiro. Rio de Janeiro: E-Papers, 2002.
SALLES, Ricardo. Guerra do Paraguai, memórias e imagens. Rio de Janeiro: Biblioteca Nacional, 2003.
SILVEIRA, Mauro César. A batalha de papel: a Guerra do Paraguai através da caricatura. Porto Alegre: L&PM, 1996.
TAUNAY, Alfredo d’Escragnolle, Visconde Taunay. Diário do Exército, campanha do Paraguai, 1869–1870: Comando-em-chefe de S. A. o Sr. Marechal de Exército Conde d’Eu. Rio de Janeiro: Biblioteca do Exército, 2002.
TAUNAY, Alfredo d’Escragnolle. Recordações de guerra e de viagem. Brasília: Senado Federal/Conselho Editorial, 2008.
Como citar esta bibliografia
VAZ, Braz Batista. Guerra do Paraguai: leituras indispensáveis. (Bibliografia Comentada). In: Café História. Disponível em: https://www.cafehistoria.com.br/guerra-do-paraguai/ Publicado em: 2 set. 2014. ISSN: 2674-5917. Acesso: [informar a data].
E a obra do Júlio Chiavenato?
Me fiz a mesma pergunta. Estou pesquisando algumas referências bibliográficas sobre o tema para poder me aprofundar, mas acho que ele não citou o Chiavenato porque o professor que realizou essa listagem ( levando em conta suas referências) é contrária a ideia de influência britânica na guerra.
Paulo, não falo pelo autor da lista, mas a obra do Chiavenato é bem antiga. Talvez esteja muito defasada em termos historiográficos. O grande nome nos últimos anos é o Doratioto.
Para além das obras citadas, teriam mais algumas sugestões bibliográficas que trabalham com imagens, caricaturas ou imprensa de foram geral?