Benjamin Franklin era multitalentoso. Ao longo de sua vida ele colheu louros e fama por muitas de suas atividades entre elas inventor, cientista, escritor, editor e publicista. Mas uma de suas façanhas menos conhecidas foi sua atuação como homem de Estado. Por oito anos, a partir de 1776, Franklin, já um septuagenário, atuou na França promovendo negociações em busca de apoio militar e financeiro para uma retomada robusta, e visando a vitória, das forças aliadas americanas contra o domínio da coroa inglesa em seu território. Foram longos anos de negociações, traições e intrigas que transformaram Franklin em um dos expoentes da independência norte-americana e lhe concederam o título primoroso como um dos pais fundadores da nação.
A minissérie dirigida por Timothy Van Patten, conhecido por seu trabalho em séries de destaque como Boardwalk Empire (2011), Game Of Thrones (2011) e até a maravilhosa Sopranos (1999), é uma adaptação dos roteiristas Kirk Ellis e Howard Korder do livro da historiadora Stacy Schiff chamado “A Great Improvisation: Franklin, France and the Birth of America” de 2005. Para o papel principal foi escolhido ninguém menos que Michael Douglas para incorporar o carismático e desconcertante Benjamin Franklin.
A jornada inicia com a viagem para França de Franklin acompanhado pelo seu neto Temple (Noah Jupe) com o claro objetivo de conseguir financiamento francês para munições, armas e provisões para o, no momento em questão, fracassado grupo dos rebeldes norte-americanos que lutavam bravamente contra a dominação inglesa. Com o objetivo de conquistar Paris com seu charme natural e eloquência intelectual, Franlkin não poupariam esforços (e bajulações) para atingir seus objetivos, enquanto seu neto faria às vezes de aprendiz de diplomata e sidekick. Temple, tomando claramente o lado do avô na luta, ressente o pai, que acabou ficando do lado da monarquia inglesa, o que culminou em um corte de laços entre ele e Benjamin. Temple não hesita em seguir o avô, que tanto admira, até mesmo nas situações mais estapafúrdias e surreais marcadas, principalmente, pelo choque cultural entre o pragmatismo do novo mundo e a pompa e circunstância de uma França ainda em pleno período rococó com sua realeza fracassada, porém ainda com muita influência em assuntos oficiais.
Com um tom bastante forte de comédia, as artimanhas de Franklin e Temple os colocam em enrascadas a todo o momento, das quais ainda precisam sair como vitoriosos, pois o êxito da revolução nos USA depende, em parte, da sua atuação perante uma trupe de perucas empoadas, bochechas artificialmente vermelhas e figurinos glamorosos. Mas a crítica de costumes não se limita a retratar os franceses como bufões e aborda, também, muito a personalidade complexa e a conduta, muitas vezes, inescrupulosa de Franklin para atingir seus objetivos. Ele não poupa em truques, estratégias de manipulação e sedução, quando a finalidade é receber a atenção e os ouvidos de oficiais franceses para suas demandas. Nesse ponto percebemos em especial a maestria de Michael Douglas no papel, seu Franklin parece simpático e aprazível, mas por trás vemos um homem com poucos escrúpulos e que não recusa nenhuma forma de negociação, mesmo que isso coloque em risco sua própria vida ou a de seu neto. Michael ainda dá seu toque levemente calculista e intimidador que nos faz lembrar vagamente seu papel em Wall Street (1987). O bom velhinho não é tão inocente quanto aparenta à primeira vista, enquanto uma legião de fãs franceses o celebra pela sua “descoberta da energia elétrica”, Franklin usa sua fama para circular nas rodas mais altas da sociedade francesa e fazer contatos. Um perfeito homem de negócios do século XXI em pleno século XVIII. A obra conta também com um ótimo elenco de atores franceses que conseguem capturar com perfeição a atmosfera de futilidade da época com suas salas de chás, pequenos concertos e festas glamourosas.
Franklin é uma produção pomposa, com bela cenografia e figurino impecável, que vale a pena ser consumida como um bom Macaron – sem ser levada extremamente a sério e com degustação lenta em pequenas doses. Os oito capítulos da minissérie já estão disponíveis para os assinantes do streaming Apple TV+.