Cena de Flow com gato, cachorro, capivara macaco e ave.
"Flow" venceu o Oscar de melhor animação em 2024. Imagem: reprodução.

“Flow”: quando a vida apertar, aguente firme

Animação letã vencedora do Oscar 2025, “Flow” é cheia de metáforas e mensagens realistas sobre união, solidariedade e os limites do que podemos fazer.
12 de março de 2025

Quem assistiu a “Flow”, animação de 2024 da Letônia, não se surpreendeu quando, no dia 2 de agosto de 2025, o filme recebeu o Oscar de melhor animação. De qualidade gráfica ímpar e roteiro simples, mas certeiro, “Flow” é um filme bonito e contagiante. Com classificação etária livre, ele é uma ótima opção de entretenimento para pais e mães verem com seus filhos e filhas.

A história acompanha um gato solitário que, após uma grande enchente, é levado pela correnteza para um território desconhecido. À medida que navega por rios e paisagens surreais, ela encontra outras criaturas em situações semelhantes, formando laço efêmero e aprendendo a se adaptar às mudanças imprevisíveis do ambiente. Com uma narrativa sem diálogos e uma estética visual deslumbrante, “Flow” convida o espectador a refletir sobre resiliência, conexão e o fluxo incessante da vida.

O filme é dirigido por Gints Zilbalodis, escrito e produzido por Zilbalodis e Matīss Kaža. “Flow” é o segundo longa da carreira de Zilbalodis, que já tinha dirigido “Lounge”, de 2019. A produção de Flow começou em 2019 e durou cinco anos e meio, usando o software de animação gratuito e de código aberto Blender. Jacques Tati e Future Boy Conan serviram de inspiração para o filme. Nenhum storyboard foi usado para a produção e não há cenas deletadas.

“Flow”: quando a vida apertar, aguente firme 1

O historiador Bruno Leal (UnB) entrega algo inovador: um livro que é, ao mesmo tempo, um guia para a seleção do mestrado em História e uma introdução ao universo do mestrando e da mestranda. Com linguagem simples, Leal explica tudo o que você sempre quis saber sobre o mestrado em História, mas teve medo de perguntar. Leia no computador, no tablet, no Kindle ou celular. Confira aqui.

A enchente é uma grande metáfora para o fluxo inesperado da vida e para como as coisas mudam de uma hora para outra. O barco e a odisseia do gato e das outras espécies remetem à vida e à nossa relação com os outros, sem marcada por tensões, desconfianças e união, mesmo quando somos muito diferentes uns dos outros. O gato precisa, para se salvar, abandonar sua casa, ou melhor, a casa que já pertenceu, podemos deduzir, aos seus donos. Uma ave é expulsa do seu grupo por proteger o cato e não o comer. Um macaco acumulador precisa deixar para trás alguns pertences se quiser viver. O filme é cheio de mensagens.

Não somos informados quando se passa essa trama. Mas, a julgar pelas construções, parece um tempo antigo, mil, talvez dois mil anos atrás, talvez no Oriente, devido ao apreço por gatos e às construções em pedra. Mas aqui, mais uma vez, isso importa pouco. Esse tempo não localizado precisamente é apenas outra metáfora, agora para “tempos imemoriais”.

Em cada lugar que o barco – uma arca de Noé sem Noé – vai avançando, os animais percebem que a única forma de sobreviver é se agirem juntos. Cada um tem sua habilidade e, quando combinadas, protegem o grupo. Durante a travessia, eles são seguidos quase o tempo todo por uma linda baleia, que se sente em casa naquele aguaceiro todo, ao contrário dos animais, que foram colocados em um ambiente hostil e estranho.

“Flow”, a amizade e seus limites

Na parte final do filme, há o momento mais desafiador. Tão rápido quando chegou, a água também desaparece. O nível baixa, devolvendo as árvores, os arbustos e a relva verde. Mas isso coloca os animais em perigo, pois o barco, que tinha sido a sua salvação, agora está preso no alto de uma árvore, a muitos metros do chão, presa por poucos fios, prestes a cair. Todos conseguem pular relativamente fácil para fora, mas a capivara é pesada. E a única que não consegue. Mas todos se unem para puxá-la para fora, e conseguem. Uma felicidade toma conta do inusitado grupo de animais.

O final da animação traz, porém, uma mensagem realista dura. Embora a amizade entre as espécies tenha sido forte o suficiente para salvar a Capivara, ela tem seus limites. A baleia que acompanhou o grupo está agora irreversivelmente atolada em terra firme, em seus últimos momentos. A queda repentina da água foi fatal. Após atestarem a situação, os animais acabam olhando para si em um reflexo na água, como um momento de descoberta.


Bruno Leal

Fundador e editor do Café História. É professor adjunto de História Contemporânea do Departamento de História da Universidade de Brasília (UnB). Doutor em História Social. Pesquisa História Pública, História Digital e Divulgação Científica. Também desenvolve pesquisas sobre crimes nazistas, justiça no pós-guerra e as duas guerras mundiais. Autor de "Quero fazer mestrado em história" (2022) e "O homem dos pedalinhos"(2021).

Livro em destaque

"Várias faces da Independência" foi destaque em 2022, ano do bicentenário da independência brasileira. Reunindo os maiores especialistas no tema, o livro consegue falar de forma didática e problematizadora sobre as batalhas, as elites, as classes subalternizadas, a cultura e muitas outras dimensões de nosso complexo processo de independência. Livro de especialistas para não-especialistas. Clique na imagem para conferir o livro.

Nossa agenda

março 2025
D S T Q Q S S
 1
2345678
9101112131415
16171819202122
23242526272829
3031  

Leia também