Minecraft pode ampliar o interesse dos estudantes pelo ensino da história? O professor de história Tiago Rattes mostra que sim. Rattes é professor da Escola Projeto 21, em Curitiba, Paraná, e nos últimos meses esteve bastante ocupado no desenvolvimento de seu novo projeto educacional. Ele construiu um feudo medieval no Minecraft. A ideia é simples: usar o jogo como ferramenta para ensinar e aprender sobre o feudalismo de um jeito mais visual, envolvente e acessível.
O jogo desenvolvido por Rattes é bastante lúdico e tem com uma vantagem muito importante da linguagem Minecraft: trata-se de um cenário de baixo estímulo visual. Um jogo de baixo estímulo visual é aquele que apresenta poucos elementos visuais chamativos, como cores muito fortes, luzes piscantes, animações rápidas ou mudanças constantes de cena. Em vez disso, esses jogos costumam ter visual mais calmo, simples, estático ou com movimentos suaves, permitindo que a criança se concentre mais no conteúdo, na lógica ou na interação proposta.
O baixo estímulo não significa cenários toscos, pouco imaginativos e nem muito menos chatos. Na verdade, o baixo estímulo visual aguça a imaginação e a criatividade. “O cenário que montei inclui castelo, manso senhorial, vila camponesa, moinho, ferraria, capela e outros elementos importantes da sociedade feudal”, diz Rattes.
O que é Minecraft?
Minecraft é um jogo eletrônico do tipo sandbox criado pelo sueco Markus Persson (também conhecido como “Notch”) e lançado oficialmente pela Mojang em 2011. No jogo, os jogadores exploram um mundo tridimensional feito de blocos pixelados, que representam diferentes materiais como terra, pedra, madeira, água, lava etc. É possível jogar Minecfrat em vários modos: criativo, sobrevivência, aventura, hardcore e espectador.
O jogo é muito popular entre todas as idades e é usado também em ambientes educativos para ensinar programação, arquitetura, história e lógica. Ele está disponível para diversas plataformas, como PC, consoles e dispositivos móveis. Em todas essas plataformas, rudo é feito com blocos cúbicos, e o jogador pode explorar, construir, minerar, cultivar, criar animais e enfrentar criaturas.
Minecraft e Feudalismo
Rattes gravou um vídeo bastante didático (que você pode ver um pouco mais adiante) apresentando esse feudo e comentando cada parte. A ideia, segundo o professor, é que professores, estudantes e curiosos possam usar ou se inspirar nesse material para estudar o feudalismo.
“O Minecraft tem se mostrado um recurso poderoso na educação. Ele permite que a gente explore conteúdos escolares de forma criativa e concreta. No caso da História, isso ganha ainda mais força, porque entender o passado também envolve compreender o espaço em que as pessoas viviam, como ele era organizado e como refletia relações de poder, trabalho e cultura. Ao construir e explorar esse tipo de ambiente, a aprendizagem deixa de ser só leitura ou escuta: vira experiência”, sublinha o professor, que é de Juiz de Fora, Minas Gerais.
Rattes explica que a expectativa é de que os estudantes possam usar o gameplay para visualizar o feudo e aprender, de forma lúdica e visual, os elementos constitutivos daquele período histórico. O professor também destaca que o exemplo pode ser copiado por outros professores: “a experiência pode ser replicada por docentes de história e de outras disciplinas. O Minecraft abre um mundo de possibilidades para promover interações educacionais”.
Gameplay é um termo em inglês bastante usado no universo dos videogames para se referir à experiência de jogo. Ele engloba diversos elementos que influenciam a jogabilidade, como os controles, as regras, a interação com o ambiente, os desafios e como o jogador progride. Além disso, gameplay também pode designar vídeos ou transmissões em que alguém joga e mostra como o jogo funciona, muitas vezes comentando a partida — algo bastante comum em plataformas como YouTube e Twitch.
O historiador Bruno Leal (UnB) entrega algo inovador: um livro que é, ao mesmo tempo, um guia para a seleção do mestrado em História e uma introdução ao universo do mestrando e da mestranda. Com linguagem simples, Leal explica tudo o que você sempre quis saber sobre o mestrado em História, mas teve medo de perguntar. Leia no computador, no tablet, no Kindle ou celular. Confira aqui.
O gameplay pode ser uma ferramenta muito útil para professores, especialmente aqueles que buscam novas formas de engajar os alunos e tornar o aprendizado mais dinâmico. Ao utilizar vídeos ou sessões de gameplay, o professor pode explorar conteúdos educativos presentes em jogos, promover discussões sobre tomada de decisão, resolução de problemas, narrativa, cultura, história e até mesmo ética. Além disso, jogos com propostas pedagógicas ou ambientações históricas, por exemplo, podem ajudar os alunos a compreender melhor determinados contextos, tornando o aprendizado mais concreto e envolvente por meio da interatividade e da linguagem digital com a qual muitos já estão familiarizados.
Tiago Rattes
Esta não é a primeira vez que Rattes desenvolve um jogo educacional e nem a primeira que aparece em uma matéria do Café História. Em 2020, ele foi personagem de uma reportagem nossa após desenvolver “Conselho do Rei”, um game educacional que coloca o estudante numa monarquia absolutista europeia. O jogo foi desenvolvido totalmente com formulários do Google. Na época, “Conselho do Rei” foi usado com alunos do 7º ano, mostrando que a estratégia de gamificação é uma tendência no ensino da história.
A reportagem do Café História fez muito sucesso na época, e Rattes acabou produzindo um tutorial que ensina como criar jogos de história usando apenas o formulário do Google. Você pode conferir esse tutorial em outra reportagem nossa, onde o professor conta também que aquela ideia do jogo-atividade surgiu dentro do contexto de isolamento social contra a pandemia do novo coronavírus.