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Festival de Cinema Italiano: do humor ao drama

Festival de Cinema Italiano: do humor ao drama 1

"Lo Capitano", um dos filmes do Festival (Foto: Reprodução)

Os sete filmes imperdíveis da mostra, que estarão disponíveis online de forma gratuita online a partir de 07 de novembro, nos trazem as nuances do novo cinema italiano, com temáticas que vão da leveza de um humor de classes ao drama da perda, sobre vingança ou questões éticas e filosóficas. Um spaccato que os italianos dominam com conhecida maestria. O festival ficará acessível aqui até o dia 8 de dezembro. Aproveitem!

Nata Per Te (2023)

“Nascida Para Você”, o título em português, já entrega o tema central do filme do diretor Fabio Mollo. Baseado no livro de mesmo nome de Luca Mercadante e Luca Trapanese, a obra conta a história de como Luca virou um dos primeiros pais homossexuais a adotar uma criança na Itália em 2017. Trapanese é assumidamente gay, católico e comanda uma organização dedicada a pessoas com deficiência. Seu grande sonho é ser pai de Alba, uma bebê com síndrome de down. O único obstáculo? O preconceito e a visão rígida de como uma família deve ser constituída aos olhos da lei e da religião italianas. Luca é interpretado magistralmente pelo ator Pierluigi Gigante que, com a advogada e mãe de gêmeos Teresa (Teresa Saponangelo), lutam pela igualdade de direitos entre casais, solteiros e LGBTQIA+ na adoção de crianças. Nata Per Te é comovente sem ser piegas, traz cenas lindas de afeto e certamente ninguém sairá sem derramar pelo menos uma lágrima ao assistir (mais tardar durante a passagem dos créditos finais).

Eravamo Bambini (2024)

“Éramos Crianças”, filme do diretor e roteirista Marco Martani, começa nos apresentando seus personagens de forma crua: Margherita (Lucrezia Guidone) pula de cama em cama sem parecer sentir nada, Gianlucca (Alessio Lapice) é um policial com tendências extremamente agressivas, Walter (Lorenzo Richelmy) atingiu a fama como músico, mas não parece tirar prazer de nada do que faz, nem mesmo da companhia da filha, Andrea (Romano Reggiani) é um junkie que vive de pequenos golpes e furtos, Peppino (Giancarlo Mommare) vive à sobra do pai, um senador corrupto e ambicioso que vê no filho seu sucessor, e por fim Cacasotto (Francesco Russo) o rapaz tímido que nunca abandonou seu vilarejo e sofre bullying de quase todo mundo. A conexão entre esse grupo heterogêneo de personalidades remete à uma amizade de infância e uma tragédia que marcou a vida de todos eles. Em um reencontro derradeiro do grupo, as contas do passado são acertadas. O filme trata de como a vingança, o trauma e a memória podem destruir (ou conduzir) a vida de pessoas completamente diferentes. Um pequeno thriller com uma grande mensagem.

Io, Capitano (2023)

“Eu, Capitão” é, sem dúvida, o filme mais conhecido do festival. A obra do diretor Matteo Garrone arrecadou vários prêmios internacionais, entre eles o Leão de Prata do festival de Veneza e foi o filme nomeado ao Oscar pela Itália em 2023. O drama conta a triste e dolorida jornada de dois primos, Seydou (Seydou Sarr) e Moussa (Moustapha Fall) que sonham em abandonar o Senegal e partir para a Itália. A sedução da “vida melhor” e do “sucesso” coloca os dois meninos, que sonham em ser músicos, em diversas situações de perigo e escancara o mecanismo mafioso de ludibriar pessoas esperançosas e tirar até sua última gota de sangue (muitas vezes literalmente) com a promessa do paraíso Europa. Um filme difícil de assistir, seres humanos são levados aos seus limites em busca da promessa do Eldorado. Trabalho forçado, violência, sede, fome, prisão e meios de transporte completamente insalubres são o resultado dessa viagem que mais parece um interminável purgatório. A inocência e a força de Seydou e Moussa fazem desse filme uma obra imperdível.

MIA (2023)

A relação conturbada entre um pai rigoroso e uma filha adolescente é o núcleo desse drama do diretor e roteirista Ivano de Matteo. Mia (Greta Gasbarri) tem 15 anos e está se descobrindo como mulher – sua vida gira em torno de redes sociais, maquiagens, vestidos, suas melhores amigas, meninos e festas. Sergio (Edoardo Leo) pai de Mia, não consegue compreender as atitudes e comportamentos da filha. Não raramente ambos entram em conflito, o que deixa Sergio enlouquecido e a mãe Valeria (Milena Mancini) no meio do fogo cruzado. Mia vê no namorado de 20 anos Marco (

Riccardo Mandolini) o seu primeiro amor, e ignora todos os sinais claros de um relacionamento abusivo. Sergio e Valeria não sabem como lidar com Mia e a tragédia parece anunciada. Mia é um filme clássico de conflito geracional, aqui, no caso, entre pais gen X e jovens gen Z. É um drama contemporâneo sobre a dificuldade de comunicação mesmo quando não falta amor e carinho nas relações familiares.

The Penitent (2023)

Luca Barbareschi assume a cadeira de diretor e protagoniza esse filme com roteiro do aclamado David Mamet. Charles (Luca Barbareschi) é um psiquiatra que, há pouco, se dedica também à sua religião judaica e vive na cidade de Nova Iorque. Após um incidente onde um de seus pacientes é responsável por um massacre, Charles se vê assediado pela imprensa e interrogado duramente por um procurador (Adrian Lester). Sofrendo pressões por todos os lados, Charles está à beira de um colapso nervoso e questiona todas suas decisões passadas, assim como se nega a entregar suas anotações protegidas pelo juramento de Hipócrates, apesar da imensa pressão ao qual é submetido pelo sistema judiciário norte-americano. Afirmações passadas feitas sobre homossexualidade por Charles em publicações são usadas contra ele mesmo em uma distorção midiática que se aproveita do fato de seu ex-paciente e responsável pelos crimes ser gay. O Penitente é um filme italiano fora da Itália, filmado nos EUA e em inglês, que traz para as telas a dramaturgia de Mamet que, não raramente, funciona melhor nos palcos. Mesmo assim, é um filme reflexivo e questionador.

Palazzina LAF (2023)

Aqui temos mais um caso de diretor que assume o papel de protagonista, Michele Riondino interpreta Caterino, um metalúrgico que sofre com a poluição e com a privatização de sua siderúrgica em Ilva de Taranto, na Puglia. Assim como Caterino muitos outros operários estão insatisfeitos com as condições precárias de trabalho e o comportamento do chefe Giancarlo Basile (Elio Germano), que, quando algum funcionário não segue a risca suas regras de comportamento – e isso inclui qualquer tipo de atuação sindical ou questionamento sobre os métodos adotados pela empresa – os envia para a LAF – um prédio abandonado que virou uma espécie de depósito de funcionários indesejados. Os salários continuam sendo pagos, mas o ócio é como uma prisão que corrói lentamente a mente dos envolvidos. Em busca de uma promoção e trabalho fácil, Caterino se candidata a ir para a LAF e espionar os outros funcionários em nome de Basile. Uma premissa séria (e baseada em parte em uma situação real no mercado de trabalho italiano) e permeada por um humor tipicamente escrachado e pitoresco com muito dialeto, gesticulações, situações e personagens bizarros são os elementos que fazem do filme um ótimo divertimento sem excluir a crítica social sobre privatizações.

Serviço

O 19º Festival de Cinema Italiano ocorre entre os dias 07 de novembro e 08 de dezembro de 2024 e os filmes podem ser assistidos online para todo o Brasil pela página do festival https://festivalcinemaitaliano.com

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