A professora de história Viviane Moreira desenvolveu o site “Mulheres na História”. Ele é voltado para a História das Mulheres, com foco no período Colonial.
O site é parte de seu trabalho final, “Ensinar mulheres na História: abordagens biográficas”, para o Mestrado Profissional em História, o ProfHistória, defendido na Universidade Federal de Santa Catarina, em 2018.
No trabalho, Moreira levanta críticas sobre o silenciamento das mulheres pela historiografia tradicional e propõe metodologias que podem ser desenvolvidas em turmas da Educação Básica.
Biografias e Ensino de História
O recorte cronológico escolhido por Moreira para sua pesquisa foi o Período Colonial brasileiro (1500-1822). A autora selecionou esse recorte por ser ele um período bastante abrangente e que possibilita a escolha de distintas personagens históricas em suas relações com o sistema colonial, fossem elas de colaboração, mediação ou de resistência.
A escolha pelas biografias se deu em razão das possibilidades de as alunas se identificarem com as histórias de vida das mulheres apresentadas, já que em sua maioria, os personagens históricos retratados nos materiais didáticos são masculinos.
Moreira selecionou para o site biografias de 16 mulheres que viveram durante o período colonial, ressaltando a importância de abranger mulheres indígenas, negras e brancas. A professora de história também buscou por mulheres que tivessem participado em distintos setores da sociedade colonial. Proprietárias de terras, perseguidas pela Inquisição e líderes quilombolas fazem parte do acervo construído por Moreira.
A autora afirma que as biografias possibilitam nas estudantes o entendimento de que as mulheres também protagonizaram papéis importantes na sociedade colonial brasileira. No caso das “sesmeiras”, proprietárias de terras concedidas pela Coroa, essas mulheres desempenharam a função de colaborar com os anseios de ocupação e dominação do território. Já as mulheres negras e indígenas que mantiveram seus cultos religiosos, por exemplo, sofreram fortes sanções dos tribunais do Santo Ofício, incluindo perseguições e prisões.
Em diálogo com os professores da Educação Básica, mais especificamente aqueles que lecionam em turmas do 7º ano do Ensino Fundamental, Moreira propõe um aprofundamento nos conteúdos programáticos para essa série, em articulação com as biografias. É possível trabalhar a divisão do território em sesmarias, as configurações dos engenhos de açúcar e a formação de quilombos, por exemplo, por uma perspectiva de gênero.
Moreira também sugere aos professores que utilizem autobiografias como recurso didático. Para a professora de história, essa pode ser uma forma de aproximar os estudantes dos diferentes tempos e ritmos vividos em sociedade, como o tempo de casa, da escola e do trabalho. As autobiografias possam ser registradas em diferentes linguagens, como cartas, fotografias, objetos, ou mesmo em entrevistas.
A pesquisa não se restringe à proposição de leituras de histórias de vida de mulheres, mas abrange também a articulação entre essas histórias e as trajetórias estudantis na contemporaneidade. Dessa maneira, é possível estabelecer proximidades e distinções entre os papéis sociais ocupados pelas mulheres, assim como realizar comparações entre os diversos tempos e ritmos nas temporalidades abordadas.
O acervo “Mulheres na História”
Além das biografias, o site desenvolvido por Moreira conta com textos que debatem de forma crítica a participação social das mulheres na História. A autora destaca como o feminino foi censurado, perseguido e sofreu inúmeras tentativas de submissão. No site, Moreira também indica núcleos de pesquisa em gênero e sexualidade e divulga planos de aula sobre a temática. O portal conta com diversos recursos para o aprofundamento no debate sobre gênero, que não se restringem à sala de aula. Vale a pena conferir!