Série fotográfica retrata os últimos anos da escravidão no Brasil

Instituto Moreira Salles apresenta uma série de fotografias que retrata os últimos anos da escravidão no Brasil. O material é comentado pela antropóloga e historiadora Lilia Schwarcz.
2 de maio de 2011
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O Instituto Moreira Salles (IMS) disponibilizou em seu site um material visual em boa medida inédito e que certamente despertará o interesse dos pesquisadores da história da escravidão no país. Trata-se de um conjunto de imagens que retratam o negro na sociedade brasileira do século XIX. São imagens que revelam a cosmologia da sociedade brasileira da época: escravidão, assimilação cultural, religiosidade, trabalho, trocas culturais e muitos outros aspectos históricos imanentes deste tipo de registro.

O blog do IMS convidou a historiadora Lilia Schwarcz para comentar as fotografias, pertencentes ao próprio acervo do Instituto. Em ótimo estado de conservação, as imagens são reveladoras de diversos aspectos sociais do século XIX brasileiro. No entanto, não é apenas a realidade enquadrada que chama a atenção. O olhar do fotógrafo também reflete uma intenção. Segundo o site do IMS, as fotos revelam as “contradições de um período em que o Brasil teve fotógrafos de objetivos distintos, que vão da criação de uma imagem apaziguadora da escravidão ao levantamento amplo das diferentes funções dos escravos até a Abolição”.

escravidao
Uma das fotos comentadas pela historiadora. Fonte: IMS | Divulgação

Diferente das fotos borradas e com problemas no tempo de exposição que estamos acostumados a ver, estas, no entanto, estão nítidas e em alta resolução. O volume está dividido em quatro blocos temáticos. No primeiro bloco, “Deuses e mucamas”, Schwarcz sublinha as semelhanças e disparidades nas imagens capturadas ao ar livre ou em ateliê. O que está em jogo ali é a montagem da cena: o enquadramento, os gestos, o vestuário, o penteado, as poses. Nada é fortuito. Os registros obedeciam a um ou mais objetivos. Muitos são conhecidos, outros nunca o serão. Já no segundo bloco, “O eito e a casa grande”, estão presentes fotos de Augusto Stahl, G. Gaensly e R. Lindemann, Georges Leuzinger, Henschel & Benque. Schwarcz discute as diferenças entre os retratos da mulher e do homem escravos. Os homens aparecem mais vinculados ao trabalho, enquanto as mulheres encontram representação mais variada por causa da domesticidade. As vestes são determinantes da relação com o senhor branco. Nos retratos de tipos exóticos, vê-se que são apartados da casa grande; nos de negros domesticados, que são incluídos.

No bloco 3, “Tipologia e encenação”, um dos mais interessantes, há uma série de fotos do famoso fotógrafo Marc Ferrez. Conforme explica Schwarcz, esses negros são retratados não apenas como trabalhadores da lavoura, mas como parte de um universo mais particularista. É possível observar nestas fotos uma grande falta de naturalidade. Por fim, é notável a apresentação do bloco 4, “o negro pitoresco”. Nesse último bloco, a historiadora examina imagens Victor Frond, dos anos de 1858 e 1859. São três imagens que procuram mostrar ao estrangeiro a imagem de uma escravidão amena – como se, embora ainda perdurasse no Brasil, a escravidão não fosse negativa.

Clique aqui para conferir as imagens comentadas por Lilia Schwarcz.

Bruno Leal

Fundador e editor do Café História. É professor adjunto de História Contemporânea do Departamento de História da Universidade de Brasília (UnB). Doutor em História Social. Tem pós-doutorado em História Social pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Pesquisa História Pública, História Digital e Divulgação Científica. Também desenvolve pesquisas sobre crimes nazistas e justiça no pós-guerra.

8 Comments Deixe um comentário

    • Dependendo da região no continente africano,haviam varios grupos ,e eram diferentes, algumas tribos eram de maior estatura, e em outros eram menores e há também muitas diferenças nos aspectos das aparências, haviam aqueles com um rosto mais afinalados outro com o rosto mais arredondados a tonalidade da pele.
      Tudo isso variava de acordo com a região/tribo.
      Sem falar que havia a precificação de acordo com essas características.
      Só pra citar como exemplo;os negros levados para a Nova Inglaterra(EUA), eram na sua maioria de porte maior.

      • Creio que não, Adriele Alves. Em Minas Gerais, nas regiões auríferas de Ouro Preto e Nova Lima, dava-se preferencia aos negros originários de uma nação africana, onde eles tinham baixa estatura. Isto facilitava a entrada deles no interior das minas subterrâneas. Eram conhecidos por negro-mina.

  1. Esta semana uma fäbrica de processamento de carnes foi fechada na Alemanha,porque algums dos seus trabalhadores estrangeiros que vivem muito juntos,foram contaminados com o covid.
    Sao trabalhadores romenos,que vivem em estado de escravidao,e pagam pela estadia cerca de 220 euros mes para estarem todos juntos num local nada melhor do que um estabulo para animais,alèm de terem que trabalhar muitas horas.
    Isto è escravatura,a imprensa e o governo estao a tomar atitudes contra a firma e outros locais de trabalho onde trabalham estrangeiros,e que muitas vezes nem pagos sao,e se tentao fazer alguma coisa sao postos na rua ä chuva,sem dinheiro e sem nada.
    Eu vivi esta situaçao em 1997,fui posto na rua com mais cinco colegas por querermos o nosso dinheiro,mesmo ä meia noite,ä chuva e sem dinheiro.
    Esta situaçao em 97 era com portugueses,italianos,espanhois,turcos,polacos,checos e romenos.
    Com o avançar dos anos,ficaram os mais vulneraveis,os romenos,trabalham nas colheitas dos espargos,frutas e de um modo geral na agricultura onde mais ninguèm quer trabalhar,nao teem direitos,sao escravos dos tempos modernos.
    O mesmo se passa na Espanha,por estar muito perto da costa africana,è alvo de visita de muitos magrebinos que sao apanhados e postos a trabalhar nas estufas de frutas e legumes em regime de trabalho escravo.
    Isto passa-se um pouco por todo o lado,mas aqui na Alemanha è uma situacao de longa data,porque um irmao meu tambem esteve aqui nos anos oitenta e viveu a mesma coisa.
    Sao muito poucos os que singram,eu singrei,porque nao tinha outra saìda,e os angariadores dos escravos sabem isso e usam essa arma contra nös.
    Mais oito meses e estou na reforma e posso descansar das injustiças que me foram feitas e ter alguma paz.
    O mais dificil da vida è perseverar atè ao fim nas coisas boas,sem resvalar e manter o carater sem ser afetado por quem pratica o mal.

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