A estimativa mais recente da Agência da Organização das Nações Unidas para as Migrações no Brasil aponta que, atualmente, residem no Brasil entre 150 mil a 200 mil haitianos. Muitos destes migrantes escolhem Santa Catarina como destino para recomeçarem suas vidas em busca de melhores condições e oportunidades.
Diante deste cenário, a pesquisadora Paula Vieira Parreiras Gomes construiu um site que propõe o desenvolvimento de oficinas temáticas sobre a História do Haiti, que pode ser acessado aqui. A iniciativa é o resultado da dissertação “A História do Haiti na perspectiva dos migrantes haitianos em Santa Catarina: uma proposta para o ensino de História”, defendida por Paula, em 2023, no Mestrado Profissional em Ensino de História da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). O trabalho pode ser acessado aqui.
Para elaborar as oficinas, a pesquisadora entrevistou cinco migrantes haitianos por meio da metodologia da História Oral. “O trabalho com o tema da migração haitiana, um fenômeno recente no Brasil, pode contribuir com outra narrativa migratória, além de tornar explícitas as questões históricas existentes entre nosso país e sujeitos migrantes negros”, argumenta.
O trabalho está dividido em quatro capítulos. No primeiro deles, a autora faz uma revisão bibliográfica sobre a História do Haiti, desde o período anterior à colonização, passando pelos eventos em torno da revolução haitiana e chegando a questões atuais, como os desastres naturais, a migração haitiana e os conflitos políticos contemporâneos. No capítulo seguinte é abordado Haiti no Ensino de História no Brasil. O terceiro capítulo é dedicado a discussões teóricas e metodológicas que envolvem a construção da memória e das identidades a partir da História Oral. Na parte final são apresentadas as propostas de oficinas com base nas narrativas contadas pelos migrantes entrevistados, dentre outros recursos e fontes, mobilizando diferentes estratégias metodológicas, em diversas atividades didáticas.
Novas perspectivas sobre o Haiti
As entrevistas com os migrantes resultaram na construção de mônadas, por meio das quais, emergem questões como as semelhanças e as diferenças entre a vida no Haiti e a vida no Brasil; as memórias escolares e da história haitiana desses sujeitos e as experiências com o racismo e a xenofobia em Santa Catarina. Para falar sobre esses temas, a pesquisadora entrevistou duas mulheres e três homens que residiam em Florianópolis, São José e Joinville.
“Entendemos ser possível que, por meio destas memórias, contribuamos para a desconstrução de estereótipos, indo além das descrições simplistas hegemônicas, neocoloniais, imperialistas e racistas que frequentemente encontramos nos relatos literários e históricos acerca do Haiti”, explica Paula.
As oficinas foram concebidas como um conjunto de atividades estruturadas e articuladas em torno da temática da História Haitiana e se dividem em três eixos. A oficina “Haiti Migrante” é dividida em quatro aulas e aborda o fluxo migratório haitiano no Brasil, suas características, causas e consequências, entre outros pontos. Também dividida em quatro aulas, a oficina “Conhecer Haiti” é dedicada à compreensão dos aspectos geográficos, políticos e históricos do país caribenho, inclusive seu movimento por independência. Já a oficina “Conexão Brasil-Haiti” é composta por cinco aulas e propõe a reflexão sobre as semelhanças e diferenças culturais entre os dois países e pontos de intercâmbios.
As oficinas foram pensadas para estudantes do 8º ano do Ensino Fundamental II ou Educação de Jovens e Adultos (EJA). “A partir desse movimento da construção de propostas pedagógicas em formato de oficinas para o ensino da história haitiana desenvolvemos um site também como produto e desdobramento da pesquisa, a fim de proporcionar uma ferramenta em formato de acervo digital que pode ser utilizado como suporte didático disponível para os professores e estudantes, auxiliando no ensino e aprendizagem da história haitiana contribuindo com a educação para as relações étnico-raciais”, afirma.
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