Projeto destaca aspectos regionais da ditadura militar e ajuda estudantes a ressignificarem sua cidade

O professor de história Luiz Gabriel da Silva criou um acervo digital com destaque para locais utilizados pela repressão e pela resistência à ditadura em Curitiba, além de indicações de referências para ampliar os estudos.
26 de janeiro de 2022
Projeto destaca aspectos regionais da ditadura militar e ajuda estudantes a ressignificarem sua cidade 1
Ditadura Militar no Brasil é tema importante no ensino de história. Imagem: Pixabay.

A ditadura militar (1964-1985) foi um período marcado por inúmeras violações de direitos humanos no Brasil, e desde a redemocratização o tema vem desafiando professores de história. Qual a melhor forma de abordar o assunto? Que materiais usar com os alunos? Pensando nisso, o professor de história Luiz Gabriel da Silva elaborou um site voltado para a memória da repressão e da resistência ao regime, fruto de seu trabalho final para o ProfHistória. No “Ditadura em Curitiba” podem ser encontrados lugares em que se realizaram torturas, espaços usados para organizar o enfrentamento ao regime e sugestões de roteiros que podem ser realizados com os estudantes.

Embora o acervo do site seja voltado para os desdobramentos do período autoritário na cidade, o trabalho de Silva serve de inspiração para práticas docentes em todo país. Para o autor, o foco na História Local permite que os estudantes se apropriem melhor dos conhecimentos históricos. Além disso, ao se aproximarem da história da cidade, os estudantes percebem que os processos históricos não são construídos longe deles e nem apenas pelos “grandes homens” ou “’grandes acontecimentos”, mas incluem também pessoas comuns e o próprio cotidiano.

O professor destaca na aba “Vídeos” trechos de entrevistas concedidas por pessoas que protagonizaram a resistência ao regime. Dentre elas, ex-estudantes universitários, militantes do Partido Comunista Brasileiro (PCB) e mesmo funcionários de presídios que buscaram garantir, dentro de seus limites, o mínimo de dignidade aos presos políticos que sofriam com torturas pelos militares.  

Organização

O site está organizado em 5 seções, que incluem “Locais de repressão”, “Locais de resistência”, “Roteiros históricos”, “Fontes” e “Artigos”. Nas seções dedicadas aos locais de repressão e resistência, foram produzidos textos explicativos sobre as relações daqueles espaços com o período ditatorial. Referências bibliográficas e trechos de entrevistas com pessoas que lutaram contra a ditadura estão também no acervo.

Na seção “Fontes”, o professor organizou um conjunto de pastas com documentos relacionados a acontecimentos que marcaram o período, como os movimentos de guerrilha, greves estudantis, greves de professores e recortes de jornais da época.

História Local

O site prioriza eventos e personagens regionais, o que é muito importante, já que muitos livros de história tratam o período a partir da lógica do Rio de Janeiro e de São Paulo. Assim, estudantes de outras regiões costumam se surpreender ao entrar em contato com os desdobramentos do período nos locais onde residem ou transitam.

O professor destaca que um dos principais trunfos do projeto é justamente a ênfase na História Local, pois ela gera identificação dos alunos com o tema e reforça a parceria com os professores e professoras em sala de aula. Abrir mapas da cidade, descobrir a origem de nomes que dão nomes a ruas e viadutos pelas quais elas passam, encontrar histórias de vidas de conterrâneos que lutaram pela democracia é decisivo para a ressignificação do olhar para o lugar onde vivem – espaços públicos que até então eram despercebidos ou vistos apenas como pontos turísticos ou recreativos ganham novos significados e memórias, de maneira a formar também o aluno-cidadão.

De acordo ainda com o autor, o uso das Tecnologias de Informação e Comunicação (TICs) é muito importante, pois faz com que estudantes e professores sejam parceiros de pesquisa. Essa atitude amplia os conhecimentos, sentidos e afetos das relações dos envolvidos na pesquisa com o espaço geográfico, além de aproximar os estudantes do ofício do historiador.

Thaís Pio Marques

Faz parte da equipe do Café História, onde realiza estágio voluntário. Graduada em História pela Universidade Federal Fluminense (UFF). Durante a graduação fez parte do Grupo PET Conexões de Saberes – Licenciaturas, voltado para a elaboração e desenvolvimento de Projetos pedagógicos interdisciplinares. Atualmente, organiza o perfil de Instagram “Poesia e oralidade”, onde compartilha textos breves sobre competições de poesia (slams) e seus participantes. O trabalho na rede social é
articulado aos estudos sobre História Oral e História Pública.

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